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CNN
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Nos últimos meses, especialmente após a saída de Bashar al-Assad do poder na Síria, a Rússia intensificou suas atividades aéreas, realizando uma série de voos em direção a uma base aérea localizada no deserto da Líbia. Essa mudança estratégica parece sinalizar a busca de Moscovo por novas rotas e paradas alternativas para sustentar seu crescente envolvimento militar na África, além de manter uma presença militar significativa na região do Mediterrâneo. Durante quase uma década, a base aérea de Hmeimim e a instalação naval de Tartus, situadas na costa síria, serviram para esses propósitos, mas agora a Líbia parece ser o novo centro das ambições russas.
Dados de rastreamento de voos analisados pela CNN indicam que, desde meados de dezembro, mais de um voo diário partiu da base de Hmeimim para a base al-Khadim, próxima a Benghazi, sendo utilizados aviões de transporte de grande porte como o Antonov AN-124 e o Ilyushin IL-76. Este aumento na frequência dos voos demonstra a urgência e a intenção de Moscovo de afirmar seu poder na região do Mediterrâneo, especialmente em um momento em que a liderança síria se encontra em transição.
Em um relato revelador, autoridades dos EUA e da Europa afirmaram que a Rússia iniciou a retirada de um volume significativo de equipamentos militares e tropas da Síria, assim como a transferência de possivelmente sistemas avançados de defesa aérea para a Líbia. Este movimento estratégico reflete a necessidade de adaptação de Moscovo às novas dinâmicas regionais, seguindo a queda de Assad, e a urgência em estabelecer novas bases operacionais no continente africano.
Analistas, como Jalel Harchaoui, associado do think tank Royal United Services Institute de Londres, observaram um aumento “incontestável” de aeronaves russas pousando na Líbia vindas da Síria, Rússia e Belarus nas últimas semanas. Esta nova dinâmica de forças coloca a Líbia como um ponto central nas operações militares russas, que antes eram sustentadas a partir da base de Hmeimim e que abrangiam diversas nações africanas onde a presença militar russa se fez sentir, como na República Centro-Africana e agora em Mali.
O fortalecimento da presença russa em território líbio permitirá que Moscovo mantenha suas capacidades operacionais para expandir sua influência ainda mais para o sul do continente africano. Ao mesmo tempo, essa manobra busca absorver os novos custos inevitavelmente associados à queda de Assad. Além disso, dados e vídeos geolocalizados mostram que ao menos um dos aviões que recentemente aterrissou em al-Khadim seguiu viagem para Bamako, em Mali, onde a Rússia já começou a suplantar a influência francesa que perdurava na região.
As preocupações sobre o aumento da presença militar russa na Líbia não são exclusivas da NATO. O ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, em declaração ao jornal La Repubblica, afirmou que as embarcações e submarinos russos no Mediterrâneo representam sempre uma preocupação, especialmente se estiverem tão próximos da costa europeia, em vez de a mil quilômetros de distância. A controvérsia sobre a posição da Rússia na Líbia e suas intenções em relação a regiões próximas à Europa tem gerado uma onda de discussão entre os países membros da aliança.
Enquanto isso, a relação da Rússia com o autoproclamado governante da Líbia, o general Khalifa Haftar, tem se mostrado complexa. Haftar, que controla uma parte significativa da Líbia, tem sido um aliado instrumental para Moscovo, na medida em que a Rússia fornece tanto combatentes mercenários como armamentos para seus esforços de consolidação de poder. Recentemente, uma visita do vice-ministro da Defesa russo, Yunus-Bek Yevkurov, à Líbia destacou ainda mais essa colaboração. A possibilidade de uma futura profundidade nessa parceria é uma realidade, especialmente se Moscovo visualizar um porto sob controle de Haftar como alternativa ao seu facilidades em Tartus, na Síria.
Preocupações da NATO e a dinâmica no Mediterrâneo
Apesar de não haver um acordo oficial como o que existia com a Síria, a dinâmica em torno da presença russa na Líbia é instável. A natureza volátil das relações de Haftar, aliás, pode ser uma preocupação para Moscovo, pois o general tem mudado frequentemente de aliados e soluções. De acordo com especialistas, a relação com a Rússia poderá não ser tão segura quanto anteriormente, uma vez que Haftar não mostra sinais de estar a prazo, nem possui um mandato legal formal que garanta a presença russa em seu território.
A ambiguidade em torno da posição da liderança síria em relação à presença russa ainda gera especulação. Ahmed al-Sharaa, líder interino, compartilhou em entrevista que não deseja uma retirada russa que não se adeque à natureza das relações entre os dois países, conformando assim uma ligação potencial. A política de segurança da Rússia precisará se adaptar a uma nova realidade no cenário da Líbia para poder refletir mais amplamente nas relações internacionais com outras nações africanas e europeias que observam atentamente suas movimentações.
Embora seja evidente que a Rússia busca alternativas para manter uma presença militar no Mediterrâneo, o futuro é incerto e os desafios geomilitares podem intensificar a insegurança na região. As movimentações recentes de Moscovo reforçam a percepção de que o controle da Líbia é um passo importante, mas a relação com Haftar e os desdobramentos da política interna síria poderão trazer repercussões imprevistas para a estratégia de segurança russa na África e no Oriente Médio. Neste cenário, fica claro que a visão da Rússia sobre o Mediterrâneo se reafirma como um ponto crítico, deixando a comunidade internacional em alerta.
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