O cenário de destruição provocado pelo Ciclone Chido em Mayotte, um território francês no Oceano Índico, apresenta uma tragédia de proporções alarmantes. A confirmação de que o número de mortos pode chegar a “vários centenas”, com possibilidades de atingir milhares, foi revelada por François-Xavier Bieuville, o principal oficial do governo na ilha, em uma entrevista à emissora local Mayotte la 1ère. Este evento trágico, considerado o pior ciclone a atingir Mayotte em 90 anos, acendeu alarmes sobre a gravidade das consequências enfrentadas por essa região já marcada por dificuldades socioeconômicas.

A devastação causada pelo ciclone foi profunda, exigindo que a França enviasse equipes de resgate e suprimentos para este departamento ultramarino, que é um dos mais pobres da União Europeia. Ao ser questionado sobre a extensão dos danos, Bieuville expressou que a contagem oficial de mortos, que inclui a confirmação de pelo menos 11 falecimentos e mais de 250 feridos pelo Ministério do Interior da França, é subestimada diante das imagens chocantes que evidenciam a gravidade do desastre. “Este número não é plausível quando se observa as imagens das favelas”, afirmou Bieuville, expressando a preocupação de que o impacto humano seja significativamente maior do que as estatísticas iniciais sugerem.

O Ciclone Chido, que atingiu a região na sexta-feira e no sábado, não apenas devastou Mayotte, mas também afetou ilhas vizinhas como Comores e Madagascar, trazendo ventos que ultrapassaram 220 km/h e sendo classificado como um ciclone de categoria 4, segundo o serviço meteorológico francês.

Estruturas destruídas após o Ciclone Chido em Mayotte

Estruturas destruídas após o Ciclone Chido em Mayotte, 14 de dezembro de 2024, na capital Mamoudzou. Fotógrafo: Daniel Mouhamadi/AFP via Getty Images
A capital, Mamoudzou, e áreas adjacentes sofreram grandes danos em sua infraestrutura pública, incluindo o aeroporto, que viu sua torre de controle transformar-se em destroços, dificultando o transporte de ajuda, que agora é realizada apenas por aeronaves militares. As autoridades estão tomando medidas urgentes, estabelecendo uma ponte aérea e marítima a partir da ilha da Réunion, com o objetivo de transportar cerca de 80 toneladas de suprimentos, assim como equipes de resgate adicionais.

A situação em Mayotte é preocupante, pois os danos são visíveis em toda a ilha, onde bairros inteiros foram reduzidos a escombros de metal e madeira. O resident Chad Youyou compartilhou imagens do estrago em sua vila, denunciando que “Mayotte está destruída… nós estamos destruídos”. A crise humanitária se agrava ainda mais com a perda de acesso a serviços básicos, como eletricidade e água potável, o que coloca centenas de milhares de vidas em risco.

O impacto desse desastre já repercute em uma escala maior. O Ciclone Chido seguiu seu trajeto, atingindo o norte de Moçambique, onde as autoridades alertam para a possibilidade de deslocamento de mais de 2 milhões de pessoas devido à ameaça de deslizamentos de terra e inundações. No entanto, o eco desse desastre se estende além das fronteiras imediatas de Mayotte. Em artigos e relatórios internacionais, há uma busca por compreender as raízes das consequências devastadoras que o ciclone trouxe, tendo em vista que o próprio ciclo de furacões se intensifica devido às questões relacionadas às mudanças climáticas, um dilema que atinge desproporcionalmente os países mais pobres.

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o novo primeiro-ministro, François Bayrou, expressaram sua solidariedade ao povo de Mayotte. Os esforços de ajuda estão sendo coordenados e um total de 1.600 policiais e gendarmes foram enviados para garantir a segurança e oferecer apoio à população, bem como prevenir possíveis saques em meio ao caos que se estabeleceu. Em um sinal de compaixão, o Papa Francisco enviou orações pelos afetados e pediu uma atenção especial à crise humanitária em sua visita à Córsega, reiterando a necessidade de ação internacional coordenada.

Com a nova temporada de ciclones que vai de dezembro a março, as agências humanitárias estão em alta alerta, especialmente após os desastres anteriores, como os ciclones Idai e Freddy, que deixaram milhares de mortos e uma devastação ampla em várias nações africanas. A Organização das Nações Unidas (ONU) e organismos como a UNICEF estão em prontidão, trabalhado para responder aos desafios que surgem com este novo desastre, uma situação que pode não apenas devastar a infraestrutura, mas também causar o ressurgimento de doenças como cólera, dengue e malaria, que são riscos comuns após inundações e desastres naturais.

Com esse quadro trágico em andamento, o mundo observa atentamente, e a necessidade de uma resposta adequada e humana se torna cada vez mais clara. A interação e a união de esforços globais são essenciais para não apenas mitigar a crise imediata em Mayotte, mas para desenvolver estratégias que possam ajudar a prevenir futuras tragédias na região, enfatizando a urgente necessidade de ação contra as mudanças climáticas e suas devastadoras consequências.

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