Nova Iorque
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Os membros do sindicato Teamsters aprovaram uma votação para autorizar uma greve em três instalações da Amazon, incluindo o armazém de Staten Island, em Nova Iorque, que se destacou em 2022 ao se tornar o primeiro local onde os funcionários votaram para se unir a um sindicato. Tal decisão representa um passo significativo na luta por melhores condições de trabalho e direitos dos trabalhadores na maior empresa de e-commerce do mundo.

Em resposta a essa movimentação, a gigante do varejo afirmou que suas operações não serão afetadas por qualquer ação do sindicato, mesmo em caso de greve. Embora os Teamsters afirmem representar cerca de 7.000 trabalhadores da Amazon em todo o país, esse número representa menos de 1% da força de trabalho da empresa nos Estados Unidos. Ademais, apesar da votação que autoriza um possível ato de paralisação, o sindicato não anunciou um prazo específico para a greve.

A porta-voz da Amazon, Eileen Hards, afirmou em nota à CNN que “este recente movimento de protesto não impactou nossas operações – apenas causou inconvenientes a nossos empregados e parceiros”. Esse posicionamento reflete a postura assertiva da empresa em face da crescente pressão sindical.

Além do armazém em Staten Island, a votação do sindicato também autorizou greves em instalações localizadas em Queens, Nova Iorque, e Skokie, Illinois, um subúrbio de Chicago. É importante ressaltar que a autorização de greve é frequentemente aprovada, mesmo que os membros do sindicato não cheguem a efetivar essa atitude. Um exemplo disso ocorreu com a UPS, onde os Teamsters, um de seus maiores empregadores, alcançaram um acordo uma semana antes do prazo, apesar de 97% da adesão ter aprovado uma greve.

A tensão entre o sindicato e a Amazon destaca mais uma vez os desafios que os trabalhadores enfrentam em busca de representatividade e melhores condições de trabalho. O momento escolhido para essa mobilização é estratégico, visto que coincide com o período crítico das festas de fim de ano, quando o comércio online atinge seu pico. Este movimento também sinaliza que o trabalho organizado busca novas estratégias para melhor representar os funcionários da Amazon, que é a segunda maior empregadora do setor privado nos Estados Unidos.

Entretanto, a Amazon invariavelmente demonstra que não está disposta a chegar a um acordo com os Teamsters e ainda contesta o fato de que o sindicato represente qualquer um de seus trabalhadores. A empresa está batalhando judicialmente os resultados da eleição de Staten Island realizada em 2022 e recusa negociar ou reconhecer qualquer um dos funcionários que alegam ter se filiado ao sindicato. Essa postura é uma clara indicação da batalha contínua entre a empresa e as iniciativas dos trabalhadores.

Historicamente, os sindicatos costumam conquistar a representação dos trabalhadores realizando eleições supervisionadas pelo National Labor Relations Board (NLRB). O sindicato Amazon Labor Union conseguiu tal vitória na infraestrutura de Staten Island em abril de 2022. Entretanto, diversas outras tentativas de organização em outras instalações da Amazon falharam antes e depois disso. Os membros do ALU recentemente votaram para se filiar aos Teamsters, um dos maiores e mais influentes sindicatos dos Estados Unidos, com 1,3 milhão de membros.

Embora o reconhecimento voluntário de um sindicato por um empregador seja permitido pela legislação laboral, essa prática é relativamente rara. Mesmo após a vitória em uma eleição certificada pelo NLRB, como no caso de Staten Island, a Amazon continua a contestar e recusa a reconhecer o sindicato. Dada a colossal lucratividade da empresa, que reportou um lucro líquido de US$ 39,2 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, mais do que o dobro do que foi registrado no mesmo período do ano anterior, o sindicato argumenta que a Amazon deveria reconhecer e negociar com os trabalhadores que buscam representação.

As dúvidas sobre a estrutura de representação dos trabalhadores são complexas. O Teamsters afirma representar trabalhadores em armazéns localizados em San Francisco e San Bernardino, California, além dos trabalhadores de Staten Island já reconhecidos como membros do sindicato. Embora esses trabalhadores denunciem condições de trabalho muitas vezes insustentáveis, a Amazon contra-argumenta que muitos dos 7.000 trabalhadores que o sindicato apresenta como “funcionários da Amazon” são, na verdade, motoristas de contratos independentes, cuja linha de emprego não é exclusivamente com a Amazon.

Significativamente, os motoristas em Queens e Skokie podem ter participado da votação, mas nunca houve uma eleição de representação supervisionada pelo NLRB em nenhuma das duas instalações. E mesmo que tivesse ocorrido tal votação, a Amazon contesta que esses motoristas não são seus empregados, mas empregados de suas empresas contratadas. Essa situação muito confusa levanta questões importantes sobre a natureza do trabalho e a responsabilidade das grandes corporações em relação aos seus colaboradores.

A Amazon, por sua vez, argumenta que a maioria dos trabalhadores nas instalações citadas pelo sindicato não apoia o movimento sindical, descrevendo a reivindicação dos Teamsters como uma tentativa de enganar o público. Essa controvérsia ressalta as dificuldades que o movimento sindical enfrenta em um ambiente corporativo já hostil ao seu crescimento.

O clima de incerteza é exacerbado por recentes opiniões do NLRB que podem permitir que esses trabalhadores sejam reconhecidos como tendo dois empregadores. Com isso, os sindicatos podem buscar reconhecimento e negociações tanto com a empresa contratante quanto com a própria Amazon. Contudo, grupos empresariais continuam a questionar a decisão do NLRB, que pode ser revogada assim que um novo conselheiro geral e membros do conselho sejam nomeados pelo presidente eleito. Essa situação perpetua o ciclo de luta por direitos trabalhistas e revela o quanto ainda há a ser discutido.

Amazon é uma das maiores empresas do mundo, mas os relatos de seus trabalhadores retratam uma realidade contrastante. A luta dos Teamsters e de trabalhadores da Amazon representa mais do que uma simples disputa sindical; é um clamor por justiça e dignidade no ambiente de trabalho. O presidente do Teamsters, Sean O’Brien, expressou de forma contundente: “Os chamados ‘líderes’ da Amazon deveriam tratar seus trabalhadores de forma justa — eles apenas querem colocar comida na mesa para suas famílias.” Essa declaração não apenas encapsula a frustração crescente entre os trabalhadores, mas também serve como um chamado à ação, destacando a urgência de uma mudança significativa no cenário corporativo atual.

Trabalhadores preparam pedidos em um centro de distribuição da Amazon em Melville, Nova Iorque, EUA, na terça-feira, 11 de julho de 2023.

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