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No início do século 19, o mundo testemunhou uma catástrofe natural que mudaria o curso da história: a erupção do Monte Tambora, na Indonésia, em 1815. Essa explosão foi a mais poderosa já registrada, lançando para a atmosfera uma enorme nuvem de partículas refletoras de luz solar, causando um resfriamento global que resultou em um fenômeno conhecido como “ano sem verão”. Os resultados foram devastadores: uma queda drástica nas temperaturas globalmente, falhas nas colheitas, aumento da fome, espalhamento de pandemias e um número trágico de mortes que ultrapassou as dezenas de milhares.

Mais de 200 anos se passaram desde essa erupção monumental, mas a ameaça de outra atividade vulcânica significativa permanece. Cientistas indicam que estamos à beira de uma nova erupção massiva, um evento que pode não apenas mudar o clima global, mas também subverter a vida como conhecemos hoje.

O professor Markus Stoffel, especialista em climas da Universidade de Genebra, observa que a questão não é se ocorrerá uma nova erupção mas quando. Evidências geológicas revelam uma chance de 1 em 6 de uma erupção massiva acontecer neste século. As implicações de tal evento num mundo que já enfrenta uma crise climática são profundas e alarmantes.

Neste contexto, um novo cenário se apresenta: a próxima erupção irá ocorrer em um mundo mais populoso e, significativamente, aquecido pela ação humana. O resfriamento global causado por uma erupção desses moldes poderia causar um “caos climático”, segundo Stoffel. Com a humanidade sem um plano claro para mitigar as consequências, a situação torna-se ainda mais preocupante.

As erupções vulcânicas desempenham um papel crucial na formação do nosso planeta, ajudando a criar continentes, influenciar a atmosfera e alterar o clima. Ao expelirem uma combinação de lava, cinzas e gases, incluindo o dióxido de carbono, as erupções podem ter impactos climáticos significativos. No entanto, dos gases que as erupções liberam, os cientistas prestam especial atenção ao dióxido de enxofre. Quando um vulcão massivo entra em erupção, ele pode liberar dióxido de enxofre em camadas altas da atmosfera, formando aerossóis que refletem a luz solar de volta ao espaço, resfriando a Terra.

O caso do Monte Pinatubo, que entrou em erupção em 1991, exemplifica esse fenômeno, liberando aproximadamente 15 milhões de toneladas de dióxido de enxofre que resultaram em um resfriamento temporário do planeta em cerca de 0,5 graus Celsius. No entanto, os vulcões mais antigos, como o Tambora, não têm um registro claro em termos da liberação de gases, dificultando as previsões e estudos sobre suas interações climáticas e os possíveis efeitos de novas erupções.

Nossos conhecimentos sobre as erupções vulcânicas passadas são limitados, e os cientistas dependem de dados indiretos, procurando pistas em núcleos de gelo e anéis de árvores que funcionam como cápsulas do tempo, oferecendo indícios sobre as condições atmosféricas anteriores. Os dados históricos sugerem que grandes erupções nos últimos milhares de anos refrigeração temporária do planeta em média de 1 a 1,5 graus Celsius.

A erupção do Monte Tambora, por exemplo, fez com que as temperaturas médias globais caíssem pelo menos 1 grau Celsius. Com fenômenos como este, o impacto sobre a segurança alimentar global poderia ser devastador. O resfriamento resultante pode arruinar colheitas em regiões agrícolas cruciais, desencadeando potenciais crises alimentares e disputas políticas em consequência da escassez de recursos. Análises recentes indicam que uma queda de temperatura de apenas 1 grau Celsius pode afetar regiões inteiras, elevando a possibilidade de conflitos internacionais em busca de recursos.

A imprevisibilidade da erupção vulcânica

Enquanto o mundo enfrenta o aquecimento global, uma periodização de resfriamento pode parecer uma solução, mas os cientistas alertam que uma erupção massiva não traz soluções para a crise climática existente. Ao contrário, pode resultar em condições ainda mais severas do que aquelas que já enfrentamos.

Um alerta preocupante é feito por especialistas que alertam sobre a possibilidade desse fenômeno ocorrer em áreas que há muito não experimentam erupções, como Yellowstone, nos Estados Unidos, ou mesmo no altamente ativo arquipélago indonésio. A incerteza quanto ao momento e ao local da próxima erupção torna a situação ainda mais tensa.

Embora seja impossível prever exatamente que erupção ocorrerá ou quando, é fundamental que os especialistas comecem a trabalhar em cenários de pior caso, discutindo planos de evacuação, auxílio e segurança alimentar. A conscientização e a preparação podem reduzir o impacto devastador que essas erupções podem provocar.

Enquanto alguns minimizam a probabilidade de uma nova erupção significativa, é importante lembrar que os dados indicam que essa possibilidade, ainda que pequena, não é desprezível. O mundo precisa estar preparado para enfrentar a próxima grande erupção vulcânica, uma vez que estamos apenas começando a entender as dimensões dos impactos potenciais.

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