A Suprema Corte dos Estados Unidos está prestes a entrar em um período que muitos consideram ser sua “era adolescente”, com uma série de casos que prometem impactar significativamente a vida dos jovens. De regulamentações sobre aplicativos populares como o TikTok, a questões relacionadas ao acesso a produtos de vaping e cuidados que envolvem a identidade de gênero, os desafios jurídicos que se aproxima podem moldar o futuro para a nova geração. No centro desse debate, jovens como Kailey Corum, uma estudante de ensino médio da Virgínia, expressam suas preocupações sobre a interpretação legal que pode afetar diretamente suas vidas cotidianas.

Kailey está atenta aos perigos do TikTok e reconhece suas utilidades, mas também é cautelosa em relação aos esforços do governo para restringir o acesso ao aplicativo. “Não confio totalmente na decisão da Suprema Corte, mas não há muito que eu possa fazer”, afirmou ela durante uma visita ao tribunal, refletindo a perspectiva de muitos adolescentes que se sentem impotentes perante decisões que moldam o ambiente digital em que crescem.

Ao longo dos próximos meses, a Suprema Corte enfrenta uma série de casos que não só impõem limites ao que os jovens podem acessar, mas que também questionam o que é considerado aceitável no contexto social e cultural dos jovens norte-americanos. Com 17% dos adolescentes utilizando aplicativos de forma quase constante, de acordo com pesquisas recentes, a decisão sobre o futuro do TikTok será crítica não apenas para os usuários do aplicativo, mas para a influência digital que molda suas perspectivas e interações sociais.

Os desafios não param por aí. A Suprema Corte também vai decidir sobre um projeto de lei que resulta em um potencial banimento do TikTok, algo que ocorreu devido a preocupações de segurança nacional, em meio a um clima de intensa polarização política. Este projeto de lei, que poderia permitir que o TikTok continuasse operando nos Estados Unidos, requer que sua subsidiária americana se separe completamente de seu controle chinês, levantando questões sobre as fronteiras entre o que é considerado segurança nacional e o direito à livre expressão.

A Falta de Voz dos Jovens em Temas Que os Afetam Diretamente

Apesar de as decisões da Suprema Corte possuírem impactos diretos sobre a vida dos jovens, muitos especialistas apontam que as considerações sobre a sua saúde mental e bem-estar não estão sendo suficientemente abordadas nas discussões. Estudos feitos por pediatras em relação aos danos do uso de mídias sociais por adolescentes foram deixados de lado, com o enfoque dominante nas preocupações relacionadas à segurança nacional. O próximo prazo para a implementação do banimento do TikTok está agendado para janeiro de 2025, mas como a Corte analisará os impactos nas vidas do público jovem é uma questão ainda aberta.

Leslie Y. Garfield Tenzer, professora de Direito na Pace University, enfatiza que a Corte não está levando em consideração as necessidades e impactações que a decisão técnica terá sobre os pares adolescentes. “Embora todos nós pensemos no TikTok como essencial para adolescentes e a criação de conteúdo, o motivo do banimento não está relacionado ao que esse conteúdo representa socialmente, mas à preocupação de manipulação por parte da República Popular da China”, afirma ela.

Outro exemplo que se destaca na atual agenda da Suprema Corte diz respeito à legislação da Tennessee, que proíbe tratamentos de afirmação de gênero para menores. Os argumentadores no caso têm se concentrado no papel dos legisladores estaduais em definir o que é melhor para os jovens, ao invés de ouvir diretamente as vozes daqueles que são mais afetados por essas decisões.

A Desilusão dos Jovens com as Instituições Governamentais

Pesquisas recentes indicam um aumento da desilusão entre os jovens em relação ao governo. Um estudo de opinião da Marquette Law School revelou que apenas 44% dos jovens entre 18 e 29 anos têm uma visão positiva da Suprema Corte, uma porcentagem preocupante quando comparada a outros grupos etários. Os jovens, como expressou Diana Thu-Thao Rhodes, vice-presidente da Advocates for Youth, estão experimentando crescente desconfiança em relação a instituições governamentais.

Essa desilusão frequentemente resulta da percepção de que decisões críticas sobre suas vidas são tomadas sem que suas opiniões sejam consideradas. Por exemplo, a sensação de poder e voz ausente pode levar muitos adolescentes a gerenciar seu uso de TikTok de maneiras que evitem preocupações sobre privacidade, apesar dos riscos evidentes. Spencer Rahim, outro estudante da Virgínia, comentou que muitos adolescentes encontram formas de contornar esses desafios, mas afirmou: “Eles devem ouvir as pessoas um pouco mais.”

À medida que a Suprema Corte se direciona para essa “era adolescente”, onde decisões que moldam a vida das novas gerações são cada vez mais comuns, a importância de incluir as vozes jovens se torna mais evidente. Com a crescente desconfiança nas instituições e um cenário político tumultuado, o futuro das crianças e adolescentes pode depender não apenas das decisões jurídicas, mas também da forma como esses jovens são ouvidos e representados no discurso político e social. Afinal, não estamos apenas lidando com questões legais, mas também com o futuro de uma geração.

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