O recente voto do parlamento da Coreia do Sul para impeachar o presidente Yoon Suk Yeol representa o clímax de um choque político que eclodiu após sua surpreendente decisão de impor a lei marcial no que é uma das democracias mais vibrantes da Ásia. Essa decisão não apenas desencadeou semanas de protestos, mas também provocou uma turbulência política de grandes proporções, culminando na suspensão de Yoon do cargo. A votação foi marcada por um cisma profundo dentro de seu partido governante, onde ao menos 12 de seus membros apoiaram o impeachment após a recusa de Yoon em renunciar.
No entanto, o futuro de Yoon permanece distante de um destino selado. Atualmente, ele aguarda a deliberação do Supremo Tribunal sobre a moção de impeachment e sobre se ele será formalmente removido da presidência ou restabelecido em seu cargo. Esse processo pode se estender por até seis meses, tornando a situação ainda mais incerta. Adicionalmente, Yoon está impedido de deixar o país e enfrenta uma série de investigações, incluindo potenciais acusações que o qualificam como líder de uma insurreição – um crime que pode levar à prisão perpétua ou até mesmo à pena de morte.
Impeachment: um longo caminho pela frente
A votação do impeachment no sábado foi recebida com júbilo por parte dos manifestantes que se reuniram em frente ao parlamento. Contudo, essa ação é apenas o primeiro passo em um processo que promete ser longo e desafiador para uma possível destituição formal de Yoon. A próxima ação recai sobre o Tribunal Constitucional, que tem até180 dias para decidir se apoia ou rejeita a moção de impeachment. Enquanto isso, o primeiro-ministro Han Duck-soo está atuando como presidente interino.
O tribunal se reuniu pela primeira vez para discutir o caso de Yoon na segunda-feira e anunciou planos para realizar a primeira audiência preliminar no dia 27 de dezembro. O tribunal já se comprometeu a tratar o caso como uma “prioridade máxima”, entre outras moções de impeachment que a oposição tem pressionado contra a administração de Yoon, que afetam ainda o ministro da Justiça, procuradores e outros altos funcionários.
Historicamente, o processo de impeachment na Coreia do Sul já viu casos significativos. Em 2016, o Tribunal Constitucional levou três meses para decidir pela destituição de Park Geun-hye, a primeira mulher a ocupar a presidência do país, que foi posteriormente sentenciada a 20 anos de prisão por corrupção e abuso de poder. Em comparação, seu antecessor, Roh Moo-hyun, sobreviveu ao impeachment em 2004, quando o tribunal constitucional rejeitou a moção após dois meses de deliberação.
A nova batalha do presidente: insurreições e investigações
Embora Yoon esteja suspenso de exercer suas funções, ele ainda não foi oficialmente removido do cargo, o que significa que ele detém imunidade presidencial em relação à maioria das acusações criminais, exceto em casos de insurreição ou traição. As investigações estão em andamento, envolvendo a polícia, o parlamento e um corpo anti-corrupção que lançaram investigações separadas contra ele por alegações de traição relacionadas ao incidente da lei marcial.
Uma equipe de investigação conjunta, incluindo a polícia, uma agência anti-corrupção e o Ministério da Defesa, acusou Yoon de ser o “cabeça de uma insurreição” e de abusar de seus poderes. Na segunda-feira, a equipe tentou notificar Yoon para que ele comparecesse ao interrogatório na quarta-feira, mas o escritório presidencial se negou a atender à solicitação. Além disso, Yoon não compareceu a um chamado dos promotores, que conduzem uma investigação separada sobre sua declaração de lei marcial. Essa semana, as autoridades expressaram intenções de detê-lo, caso as condições se concretizem.
A situação se agrava ainda mais com a tentativa da polícia sul-coreana de invadir o escritório presidencial, que foi barrada. Além disso, os promotores conseguiram deter o ex-ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, que teria recomendado a lei marcial, e que, após o escândalo, tentou acabar com a própria vida em custódia. A pressão sobre Yoon e a instabilidade que sua administração enfrenta remetem a um clima de incerteza, que poderá definir a futura trajetória do país e sua democracia.
A questão da destituição do presidente Yoon não é apenas uma questão interna, mas também um reflexo da saúde da democracia sul-coreana, que, se não cuidadosamente gerenciada, poderá ver repercussões ao longo do tempo em sua estabilidade política. As próximas semanas e meses serão cruciais para os cidadãos da Coreia do Sul e para a própria administração Yoon, enquanto os desdobramentos de ambas as situações – impeachment e insurreição – se entrelaçam e moldam um futuro incerto.
Assista ao vídeo original no CNN: Yoon Suk Yeol: O presidente em crise diante do impeachment e insurreição.