A medida que 2024 se aproxima, centenas de atletas ao redor do mundo se prepararam para competir nas Olimpíadas e Paralimpíadas de Paris. Embora as realizações desportivas mereçam ser celebradas e os medalhistas recompensados generosamente, um novo estudo da CNN traz à tona uma realidade preocupante sobre a desigualdade financeira que persiste entre medalhistas Paralímpicos e Olímpicos. A análise revela que medalhistas Paralímpicos recebem, em média, centenas de milhares de dólares a menos em bônus do que seus colegas Olímpicos, um abismo que merece destaque.
Este ano, muitos medalhistas de ouro das Olimpíadas em Paris desfrutarão de grandes bônus e presentes especiais como recompensa por suas conquistas atléticas. No entanto, a análise da CNN mostra que seus colegas Paralímpicos estão recebendo uma fração desse dinheiro. Apesar do crescente reconhecimento e admiração pelo esporte Paralímpico, as recompensas financeiras oferecidas aos atletas parecem não acompanhar essa evolução.
Em diversos países, os comitês Olímpicos e Paralímpicos nacionais (NOCs e NPCs) funcionam como entidades separadas, regendo seus esportes de maneiras distintas. Nos Estados Unidos, um único organismo, o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos (USOPC), coordena ambos os esportes, enquanto na Austrália existem dois órgãos, o Comitê Olímpico Australiano e a Paralympics Australia. Essa cisão é emblemática do tratamento desigual que os atletas Paralímpicos frequentemente enfrentam.
Além disso, a forma como os financiamentos são distribuídos varia amplamente. O comitê Olímpico da Grã-Bretanha, por exemplo, proíbe a distribuição de bônus aos atletas, enquanto outras nações oferecem compensações significativas. A CNN consultou autoridades de diversos países presentes nas Olimpíadas de Paris, obtendo dados reveladores que mostraram que, pelo menos, 42 países premiaram medalhistas de ouro com mais de $100.000, em contraste com apenas 23 países, incluindo Taiwan, que ofereceram bônus dessa magnitude aos campeões Paralímpicos.
A atleta Paralímpica mais bem-sucedida da Grã-Bretanha, Sarah Storey, expressou sua decepção com as disparidades que persistem: “É muito frustrante ver que nações colocam grande variação na importância do financiamento de seus atletas e que o perfil e a oportunidade para para-atletas são frequentemente subestimados.”
Na cidade-estado de Cingapura, os campeões Paralímpicos ganham um bônus de 500.000 dólares de Cingapura (cerca de $385.000), o maior entre todas as nações. Contudo, isso representa apenas metade da soma que seus homólogos Olímpicos recebem. Enquanto isso, em Hong Kong, os medalhistas Paralímpicos de ouro recebem HK$1,5 milhão (cerca de $190.000), uma quantia generosa, mas 75% menor do que a concedida aos medalhistas Olímpicos de ouro. E em um disparidade ainda mais acentuada, os medalhistas de prata Olímpicos recebem significativamente maiores bônus, que se aproximam do dobro dos recebidos pelos medalhistas de ouro Paralímpicos da cidade.
No Vietnã, os medalhistas de ouro Olímpicos têm um bônus prometido de $1 milhão, enquanto os campeões Paralímpicos recebem apenas 400 milhões de dong vietnamita (cerca de $15.700), uma discrepância impressionante que reflete a realidade desigual enfrentada pelos atletas com deficiência. A CNN tentou entrar em contato com os comitês Paralímpicos de Hong Kong e do Vietnã, mas não obteve respostas.
Com relação aos 205 países e territórios competindo nos Jogos de Paris em 2024, apenas 30 nações oferecem recompensas financeiras equivalentes a medalhistas Olímpicos e Paralímpicos, sendo que 10 delas, incluindo Grã-Bretanha e Noruega, não oferecem recompensas a nenhum dos atletas. Tais evidências mostram que a maioria dos países ainda não reconhece a valiosa contribuição e conquistas dos atletas Paralímpicos como equiparáveis às dos atletas Olímpicos.
Além dos bônus proporcionados por nações e órgãos Olímpicos, as organizações esportivas, como a World Athletics (WA), disponibilizam $50.000 em prêmios para medalhistas de ouro das competições Olímpicas de atletismo, uma prática que não se aplica para os medalhistas Paralímpicos. A World Para Athletics (WPA) declarou que, no momento, não é possível fornecer prêmios em dinheiro, mas espera-se que, no futuro, se abra discussões relevantes sobre esse tema.
No entanto, mesmo diante dessa situação, muitos atletas Paralímpicos expressam otimismo em relação ao futuro. Timothy Hodge, um duplo medalhista de ouro Paralímpico da Austrália, afirmou que a recente decisão de igualdade entre bônus para Paralímpicos e Olímpicos é um “incrível passo em reconhecer-nos como iguais aos nossos colegas Olímpicos”, destacando a importância desse reconhecimento nas dificuldades enfrentadas pelos para-atletas.
Por outro lado, a realidade ainda demanda uma abordagem crítica sobre o tratamento desigual e as estruturas que perpetuam a desigualdade no esporte. Ian Brittain, acadêmico e especialista em esportes Paralímpicos, salientou que as disparidades nos prêmios “enviam claramente a mensagem de ‘menos que’”, exacerbando a discriminação estrutural que os atletas com deficiência enfrentam diariamente.
É essencial que a sociedade, os governos e as organizações esportivas se unam para promover mudanças significativas que reconheçam as conquistas dos atletas Paralímpicos, permitindo-lhes receber compensações financeiras justas que celebrem suas realizações no mesmo grau que seus colegas Olímpicos. O futuro do esporte Paralímpico pode depender da vontade coletiva de equilibrar essas recompensas e construir uma sociedade mais inclusiva.