A startup de entrega de alimentos francesa Epicery anunciou o fim de suas operações programadas para esta terça-feira, após um último esforço durante a temporada de festas, um período crucial para seus clientes e para os empresários locais que utilizavam sua plataforma ao longo de nove anos, em troca de uma comissão de 25%. A decisão, que surpreendeu muitos, reflete uma sequência de dificuldades econômicas que a empresa não conseguiu superar, mesmo após diversas tentativas de recuperação.

Em uma mensagem enviada aos clientes no início deste mês, a equipe da Epicery explicou que o encerramento das atividades era uma “consequência dos desafios econômicos e financeiros que temos enfrentado nos últimos meses e que, apesar de nossos melhores esforços, não conseguimos contornar.” A declaração trouxe um sentimento de nostalgia, ressaltando a importância da plataforma como um canal de vendas significativo para muitos pequenos comerciantes locais, especialmente em tempos de crise.

Com um foco em produtos alimentares de alta qualidade e entregas locais, a empresa sofreu um impacto profundo devido ao aumento da inflação, que fez muitos consumidores reconsiderarem seus gastos em alimentos. Os problemas financeiros da Epicery se tornaram evidentes quando a empresa registrou um EBITDA negativo de -€4,69 milhões em 2023, em meio a vendas que totalizavam apenas €2,57 milhões. Esta situação evidenciou a vulnerabilidade do modelo de negócios em um cenário econômico adverso.

Antes de enfrentar esses desafios, a startup passou por um período de crescimento inesperado durante o lockdown da COVID-19, quando a demanda por entregas de alimentos disparou. Em um momento considerado de júbilo, em final de 2021, a Geopost/DPDgroup, filial de entrega expressa do Groupe La Poste, adquiriu uma participação majoritária na Epicery, um movimento que parecia estrategicamente apropriado. No entanto, logo após essa aquisição, a Geopost decidiu cortar laços com diversas startups, incluindo a venda da Stuart, um serviço no qual a Epicery era um cliente importante, resultando em perdas significativas.

Uma análise aprofundada da performance financeira e operacional da Epicery levou o Geopost a concluir que a rentabilidade a curto e médio prazo da empresa havia sido severamente afetada por mudanças substanciais no mercado de entrega de alimentos, a volta paulatina dos consumidores ao comércio direto e a crescente concorrência no segmento de catering. A modernidade e a competitividade das opções de delivery, que se diversificaram substancialmente desde o lançamento da Epicery em 2016, foram fatores cruciais para o seu declínio. Inicialmente, competia com serviços que já não existem mais, como Take Eat Easy, mas, por outro lado, enfrentava um mercado saturado, garantindo assim a sua ascensão de maneira modesta.

Ao longo de sua trajetória, a Epicery conquistou uma base de aproximadamente 25.000 clientes recorrentes, que compravam de cerca de 1.100 lojas locais, sendo a sua operação concentrada principalmente em Paris e Lyon, uma restrição que pode ter limitado sua escalabilidade. Essa limitação fez com que a Epicery se tornasse, em muitos aspectos, um negócio de estilo de vida ao invés de um que pudesse atender as expectativas de crescimento demandadas por investidores de capital de risco. Os números modestos, especialmente na grande escala de investimentos de grandes grupos, evidenciaram a falta de sinergias com a Stuart, prejudicando ainda mais a sustentabilidade do modelo da Epicery.

O co-fundador e CEO da Epicery, Édouard Morhange, não pôde comentar sobre questões estratégicas devido a um acordo de não divulgação, mas expressou seu orgulho em ter introduzido o comércio eletrônico para pequenos lojistas ao longo da última década. “Estou muito orgulhoso de ter apresentado os varejistas locais ao e-commerce nos últimos 10 anos, e estou confiante de que eles continuarão a desenvolver suas vendas digitais nos próximos anos”, afirmou Morhange, ressaltando a relação simbiótica entre a plataforma e os pequenos negócios que apoiou.

Embora a Epicery não tenha conseguido alcançar os números de lucratividade esperados, a plataforma chegou a contribuir com até 20% de aumento nas vendas para as lojas com as quais cooperou. Elsa Hermal, co-fundadora da Epicery e que deixou as operações em 2019, destacou o impacto que a empresa teve: “O que é maravilhoso e muito importante para mim é que o que prometemos [aos proprietários de lojas] no início, e que nos levou um tempo considerável para alcançar, agora se tornou uma parte significativa do negócio deles.” Em um papel atual como investidora e coach de negócios, Hermal acredita que as soluções de logística no setor alimentício, embora desafiadoras, ainda apresentam oportunidades a serem exploradas.

Enquanto as portas da Epicery se fecham, Morhange garante que continuará atuando no setor alimentício e está trabalhando em “um novo modelo ambicioso que permitirá à indústria alimentar prosseguir sua digitalização na França e no exterior.” O futuro é incerto, mas há quem acredite que o legado deixado pela Epicery pode inspirar um retorno de modelos de negócios semelhantes, onde o conhecimento adquirido por pequenos vendedores pode gerar novas oportunidades no cenário atual.

Por fim, os colaboradores da Epicery receberão suporte da equipe de Recursos Humanos para discutir oportunidades dentro do Grupo ou para auxilio na busca por novas colocações no mercado. O empresário francês Nicolas Machard, fundador do marketplace de alimentos Pourdebon, também expressou confiança de que os funcionários da Epicery logo encontrarão novos papéis, contribuindo para um ecossistema de negócios resilient.

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