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A personagem Shelly Gardner, interpretada por Pamela Anderson no drama nebuloso de Gia Coppola intitulado The Last Showgirl, não será a garota sexy de ninguém. Na sua essência, Shelly se vê apenas como uma dançarina adornada com brilhantes e penas, fazendo parte de uma burlesca de Las Vegas, tão icônica quanto em declínio. Em uma auditoria humilhante para outro espetáculo lascivo em Las Vegas, a personagem, uma loira voluptuosa e sonhadora de 57 anos, se apresenta diante de um produtor oportunista, interpretado por Jason Schwartzman, que corta sua performance de maneira grosseira.
“Você foi contratada no Razzle Dazzle porque era bonita e jovem há muito tempo”, ele a diz. “Mas vamos ser honestos. Você foi contratada porque era sexy e jovem. Não sei como ajudá-la se… você não entende que não é isso que você está vendendo mais, querida. Próximo!” Essa breve troca de palavras ilustra bem a problemática que várias mulheres em Hollywood enfrentam à medida que avançam em idade em uma indústria que valoriza exageradamente a juventude e a desejabilidade.
Shelly se junta a uma nova onda de protagonistas femininas maduras explorando a pressão que sentem ao envelhecer em um cenário cinematográfico que valoriza a aparência jovem. Filmes como The Substance, The Last Showgirl, Babygirl, Nightbitch e Maria tratam criativamente de temas relacionados ao envelhecimento e à luta pela relevância sexual. Este fenômeno parece emergir em um momento onde os movimentos sociais, como o #MeToo, trazem à tona a discussão sobre a autonomia feminina e sexualidade em um espaço que historicamente favoreceu os homens.
Essas produções cinematográficas formam um movimento que vai além do simples entretenimento; são histórias pessoais que, por meio de lentes femininas, comentam criticamente as realidades sociais. Elas se perguntam: Como mantemos poder quando nossos corpos — a nossa principal moeda — estão mudando? E é um fracasso tentar recuperar esse poder ao invés de aceitar a nova realidade?
As nomeações das atrizes principais desses filmes nas premiações, como o Globo de Ouro, reforçam a relevância dessas narrativas e a crescente aceitação de histórias focadas em mulheres acima da média etária. Na realidade, as produções de Babygirl Cinema não hesitam em criticar suas protagonistas, que frequentemente enfrentam uma crise de identidade ao lidarem com um poder que se esvai enquanto a sociedade as marginaliza devido à sua idade.
Na busca por recuperar esse poder, algumas dessas mulheres são mostradas buscando alternativas drásticas para reaver seu status. O filme The Substance, de Coralie Fargeat, apresenta Demi Moore como uma estrela de aeróbica forçada a buscar longevidade de carreira através de um remédio misterioso que permite a ela dividir sua vida com uma versão mais jovem e perfeita de si mesma, enquanto ela própria se torna algo que a sociedade já prevê para mulheres da sua idade.
A protagonista de Babygirl, Romy (Nicole Kidman), recorre ao prazer sexual não somente pela simples atração. Ela busca reafirmar seu status ao entrar em relações tabus com um jovem subordinado, explorando sua própria dinâmica de poder em um ambiente corporativo.
Em contraste, The Last Showgirl nos apresenta a personagem de Shelly refletindo sobre seus melhores dias, quando o cassino era um lugar em que reinava e onde suas habilidades eram valorizadas. Outros filmes nesta temporada também brincam com a ideia de que as mulheres estão passando por um momento de crise em suas carreiras e, ao mesmo tempo, desejam resgatar a chama da sua juventude que parece apagar-se.
Na biografia mais pessimista de Maria, interpretada por Angelina Jolie, a operista é mostrada lidando com as consequências de sua vida, de sua juventude forçada na prostituição e cicatrizes que permanecem ao longo dos anos. Da mesma forma, Nightbitch lida com as dificuldades de uma mulher que, ao se tornar mãe, é incapaz de reconquistar seu antigo espaço no mundo da arte contemporânea. A mudança de sua identidade gera um conflito peculiar em sua narrativa.
Essas histórias em geral contrapõem a ideia de que o envelhecimento feminino é um desastre e questionam as suas repercussões sociais, não apenas pessoais. Certamente, o retrato atual das mulheres mais velhas em papéis centrais destaca uma nova abordagem à sexualidade e ao empoderamento feminino, fazendo com que novos caminhos estejam sendo traçados na indústria do entretenimento.
Entretanto, em meio a esse foco no envelhecimento, alguns filmes fazem um contrapeso. Anora, de Sean Baker, segue Ani (Mikey Madison), uma stripper que exerce sobre seu corpo um controle poderoso, utilizando sua aparência como arma política e econômica, destacando que, apesar de tudo, a carne ainda é o bem mais precioso em questão de poder na sociedade.
Essas narrativas oferecem uma reflexão sobre o papel da mulher no cinema contemporâneo, à medida que a indústria começa a desafiar noções antigas de sexualidade, desejo e poder, mostrando que mulheres com mais de cinquenta anos estão tão vivas e relevantes quanto qualquer jovem atriz. A narrativa de reapropriação dessas mulheres não é apenas sobre a perda; trata-se de navegar numa nova realidade em um mundo que ainda tem muito a aprender sobre aceitação e valorização da vida em todas as suas fases.
Essas histórias começam a trazer um novo tom de esperança, não apenas para as idosas na tela, mas para todas as mulheres que lutam por espaço e roteiro em um espaço que, por muito tempo, foi encoberto por ideias de juventude e beleza. Portanto, estas obras cinematográficas não só estão mudando o cenário do entretenimento, mas também abrindo caminho para diálogos mais amplos sobre a sexualidade feminina e a sua existência em todas as suas idades.
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