Washington
CNN
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Nos últimos dias, a situação na Síria se tornou um verdadeiro quebra-cabeça para as autoridades norte-americanas. A ofensiva inesperada de grupos rebeldes sobre Aleppo, uma das cidades mais importantes do país, pegou os Estados Unidos de surpresa, forçando-os a calibrar sua resposta em um cenário onde as opções são limitadas e os riscos são altos. Com cerca de 1.000 tropas ainda operando no país, os americanos se encontram numa posição delicada de manter sua presença militar ao mesmo tempo em que evitam se comprometer com qualquer um dos lados em um conflito em que as alianças são frequentemente fluidas e sem garantias.
Na segunda-feira, o General Pat Ryder, porta-voz do Pentágono, reafirmou a posição dos EUA ao se distanciar explicitamente dos últimos confrontos em Aleppo, onde os rebeldes avançaram e conquistaram a cidade, um marco significativo na guerra civil que perdura há mais de uma década. Ele ressaltou que a ofensiva é liderada por Hayat Tahrir al-Sham (HTS), um grupo considerado uma organização terrorista pelos EUA, e que a missão americana permanece focada na luta contra o ISIS, que continua a ser uma ameaça na região.
“Deixe-me ser claro: os EUA não estão envolvidos nas operações que você vê se desenrolando em Aleppo”, afirmou Ryder, enfatizando que a situação é complexa e que o foco dos EUA continua em evitar uma escalada do conflito. Ele também fez um apelo à desescalada, ressaltando a necessidade urgente de buscar soluções pacíficas em meio ao caos.
A complexidade do conflito sírio é um desafio constante para os EUA. Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional, expressou que as preocupações em relação às intenções da HTS são reais, uma vez que o grupo mantém uma ideologia radical e uma estrutura que se originou da al-Qaeda, alimentando assim os medos de um potencial aumento da violência na região e seus efeitos colaterais que podem atingir os interesses dos EUA e seus aliados.
Enquanto isso, o fundador da HTS, Abu Mohammad al-Jolani, embora tenha tentado distanciar sua facção das origens extremistas, não conseguiu evitar a designação da organização como terrorista pelos EUA. Historicamente, a HTS evoluiu do grupo Jabhat al-Nusra, que foi um braço da al-Qaeda na Síria e continua a ser visto com desconfiança pelas autoridades americanas.
Além disso, o governo dos EUA afirmou categoricamente que não levantará as sanções em vigor contra o regime de Bashar al-Assad. O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, fez questão de esclarecer que as sanções foram implementadas devido à violência contínua do governo contra os civis, e são parte dos esforços para pressionar o regime a permitir uma transição democrática, algo que a população síria clama há anos.
Atualmente, cerca de 900 militares dos EUA permanecem na Síria como parte da missão anti-ISIS. No entanto, a instabilidade crescente, acentuada pela resposta militar da Rússia ao avanço rebelde em Aleppo, levou as forças americanas a comunicarem-se com Moscou para evitar qualquer erro de cálculo que possa resultar em um confronto acidental.
A Rússia, atuando como um dos principais apoiadores do regime de Assad, lançou uma ofensiva aérea contra as forças de oposição nas províncias de Aleppo e Idlib. A comunicação entre os EUA e a Rússia, que já estava em funcionamento através de uma linha direta estabelecida anteriormente, tornou-se ainda mais essencial diante da escalada do conflito, minimizando o risco de erro de interpretação entre as duas potências nucleares.
É importante destacar que as forças dos EUA na Síria têm enfrentado ataques frequentes ao longo do último ano. O tenente-general Ryder confirmou que houve um ataque com foguetes contra uma instalação americana, mas sem ferimentos. Além disso, um ataque de autodefesa foi realizado por forças americanas, visando eliminar potenciais ameaças, mas que também não resultou em feridos.
Diante desse emaranhado de crises e desafios, é evidente que a política dos EUA em relação à Síria demanda um equilíbrio meticuloso entre interesses estratégicos e considerações humanitárias. A situação continua a evoluir e a comunidade internacional observa de perto os desenlaces dessa crise complexa, cujo impacto, como uma onda, pode se propagar muito além das fronteiras sírias, afetando a estabilidade de toda a região e, potencialmente, do mundo.
CNN’s Jennifer Hansler and Michael Conte contributed to this report.