O mundo se despediu de Bob Fernandez, um heroico sobrevivente do ataque a Pearl Harbor, que faleceu pacificamente em sua casa em Lodi, Califórnia, aos 100 anos. Sua morte se deu apenas uma semana após a cerimônia de lembrança que marcou o 83º aniversário do fatídico ataque que conduziu os Estados Unidos à Segunda Guerra Mundial. Uma figura admirável e respeitada, Fernandez não pôde comparecer ao evento devido ao seu estado de saúde deteriorado, o que já estava indicando um fim próximo.

Fernandez faleceu na quarta-feira, cercado por familiares. Estava na companhia de seu sobrinho, Joe Guthrie, e da filha de Guthrie, Halie Torrrell, que segurava sua mão em seus últimos momentos. Segundo relatos, o veterano havia sofrido um acidente vascular cerebral cerca de um mês antes, que afetou sua saúde, sendo que os médicos atribuíam essa condição à sua idade avançada. Seu sobrinho, em um momento de reflexão, expressou que “era o momento dele”.

Durante o ataque de 7 de dezembro de 1941, Fernandez, então um jovem de apenas 17 anos, estava a bordo do USS Curtiss. Ele trabalhava como cozinheiro, servindo refeições e café aos companheiros de luta, quando um alerta alarmante ecoou pelo navio. Através de uma porthole, viu um avião com a insígnia vermelha que era reconhecida como parte das aeronaves japonesas. Sem hesitar, ele desceu rapidamente três andares para uma sala onde esperava para que alguém desbloqueasse a porta dos armazéns de munição, temeroso e confuso com a situação que se desenrolava no convés.

Fernandez lembrou-se do pânico que se apoderou de seus colegas marinheiros, que rezavam e choravam enquanto disparos e explosões ecoavam acima. “Eu me senti meio assustado porque não sabia o que estava acontecendo”, disse ele em uma entrevista à Associated Press, semanas antes de sua morte. O USS Curtiss perdeu 21 homens no ataque e quase 60 de seus marinheiros ficaram feridos. O bombardeio resultou na morte de mais de 2.300 militares americanos, cerca de 1.177 deles eram marinheiros e fuzileiros navais a bordo do USS Arizona, que afundou durante a batalha.

Bob Fernandez, veterano de Pearl Harbor, posando com medalhas de seu serviço militar

Refletindo sobre os horrores da guerra, Fernandez comentou: “Perdemos muitas pessoas boas, você sabe. Elas não fizeram nada, mas nunca sabemos o que vai acontecer em uma guerra”. Ao longo de sua vida, ele mostrava um apreço profundo e um senso de responsabilidade por aqueles que ele viu sofrer.

Fernandez tinha planos para retornar a Pearl Harbor e participar da comemoração anual, mas suas forças não lhe permitiram realizar essa viagem. Seu orgulho por seus seis anos de serviço na Marinha, todos a bordo do USS Curtiss, era evidente para todos ao seu redor. A maioria das suas roupas casuais trazia algo relacionado ao seu serviço militar. “Isso estava completamente impregnado nele”, disse seu sobrinho, refletindo sobre o legado que o veterano deixava.

Após o término da guerra, ele trabalhou como operador de empilhadeira em uma conserva em San Leandro, Califórnia. A vida de Bob não era apenas lembranças do passado; ele era um amante da música e da dança. Recentemente, ele frequentava apresentações musicais semanais em um parque local e em um restaurante. Sua disposição para ajudar os outros era notável, chegando a cuidar dos jardins de vizinhos em seu parque de trailers até se mudar para a casa de Guthrie no ano passado.

“Ele me ajudava a cortar lenha e nos referíamos àquilo como sua terapia física”, contou Guthrie, adicionando uma nota de humor a memórias muito queridas. Os conselhos de Bob para uma vida longa incluíam parar de comer quando se está satisfeito, subir escadas e até mesmo a sugestão de realizar alguma tarefa doméstica antes de um cochilo. Ele sempre enfatizava a importância de ser gentil com todos.

Em suas interações, Bob Fernandez era conhecido por sua generosidade e bondade. Ele se oferecia para limpar os jardins dos vizinhos ou ajudar a pintar cercas. “Ele sempre estava disposto a ajudar, dar dinheiro para quem precisava e fazer amigos em qualquer lugar que ia”, descreveu Guthrie, com um tom de saudade e admiração.

Bob deixa saudades entre familiares, incluindo seu filho mais velho, Robert J. Fernandez, uma neta e vários bisnetos. Atualmente, existem apenas 16 sobreviventes do ataque a Pearl Harbor, todos com mais de 100 anos, segundo a lista mantida por Kathleen Farley, presidente estadual da Sons and Daughters of Pearl Harbor Survivors. Com a morte de Bob, o número de sobreviventes efetivamente se reduziu, a menos que se considere que um novo sobrevivente foi encontrado.

A vida e o legado de Bob Fernandez são um lembrete do preço da liberdade e do espírito inabalável de todos aqueles que enfrentaram a adversidade com coragem, generosidade e um sorriso no rosto. Que seus ensinamentos sobre compaixão e amizade permaneçam vivos em todos nós.

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