Em um relato que mescla tradição, cura emocional e gastronomia, a escritora Juliet Grames compartilha sua experiência com uma avó italiana de 98 anos, Maria Volontà, que se tornou uma figura fundamental em sua vida. Conhecida apenas como “Nonna”, Maria não é apenas uma amiga; ela ajudou Juliet a enfrentar suas dores e a redescobrir a alegria através da culinária, das tradições e da conexão humana. O que começou como uma visita de pesquisa na Calábria, na Itália, transformou-se em uma amizade cuja profundidade é revelada à medida que as duas mulheres compartilham receitas, histórias e momentos significativos.
No Natal de 2019, enquanto buscava inspirações para seu romance na região, Juliet encontrou em Nonna Maria uma fonte inesperada de conforto e sabedoria. Com 100 anos completando-se em fevereiro, Maria iniciou essa amizade ao cozinhar um prato típico de Natal, um ensopado de grão-de-bico que é tradicional na Ceia de Natal, revelando a Juliet que agora ela seria sua nonna. Essa acolhida doce e inesperada representou não apenas um alicerce emocional, mas também um vínculo profundo que perduraria mesmo em tempos difíceis.
Durante sua estadia na pequena cidade de Bova Marina, Juliet se viu mergulhada em uma cultura rica e em tradições que frequentemente são esquecidas na sociedade moderna. Maria, com sua memória afiada e voz musical, compartilhava histórias, provérbios e até canções em seu idioma nativo, o Greco. Cada relato de Maria acendia em Juliet a conexão com seu próprio passado, que tinha sido marcado pela perda de sua avó italiana há um ano. Quando Maria, com um sorriso generoso, declarou-se a nova nonna de Juliet, uma transformação interna começou a ocorrer.
O impacto de Maria foi sentido mais profundamente durante os meses que seguiriam, especialmente durante a pandemia. À medida que os supermercados diminuíam suas prateleiras e a insegurança alimentícia se instalava, Maria compartilhava suas experiências de escassez e ensinava a valorizar as pequenas alegrias da vida. Julieta aprendeu que a simplicidade poderia ser um grande conforto, de pratos como polenta com alho assado e macarrão com um ovo batido, mostrando que, em muitos casos, não é a sofisticação a responsável pela felicidade.
Maria também virou uma fonte de inspiração para Julieta ao reavivar o espírito natalino, ressaltando que as comemorações tradicionais demandam esforço e carinho. As visitas que inicialmente eram planejadas para serem curtas se tornaram um não apenas um vínculo afetivo, mas uma verdadeira mentoria. O “algo muito especial” que Maria prometeu e então ofereceu, a caçarola de grão-de-bico, enriqueceu as tradições culinárias da família de Juliet, tornando-se um símbolo da ponte que une o passado, o presente e o futuro. A conexão emocional que floresceu foi acompanhada de risadas, dicas culinárias, e a sensação de ser parte de uma família maior.
Com o passar do tempo e as limitações de visitas, a comunicação entre Juliet e Maria foi mantida através do WhatsApp, onde a arquitetura Antonella Casile, filha de Maria e arquiteta, desempenhou um papel importante como intermediária. A presença virtual de Maria ajudou Juliet a continuar sua escrita, agora com personagens inspirados nas experiências de vida e na cultura que conheceu por meio de Nonna. Esse novo relacionamento permitiu que Juliet incorporasse as tradições greco-italianas em sua própria narrativa, trazendo à tona a importância da família, da amizade e da conexão interpessoal.
O ato de manter vivas as tradições é um elemento central da história de Juliet e Maria, onde ambos os mundos, o de uma avó octogenária e o de uma escritora contemporânea, se entrelaçam em uma dança de receitas, histórias e amor incondicional. Ao explorar a herança cultural de outra pessoa, Juliet não apenas encontrou a cura para seu luto, mas também criou laços que transcendem as fronteiras familiares. As trocas entre elas são um lembrete de que as tradições que cultivamos são sagradas e que sempre podemos adotar novas e prosperar com elas.
Por fim, a experiência de Juliet se desenrola como um vivo testemunho da resiliência humana e do poder de conexões que superam a dor. Ao nutrir novas amizades e reconstruir tradições com amor, uma história de perda transformou-se em uma celebração contínua da vida e da cultura. O legado de Nonna Maria e a jornada de Juliet são um convite a todos nós para sermos abertos às tradições que nos cercam, àquelas que ainda não conhecemos e aos relacionamentos que podemos cultivar ao longo do caminho.
O livro “The Lost Boy of Santa Chionia”, de Juliet Grames, está disponível agora em todas as livrarias.