Towana Looney, uma avó de 53 anos do Alabama, fez história ao se tornar a primeira pessoa a viver com um rim de porco funcional, fruto de um transplante inédito realizado no NYU Langone Transplant Institute em Nova York, em 25 de novembro. A operação, que representa um avanço significativo na medicina, é resultado de anos de pesquisas sobre xenotransplante, que se refere ao uso de órgãos de animais em humanos. Os médicos preveem que, em menos de uma década, esses transplantes de órgãos de porcos para humanos possam se tornar uma prática rotineira.
Após o procedimento, Looney recebeu alta do hospital apenas 11 dias depois, sendo recebida com aplausos pela equipe médica que a assistiu. Vestindo uma máscara e roupas do NYU Langone Health, ela celebrou sua nova vida levantando os polegares com entusiasmo. “Eu nunca imaginei que isso poderia acontecer”, disse ela em uma declaração.
Recentemente, os médicos confirmaram que Looney está se saindo bem e que o rim parece estar funcionando como o esperado. Para garantir sua saúde e bem-estar, ela reside em um apartamento próximo ao hospital e se submete a check-ups diários, monitorada também por meio de inteligência artificial e equipamentos vestíveis que acompanham atentamente seus sinais vitais, permitindo a detecção antecipada de possíveis infecções.
Embora Looney não consiga voltar ao Alabama a tempo para as festas de fim de ano, os médicos expressam a esperança de que, se tudo progredir bem, ela poderá retornar ao seu lar em três meses. A avó está empolgada em retomar sua vida normal e reencontrar a família e netos que tanto ama.
A vida de Looney, no entanto, sempre foi marcada por desafios. Ela estava dentre os mais de 90 mil pessoas nos Estados Unidos que aguardam um transplante de rim, após ter doado um rim à sua mãe em 1999. Com o passar do tempo, Looney tornou-se uma das raras doadoras vivas a sofrer insuficiência renal, com o agravamento da situação gerada por um episódio de pré-eclâmpsia durante a gravidez, que prejudicou seu rim remanescente. Apesar dos muitos contratempos, ela manteve uma atitude positiva: “Houve muitas decepções, mas não desisto”, afirmava nas redes sociais.
Avó do Alabama e seu papel como doadora se torna paciente
Looney soube da opção de transplante de rim de porco por meio do Dr. Jayme Locke, uma especialista que já foi diretora da Divisão de Transplante da Universidade de Alabama em Birmingham antes de assumir um novo papel na Administração de Recursos e Serviços de Saúde dos Estados Unidos. Locke foi a pioneira que a convenceu a considerar participar desse procedimento experimental, destacando a possibilidade de salvar não só a vida dela, mas de outras pessoas que também precisam de transplantes. “Eu tentei fazer a diferença”, afirmou Looney em um vídeo produzido pelo NYU.
Com uma população que representa cerca de 13 pessoas nos Estados Unidos morrendo todos os dias à espera de transplantes renais, o trabalho de pesquisadores e médicos na área de xenotransplante é mais crucial do que nunca. O potencial de utilizar órgãos de porcos, que têm uma estrutura genética semelhante aos humanos, pode ser a chave para resolver a crise de doadores.
Após muitas aprofundadas pesquisas, Looney fez a escolha de se submeter ao transplante. A FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA) disponibiliza a possibilidade de transplantes de órgãos de porcos em humanos sob o uso compassivo, que permite a utilização de terapias ou procedimentos experimentais. Levada pela vontade de ajudar muitos outros na mesma situação, Looney decidiu aceitar o desafio.
Apesar das incertezas que cercam o xenotransplante, os médicos são otimistas sobre os avanços feitos nesse campo. O diretor do NYU Langone Transplant Institute, Dr. Robert Montgomery, acredita que, com o tempo e mais transplantes clínicos, essa técnica poderá se tornar uma prática comum nos próximos dez anos. Em um mundo onde metade das pessoas em tratamento de diálise pode morrer em cinco anos, a inclusão de órgãos oriundos de porcos poderia mudar completely o cenário dos transplantes renais.
Para Looney, a liberdade de não precisar mais de diálise é um novo começo. “É incrível sentir a energia, o fluxo sanguíneo do rim. É simplesmente maravilhoso”, expressou, com um brilho nos olhos que revela a esperança renovada em sua vida e a urgência nas pesquisas que buscam salvar mais vidas nesta nova era da medicina.