A vitória de Donald Trump em 6 de novembro deixou muitos em Hollywood, que o presidente eleito chamou de “liberal”, surpresos e em profunda reflexão sobre a desconexão com os eleitores americanos. O sentimento de descontentamento cresceu rapidamente entre os artistas e ativistas do setor, que não se renderam. Em vez de se entregarem ao desespero, muitos passaram a avaliar a situação e a formular novas estratégias para suas campanhas e ativismo social.
Ativistas de Hollywood voltados para a esquerda não estão se entregando à desistência. Apesar do choque inicial, alguns representantes da indústria preveem uma mudança de foco. Ao invés de uma resistência ampla contra um presidente que venceu a votação popular de forma apertada, os defensores do setor estão se preparando para concentrar seus esforços na defesa de políticas e legislações progressivas e favoráveis aos democratas, concentrando-se sobretudo em questões locais e estaduais. A abordagem, segundo eles, será mais micro do que macro, como afirma Hannah Linkenhoker, diretora de engajamento da firma de advocacia Johnson Shapiro Slewett & Kole. “O trabalho que muitos de nós estamos buscando se concentra na proteção de comunidades vulneráveis e na luta pela preservação de direitos e políticas ameaçadas”, acrescenta.
Essa mudança de perspectiva é evidenciada quando observamos o movimento pelo direito ao aborto, que começou a ganhar força em nível estadual. Ao contrário da abordagem macro utilizada anteriormente, a estratégia será mais local, uma vez que as organizações de Hollywood, como a Jane Fonda Climate PAC, têm se empenhado em apoiar candidatos em eleições de nível inferior que representam uma barreira contra as políticas do governo Trump. A perspectiva é de que o ativismo se concentre em questões como mudanças climáticas, direitos reprodutivos e imigração. Com Trump prometendo reverter ações do governo relacionadas ao clima e reafirmar o controle sobre os direitos de aborto, a presença da indústria será crucial nas lutas políticas que virão.
À medida que a indústria se ajusta, figuras proeminentes de Hollywood, como Mark Ruffalo e outros, estão colocando suas influências a serviço em causas locais. Ações concretas na defesa da inclusão de direitos através de projetos de lei eficiente nas cidades e estados serão cruciais e o apoio de celebridades será parte vital desse processo. A luta pela preservação dos direitos, segundo os defensores da justiça social, deve ser feita em todos os níveis, especialmente agora que o setor está sob a pressão da recente administração presidida por Trump.
O caminho a seguir fica claro: enquanto os cineastas e artistas de Hollywood se voltam para os níveis locais para implementar mudanças positivas e eficazes, o impacto que podem ter em suas respectivas comunidades nunca foi tão crítico. Como disse Natalie Tran, diretora executiva da CAA Foundation, a luta para proteger o aborto é um bom exemplo desse foco regional. “Veremos mais um foco nos níveis estadual e local. O movimento de proteção ao aborto já começou a se concretizar lá”, afirma Tran. Por isso, a cada nova habilidade adquirida, cada novo ato de resistência, as vozes de Hollywood permanecem vivas e resilientes em tempos de desafios sem precedentes.
A luta está longe de terminar, e com um novo ciclo eleitoral se aproximando, muitos em Hollywood começarão a olhar para dentro e ao seu ambiente mais próximo. As doações a políticos locais que buscam mudança real e um futuro melhor são emblemáticas do desejo da indústria de se reconectar com os cidadãos e participar ativamente da governança de suas cidades. Como mostrou a recente eleição para a Câmara Municipal de Los Angeles, onde vários comediantes se uniram para apoiar candidatos comprometidos com a justiça social, a resistência está se fortalecendo à medida que as vozes da comunidade ecoam mais forte. O encorajamento mútuo entre colegas artistas será essencial neste esforço, já que muitos deles reconhecem a responsabilidade de se envolver e provocar mudanças em todos os níveis da política americana.
Com um futuro incerto pela frente, a indústria do entretenimento continua firme em sua convicção de que o engajamento cívico e a solidariedade são fundamentais para enfrentar as adversidades que se avizinham. A própria estrutura da resistência está mudando, se transformando em uma força potencialmente mais poderosa e focada a cada dia. O que os críticos viram como um estado de desespero se revela, na verdade, uma nova forma de comprometimento e colaboração para a luta contínua pelos direitos e pelas vozes das comunidades que até agora permaneciam à margem do debate. Flauts na resistência podem descer ao coração dos ativistas de Hollywood em sua luta contra o que acreditam ser uma nova era de descontentamento.
O tempo dirá se essas novas abordagens terão sucesso, mas uma coisa é certa: as influências e figuras icônicas de Hollywood não estão dispostas a se calar ou a ser ignoradas. O que resta em sua jornada é a determinação de se unir em prol de um futuro melhor, onde a paz, a justiça e a igualdade sejam prioridades — não apenas lemas de campanha, mas realidades tangíveis para todos.
Este artigo foi contribuído por Rebecca Keegan e foi publicado originalmente na edição de 4 de dezembro da revista The Hollywood Reporter. Para receber a revista, clique aqui para se inscrever.