O cinema frequentemente encontra sua mais rica inspiração na vida real, e o novo thriller erótico Babygirl, dirigido por Halina Reijn e estrelado por Nicole Kidman, é um testemunho dessa intersecção entre a imaginação artística e as experiências pessoais. Em uma recente entrevista à W Magazine, Reijn compartilhou uma intrigante história que remonta à sua juventude, revelando que uma das cenas mais sensuais do filme não é apenas ficção, mas uma recordação de sua própria vida. Esse relato levanta questões sobre o desejo, a vulnerabilidade e as complexidades das interações humanas que, quando trazidas para as telas de cinema, podem tanto fascinar quanto provocar reflexões profundas no público.
Em Babygirl, a personagem de Nicole Kidman, Romy, é uma CEO de sucesso, uma mulher que aparenta ter a vida perfeita como esposa e mãe, mas que durante um encontro descontraído em um bar, aceita um copo de leite de um estagiário bem mais jovem, Samuel, vivido por Harris Dickinson. A cena, que causa um estranhamento entre os colegas presentes, destaca o contato visual entre Romy e o estagiário, revelando uma tensão que o público se vê compelido a explorar. Halina relata que essa aceitação de um copo de leite em sua própria vida, décadas atrás, foi algo que a surpreendeu e a fez refletir sobre a audácia e a sensualidade que podem existir em momentos simples. “Eu bebi, e ele simplesmente saiu”, comentou Reijn, recordando-se do jovem ator que teve a coragem de lhe oferecer essa bebida, uma ação que a deixou tanto intrigada quanto amused.
O filme não é apenas um estudo de personagens, mas uma obra que busca quebrar barreiras nas representações de sexualidade no cinema contemporâneo. Reijn, que também é roteirista e co-produtora da produção, enfatizou a importância de uma coreografia adequada para as cenas íntimas. No seu entendimento, assim como em cenas de luta que requerem coordenação de manobras para evitar lesões, a mesma atenção deve ser aplicada nas sequências de sexo, assegurando que todas as partes envolvidas se sintam confortáveis e seguras. Ela afirma que quando há um plano coreografado, os atores conseguem se sentir mais “livres” e imersos no que estão representando na tela.
“O engraçado é que os dias em que filmamos cenas de intensidade são muitas vezes os mais claros”, disse Reijn. “As pessoas vêm para o set super preparadas, e eu queria que essas cenas fossem incrivelmente quentes e divertidas, mas também autênticas”. Essa busca pela autenticidade se reflete na forma como a sexualidade é retratada, longe da abordagem idealizada que dominou Hollywood por décadas. Para a diretora, a sexualidade é um processo dinâmico, que não segue roteiros previsíveis, mas sim flui de maneira mais verdadeira.
No entanto, a busca por um coadjuvante que pudesse equilibrar a força e a vulnerabilidade de Kidman não foi uma tarefa simples. Reijn confessou que ficou em pânico ao perceber que precisava de um ator que não só roubasse a cena da icônica atriz, mas que pudesse também se mostrar um par digno ao seu talento. Foi então que, ao assistir a atuação de Harris Dickinson em Triangle of Sadness, ela percebeu que havia encontrado a combinação perfeita: “Ele é vulnerável, mas ao mesmo tempo tem uma presença marcante”, descreve Reijn, elogiando a multidimensionalidade do jovem ator.
Além da trama principal, Babygirl explora questões contemporâneas relacionadas ao desejo e à idade. Em discussões sobre a discrepância etária entre os dois personagens principais, Reijn levanta um ponto crucial, ao afirmar que a sociedade frequentemente considera incomum a diferença de idade em relacionamentos onde a mulher é mais velha. “Se vemos um filme em que o ator masculino é da mesma idade que a atriz, geralmente achamos isso bizarro. O que é insano”, refletiu Reijn. A atriz Nicole Kidman, em sintonia com essa visão, destacou como as mulheres são frequentemente relegadas ao “esquecimento” sexual após certa fase de suas vidas e a importância de trazer esses temas à tona.
“Do momento em que li a história, eu pensei: ‘Sim, essa é uma voz que eu nunca vi, esse é um lugar no qual eu não estive antes’”, compartilha Kidman, enfatizando a relevância de sua personagem, que embora esteja em uma posição de poder, questiona suas verdadeiras intenções e desejos. Essas reflexões tornam Babygirl não apenas um filme erótico, mas uma jornada introspectiva sobre autodescoberta e liberdade.
Com um elenco que inclui grandes estrelas como Antonio Banderas, Babygirl já está em cartaz nos cinemas, promovendo uma reflexão sobre a sensualidade, o desejo e os meandros das relações intergeracionais. A obra nos convida a olhar para as complexidades do ser humano e a explorar o que significa ser verdadeiramente livre em um mundo onde a linha entre o amor, o desejo e a vulnerabilidade é frequentemente nebulosa.