Deir Al-Balah, Gaza
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Em meio ao desespero e à invocação de um amparo que parece distante, a palestina Alaa Al-Shawish se encontra de pé descalça na lama, segurando um recipiente vazio em uma abarrotada estação de água localizada no centro de Gaza. As temperaturas de inverno a preocuparam intensamente enquanto buscava água limpa para alimentar sua família. Sua vida recententemente transformada em um acampamento improvisado em Deir Al-Balah, Alaa e sua família foram deslocados de Gaza City em meio a bombardeios intensos anteriores pelo exército israelense. Contudo, esta nova habitação está repleta de perigos mortais, agravados pelas condições climáticas rigorosas que assolam a região.

“Estamos morrendo de frio, isso não é vida, isso não é viver. Eu rezo todos os dias para que morramos e sejamos aliviados dessa vida”, desabafa Alaa, lutando contra as lágrimas enquanto expressa a realidade angustiante que enfrenta. “Sem comida, sem água, sem vida”, afirma, enquanto o desespero transparece em suas palavras. Tragicamente, a realidade é ainda mais sombría do que suas lamentações, pois vários palestinos, incluindo ao menos cinco crianças, perderam a vida nos últimos dias devido ao frio severo que se abateu sobre a região.

A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) alertou na última terça-feira que “mais bebês provavelmente morrerão” nos dias seguintes, alertando para a crescente crise humanitária gerada pelo frio intenso. As informações compiladas pelo Ministério da Saúde palestino trazem à tona dados alarmantes: as crianças que faleceram de hipotermia tinham entre três dias e dois anos de idade, refletindo a vulnerabilidade extrema a que esses pequenos estão submetidos.

Mahmoud Al-Fasih holds the body of his three-week-old daughter Sela before laying her to rest.

Mahmoud Al-Fasih segura o corpo de sua filha de três semanas, Sela, antes de enterrá-la.

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“Estou vendo meus filhos morrerem diante dos meus olhos”, declara Yahya Al-Batran, o pai de Jumaa, um bebê de apenas 20 dias que faleceu no último domingo. “Ele morreu de frio, congelou”, acrescenta, enquanto segura o corpo sem vida do filho no hospital. Em meio a esta tragédia, o clima frio não se limita a provocar mortes de crianças. Na sexta-feira, o ministério da saúde relatou que um enfermeiro foi encontrado morto em sua tenda em Al-Mawasi devido ao frio severo, evidenciando que a situação afeta não apenas os pequenos, mas toda a comunidade de Gaza.

As temperaturas em Gaza podem alcançar mínimas de 10 graus Celsius, acompanhados de vento e chuva. As chuvas que caem sobre a região nos últimos dias intensificaram as dificuldades. O inverno trouxe consigo chuvas torrenciais que alagaram tendas e abrigos de refugiados em diversas localidades ao redor de Gaza.

Tendas improvisadas alagadas em Gaza

Nos últimos dias, a Defesa Civil de Gaza informou que recebeu centenas de ligações de emergência de famílias palestinas deslocadas que enfrentam o alagamento de suas tendas e abrigos em Al-Mawasi, Rafah, Deir Al-Balah e na cidade central de Gaza, entre outras localidades da faixa. Imagens capturadas pela CNN em Deir Al-Balah nesta terça-feira mostram acúmulos de água nas ruas que separam as tendas, enquanto crianças e adultos tentam remover a lama, com colchões, tapetes e roupas encharcadas dentro dos abrigos improvisados feitos de pano e nylon.

Mais de 100 tendas em Khan Younis foram severamente danificadas pelas chuvas intensas, conforme informado pela UNRWA na última terça-feira. O desespero da população deslocada se intensifica, pois já enfrentam as consequências devastadoras da guerra e agora lutam contra as tempestades de chuva que se abatem sobre eles. A UNRWA já clamou para que Israel permita a entrada de mais suprimentos de inverno em Gaza, ressaltando a urgência da situação.

Palestinos inspecionam água acumulada no teto de seu abrigo em um acampamento improvisado em Khan Younis, Gaza.

Palestinos inspecionam água acumulada no teto de seu abrigo em um acampamento improvisado em Khan Younis, Gaza, na terça-feira.

Bashar Taleb/AFP/Getty Images

“Cobertores, colchões e roupas quentes estão aguardando autorização para entrar em Gaza”, destacou a UNRWA na última terça-feira. “Mais e regulares assistências humanitárias precisam ingressar em Gaza para que as pessoas possam se manter aquecidas neste inverno.” De acordo com a agência israelense COGAT, que aprova o envio de ajuda para Gaza, 1.290 caminhões de ajuda humanitária entraram na faixa na última semana. Contudo, esse número está consideravelmente abaixo da média de 500 caminhões por dia observada antes do início da guerra em 7 de outubro de 2023.

Salem Abu Amra é um dos civis que enfrenta em primeira mão os horrores do frio e a falta de suprimentos em Gaza. Ele compartilha que sua família está “lutando pela sobrevivência” em sua tenda improvisada em Deir Al-Balah. “Estamos sofrendo com a chuva, fomos inundados”, diz ele. “Tenho três crianças que passaram a noite congeladas no acampamento devido a este clima. Elas precisam de roupas, elas precisam de tendas, tendas adequadas onde possamos viver”.

A reportagem conta com a colaboração de CNN de Nadeen Ebrahim e Abeer Salman.

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