O renomado diretor Joe Wright já é conhecido por suas adaptações cinematográficas de obras literárias clássicas. No entanto, sua mais recente empreitada, a série M. Son of the Century, promete ser muito mais do que uma simples representação de um período turbulento da história da Europa. A série de oito episódios aborda a ascensão de Benito Mussolini, o polêmico ditador italiano, numa narrativa que visa conectar o passado ao presente. A atmosfera apresentada na série não revela apenas a história de Mussolini, mas também impulsiona um debate sobre as ideias e movimentos que estão novamente ressurgindo na sociedade contemporânea.

Na primeira cena instigante da série, atentamente dirigida por Wright, o ator Luca Marinelli incrivelmente encarna Mussolini, sussurrando ao público com um ar conspiratório: “Siga-me, você também vai me amar. Vou fazer de você um fascista.” Esta provocação estabelece o tom da série, que não se limita a apresentar apenas os eventos históricos, mas busca instigar uma reflexão crítica sobre o carisma e a manipulação de líderes autoritários.

A narrativa se desenrola ao longo de uma década, retratando as intrigas políticas e a transição de Mussolini de um jornalista marginal para a liderança de um novo movimento político. A adaptação é baseada no primeiro volume do bestseller de Antonio Scurati, que descreve como Mussolini usou métodos extremos, incluindo violência, para consolidar seu poder. A série não apenas informa, mas também usa técnicas visuais inovadoras para conectar os espectadores à intensidade daquela época, apresentando uma história que se eleva à categoria de um thriller psicológico.

Ao contrário de produções que apenas relatam fatos históricos, a abordagem de Wright é imersiva e visceral. Ele recorre à experimentação estética inspirada no movimento futurista italiano, utilizando cortes de montagens de notícias da época com performances dramáticas. A música hipnótica de Tom Rowlands, parte da dupla britânica Chemical Brothers, se entrelaça com as ações na tela, criando uma atmosfera quase surreal que mantém o público na ponta da cadeira, reflexionando sobre o que se passa diante de seus olhos.

Wright confessa que a escolha de mesclar a música techno com a representação de Mussolini pode parecer anacrônica, mas serve a um propósito significativo: destacar a modernidade e a crescente influência de ideologias extremistas nos dias de hoje. “A música dos Chemical Brothers incomum ao tema, mas traz a energia dos futuristas. Muitos dos pais da música house e techno foram inspirados pelos futuristas. Essa combinação estética é uma forma emocionante de contar nossa história”, explicou o diretor.

A série faz uma provocação direta ao espectador, refletindo sobre como figuras carismáticas que oferecem soluções simplistas a problemas complexos podem atrair multidões, um fenômeno que ressoa fortemente na atualidade política global. Uma de suas falas mais impactantes, “Vamos fazer a Itália. Grande. Novamente!”, não gostaria de fazer referência a uma famosa frase de um ex-presidente americano, mas levanta questões cruciais sobre as ideias que validam tais tentativas.

Com a produção realizada em colaboração com Fremantle, Sky, Cinecittà, e diversas outras, a série está programada para estrear na Sky na Europa na primavera de 2025, embora uma data de lançamento nos Estados Unidos ainda não tenha sido confirmada. Como toda grande obra, M. Son of the Century denuncia a tentação de romanticizar figuras históricas, levantando questões que poderiam ser julgadas como polêmicas, mas necessárias. Afinal, o objetivo da obra não está apenas em contar, mas em provocar, refletir e, quem sabe, alertar. Assim, a jornada de um dos líderes mais controversos da história da humanidade acaba por ser uma reflexão sobre o presente e suas vertiginosas reviravoltas.

Através desta série, Joe Wright não apenas honra a complexidade da história, mas também nos convida a participar de uma conversa vital sobre a política e a influência dos líderes em nossa realidade atual. Assim, o espectador é confrontado não apenas com a figura de Mussolini, mas também com suas próprias convicções, dúvidas e a necessidade de se manter alerta frente aos movimentos que podem novamente nos levar a situações semelhantes.

Imagem de Luca Marinelli em ‘M. Son of the Century’

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *