Em uma emocionante revelação que reescreve partes da história da evolução dos mamíferos, cientistas descobriram um novo exemplar de gorgonopsiano, o predador dente-de-sabre mais antigo já encontrado, na ilha de Mallorca, na Espanha. Essa descoberta não apenas preenche uma lacuna significativa no registro fóssil deste grupo de participação primordial, mas também nos leva a uma nova compreensão da antiga ecologia terrestre que existiu antes da ascensão dos dinossauros e muito antes do aparecimento dos primeiros mamíferos. Afinal, quem diria que sob o sol mediterrâneo, uma fera antiga poderia ter navegado por aquelas terras?

Os gorgonopsianos, que viveram há aproximadamente 280 a 270 milhões de anos, eram predadores esguios com caninos longos e serrilhados, e eram os carnívoros dominantes antes da era dos dinossauros. Fósseis desse grupo geralmente são limitados a materiais fossilizados menos antigos. Entretanto, a descoberta recente revela um fóssil que data entre 280 milhões e 270 milhões de anos, um achado que desafia o conhecimento anterior sobre sua existência e distribuição, considerando que muitos fósseis conhecidos são mais jovens. O gorgonopsiano encontrado se torna a peça faltante que liga a história desses seres antigos ao início da linhagem que leva até os mamíferos modernos.

Essas criaturas não se assemelhavam em nada a nossos cães de estimação; enquanto eram quadrúpedes com um longo rabo, possuíam uma aparência que mais lembrava répteis, já que não tinham pelo nem ouvidos visíveis. Isso leva ao ponto crucial que o coautor do estudo, Ken Angielczyk, paleomamologista do Museu de História Natural de Chicago, expôs: “Por favor, não chame isso de ‘cão-lagarto’!” Os gorgonopsianos eram parte de uma linhagem completamente distinta que, embora compartilhando um ancestral comum com os répteis, evoluíram de forma independente.

Os fósseis recém-descritos incluem caninos em forma de faca, partes do maxilar, algumas vértebras, costelas, ossos do tarso e dedos, além da maioria dos ossos de um membro posterior. O estudo foi publicado na revista Nature Communications. O crânio do espécime, embora fragmentado, é estimado em cerca de 18 centímetros. Esse exemplar tinha uma altura aproximada de um cão de médio porte e pesava entre 30 e 40 quilos.

Os gorgonopsianos foram extintos há cerca de 252 milhões de anos e pertencem a um ramo muito antigo da árvore genealógica dos terapsídeos, um grupo que inclui não apenas os gorgonopsianos, mas também os ancestrais dos mamíferos e outros grupos que já não existem. A descoberta desse gorgonopsiano mais antigo levanta um novo nevoeiro de perguntas sobre a evolução dos primeiros mamíferos. Por que os fósséis dos terapsídeos não foram encontrados nas rochas mais antigas, cuja idade foi calculada para cerca de 300 milhões de anos? Uma das implicações intrigantes deste fóssil é a ideia de que eventos significativos na ancestralidade dos mamíferos podem ter ocorrido em ambientes tropicais que, até agora, estavam fora do radar dos paleontólogos.

Josep Fortuny, autor principal do estudo e líder do grupo de pesquisa de biomecânica computacional e evolução no Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont, destaca que essa idade torna o gorgonopsiano descoberto não apenas a mais antiga de sua espécie, mas também o mais antigo terapsídeo conhecido até a presente data. A equipe descobriu os ossos durante expedições realizadas entre 2019 e 2021 e a pesquisa ressuscita um enigma no registro fóssil dos terapsídeos, onde persiste uma grande lacuna temporal do registro fóssil que se estende de 300 milhões de anos até cerca de 270 milhões de anos atrás.

Estudo aprofundado da evolução dos terapsídeos durante o período permiano é crucial para entender a ancestralidade dos mamíferos modernos, segundo os paleontólogos. O paleontólogo Roger Benson, curador de paleobiologia de dinossauros do Museu Americano de História Natural, observou que a descoberta dá suporte à crença de que os terapsídeos já existiam antes do meio do permiano. A localização do achado é notável, pois os fósseis de gorgonopsianos eram conhecidos apenas de regiões áridas de alta latitude na África do Sul e na Rússia. Durante o permiano, Mallorca estava situada no meio do supercontinente Pangeia, que existiu entre 335 milhões e 200 milhões de anos atrás. Os climas ali eram caracterizados por estações muito molhadas e secas.

Por fim, a descoberta desse gorgonopsiano mais antigo em Mallorca sugere que fósseis de terapsídeos antigos ainda podem ser encontrados em locais em que os paleontólogos ainda não procuraram. A ideia de que há locais inexplorados humanos antes da nossa era paleontológica é uma perspectiva empolgante, que nos leva a questionar o que mais pode estar enterrado sob a superfície. Quem sabe o que mais as escavações futuras podem revelar sobre as feras que uma vez dominaram a Terra?

Mindy Weisberger é uma escritora e produtora de mídia científica cujo trabalho já foi publicado na Live Science, Scientific American e How It Works magazine.

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