A recente polêmica em torno da presença de drones no céu do Nordeste dos Estados Unidos revelou uma intrincada rede de lacunas regulatórias, apresentando um cenário que desafia tanto os legisladores quanto o público. O aumento dos avistamentos dessas aeronaves não tripuladas gerou ansiedades e questionamentos sobre a eficácia da regulação existente, além de expor a ineficácia de um sistema burocrático que parece incapaz de lidar com um aumento significativo nas atividades aéreas, independentemente de serem inocentes ou, potencialmente, prejudiciais.
Nos últimos meses, as redes sociais foram inundadas por relatos de avistamentos de drones, provocando reações fervorosas tanto de políticos quanto do público em geral, que clamam por respostas do governo. Embora autoridades federais insistam que não há ameaça, foram constatados avistamentos de drones em pelo menos seis estados: Nova Jersey, Nova York, Connecticut, Pensilvânia, Virgínia e Ohio. Enquanto isso, prisões relacionadas a operações de drones foram realizadas em áreas restritas em Massachusetts e Califórnia.
Mas, afinal de contas, quem é o responsável por regular essas aeronaves operadas remotamente? Timothy Tenne, ex-oficial da Administração Federal de Aviação (FAA) e atual CEO da American Robotics, uma empresa que desenvolve sistemas aéreos não tripulados, salienta que nenhuma das agências de governo — seja em nível estadual, local ou federal, incluindo o Departamento de Defesa — possui todos os recursos necessários para monitorar adequadamente essas atividades. Para ele, é preciso priorizar as ameaças à segurança nacional, o que muitas vezes elimina a capacidade de gerenciar adequadamente as operações de drones.
Embora a FAA tenha trabalhado para integrar drones ao Sistema Nacional de Espaço Aéreo por quase uma década, as últimas semanas trouxeram à tona uma série de preocupações sobre a transparência e a legalidade das operações de drones. Embora muitas das observações de drones possam ser explicadas como aeronaves tripuladas ou mesmo astros no céu, as autoridades locais continuaram pressionando por mais esclarecimentos e ações do governo federal.
Atualmente, de acordo com dados da FAA, existem cerca de 789.000 registros de drones recreativos e mais de 396.000 registros de drones comerciais. Contudo, as regulamentações que os governam são relativamente novas e têm encontrado dificuldades para acompanhar o avanço da tecnologia. Tenne lembra que o interesse por essa tecnologia cresceu durante a administração do ex-presidente Barack Obama, o que gerou um forte fluxo de inovações, mas também uma série de desafios regulatórios.
Um evento marcante citado por Tenne foi o incidente em que um homem em Kentucky disparou contra um drone em 2015, colocando em evidência a fragilidade das leis que cercam a operação de drones. A FAA determinou que a ação era ilegal, mas isso também ressaltou que as regulamentações existentes não cobrem todos os aspectos das operações de drones, como questões de privacidade, segurança e responsabilidade civil.
As pequenas aeronaves não tripuladas são regulamentadas pelo 14 CFR Parte 107. Em termos simplificados, é legal operar drones na maioria dos locais, desde que respeitadas certas regras, como voar abaixo de 400 pés e evitar outras aeronaves. Além disso, a FAA estabelece restrições de espaço aéreo em determinadas áreas, como eventos esportivos, aeroportos e regiões de segurança sensível, muitas vezes atendendo solicitações de agências de segurança pública. No entanto, essa complexidade gera confusão e preocupação, principalmente entre pilotos e aqueles que buscam informações claras sobre como proceder nas operações com drones.
Lisa Ellman, sócia de um escritório de advocacia e co-fundadora da Commercial Drone Alliance, observa que há um esforço bipartidário em Washington para formular legislações que abordem essas lacunas e fortaleçam a autoridade do Departamento de Segurança Interna e do Departamento de Justiça. “Reconhecemos que há uma necessidade premente de fornecer mais informações à população americana de forma mais eficiente”, afirma Ellman, que destaca a criação de programas piloto voltados ao uso de tecnologias mitigadoras para lidar com atividades de drones suspeitas.
As recentes interações entre o público e as autoridades levantaram questões sobre a transparência das informações relacionadas aos avistamentos de drones. A FAA temporariamente fechou pistas no Aeroporto Internacional Stewart em Nova York na semana passada devido a um avistamento de drone. Além disso, vários legisladores e especialistas têm pedido por uma comunicação mais clara durante esses incidentes, já que o público não deve ser ignorado quando demonstrar preocupação. O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, assegurou que, até o momento, não houve evidências de atividades nefastas conectadas aos avistamentos de drones, mas chamou a atenção para a necessidade de maior compartilhamento de informações.
Rep. Raja Krishnamoorthi, membro do Comitê de Inteligência da Câmara, também mencionou a falta de tecnologia e recursos disponíveis para detecção de drones, assim como a ausência de regulamentações que possibilitem a resposta efetiva às atividades de drones. A responsabilização dos estados e das agências locais em relação a essas questões é fundamental, uma vez que as operações dentro das fronteiras de um estado são tratadas por forças de segurança locais, enquanto questões federais podem ser transferidas para o FBI ou para investigações criminais.
Os especialistas ouvidos pela CNN enfatizam que, apesar da percepção de risco, não há motivo preocupante para alarme neste momento; no entanto, a necessidade de maior transparência é clara. O desafio, como afirmam, envolve o cumprimento de procedimentos legais que cercam a operação de drones, protegendo tanto a segurança dos operadores quanto do público. Essa cautela pode ser a razão pela qual informações detalhadas ainda não foram compartilhadas com a população.
É evidente, portanto, que a integração de drones no espaço aéreo traz tanto oportunidades quanto desafios. Enquanto novas tecnologias continuam a emergir, é essencial que um conjunto robusto de regulamentações se desenvolva para garantir que essa evolução ocorra de maneira segura e responsável. Este é um chamado à ação tanto para legisladores quanto para a sociedade civil, que devem colaborar para que a inovação seja equilibrada com a segurança pública.