Os microplásticos se tornaram uma preocupação global, com evidências de sua presença em locais tão inesperados quanto o pico do Monte Everest e nas criaturas que habitam as profundezas do oceano. Esses pequenos fragmentos de plástico, inferior a cinco milímetros, estão em nosso suprimento de água engarrafada, em tecidos humanos e até em leite materno, colocando em risco a vida selvagem, prejudicando ecossistemas e ameaçando nossa saúde. O desafio de remover esses poluentes é crescente e também complexo, considerando sua pequena dimensão e a vasta quantidade acumulada nos oceanos.
No entanto, cientistas da Universidade de Wuhan, na China, podem ter encontrado uma solução promissora para esse grave problema. Eles desenvolveram uma esponja biodegradável, fabricada com quitosano extraído de ossos de lula e celulose proveniente do algodão. Reconhecidos por sua eficácia na eliminação de poluentes de águas residuais, esses dois compostos orgânicos têm mostrado grande potencial para ajudar na remoção de microplásticos das nossas águas.
Após criar a esponja, a equipe de pesquisa testou sua eficácia em quatro amostras de água diferentes: água de irrigação, água de lagoa, água de lago e água do mar. Os resultados foram extraordinários, com a esponja conseguindo remover até 99,9% dos microplásticos presentes nas amostras, conforme publicado em um estudo recente na revista Science Advances. Esse desempenho impressionante destaca não apenas a eficácia desse novo material, mas também a urgência de ação contra a poluição por microplásticos em nosso planeta.
A Preocupação Crescente com os Microplásticos
Os microplásticos têm origem em diversas fontes, incluindo a degradação de pneus, que se desintegram em fragmentos menores, e microesferas presentes em produtos de beleza, como esfoliantes. Um estudo de 2020 estimou que há cerca de 14 milhões de toneladas métricas de microplásticos depositados no fundo do mar, o que torna esta uma das questões ambientais mais prementes da nossa geração. A poluição por plásticos é uma ameaça persistente que afeta não apenas a fauna marinha, mas também gera preocupação crescente sobre os riscos à saúde humana associados a esses poluentes.
Garbage, including plastic waste, at Paparo Beach in Miranda State, Venezuela, on June 6, 2023.
O problema da poluição plástica só tende a agravar-se, já que a produção e o descarte de plásticos devem aumentar nos próximos anos. Mesmo que tomemos uma atitude global imediata para reduzir o consumo de plástico, ainda será previsto que 710 milhões de toneladas de plástico poluirão o meio ambiente até 2040. Portanto, é cada vez mais urgente encontrar soluções para eliminar os plásticos que contaminam nossos oceanos.
A esponja desenvolvida pelos pesquisadores de Wuhan demonstrou a capacidade de absorver microplásticos tanto por meio da interceptação física quanto por atração eletromagnética. Isso representa um avanço significativo, pois muitos dos métodos anteriormente estudados para absorver plásticos tendem a ser caros e complexos, limitando sua escalabilidade.
Embora os resultados iniciais sejam encorajadores, alguns desafios permanecem. O método que combina ossos de lula e algodão foi descrito como “promissor” por Shima Ziajahromi, professora da Universidade Griffith na Austrália, que estuda microplásticos. No entanto, ela chamou atenção para o fato de que o estudo não aborda se a esponja pode remover microplásticos que afundam no sedimento, que representam a maioria dos microplásticos presentes nas águas.
Outro aspecto crítico levantado pela pesquisadora é a disposição adequada das esponjas após o uso. Embora sejam biodegradáveis, os microplásticos absorvidos necessitam ser descartados de maneira apropriada. Sem uma gestão cuidadosa, esse processo corre o risco de transferir microplásticos de um ecossistema para outro, o que não geraria a solução esperada.
Por fim, Ziajahromi enfatiza que a minimização da poluição plástica deve continuar a ser uma prioridade principal. A inovação trazida pela esponja de quitosano e celulose pode ser um passo positivo em direção à limpeza de nossos corpos d’água, mas é fundamental que também trabalhemos na raiz do problema: a produção excessiva e o consumo de plásticos em nosso dia a dia.