No recente lançamento do filme Babygirl, dirigido por Halina Reijn e estrelado por Nicole Kidman, a cineasta aborda de maneira audaciosa as complexidades das relações intergeracionais, em especial a diferença de idade que desperta discussões na sociedade. Em uma entrevista concedida à W Magazine, Reijn, de 49 anos, compartilhou suas reflexões sobre a crescente presença de romances de May-December – uma expressão que se refere a relacionamentos em que há uma grande diferença de idade entre os parceiros. Essa temática vem ganhando destaque em várias produções cinematográficas atuais, como em The Perfect Find, de Gabrielle Union, e The Idea of You, com Anne Hathaway, além do próprio projeto de Kidman, A Family Affair.

A diretora criticou a estranheza percebida quando os papéis do sexo masculino e feminino são interpretados por atores da mesma faixa etária. “Se vemos um filme onde o ator masculino tem a mesma idade que a atriz, achamos isso estranho. O que é insano”, declarou. Segundo Reijn, é necessário normalizar a troca de papéis, permitindo que mulheres explorem relacionamentos com diferenças de idade ampliadas sem o peso do olhar crítico da sociedade. “Nós não estamos mais presas em uma caixa”, acrescentou. Ela destacou os desafios de se libertar das expectativas patriarcais que moldam a percepção sobre a sexualidade feminina e a dinâmica entre os gêneros.

No filme, Nicole Kidman, aos 57 anos, interpreta Romy, uma CEO de uma empresa de tecnologia casada, que se envolve em um romance arriscado com Samuel, um estagiário de 28 anos interpretado por Harris Dickinson. Este enredo não apenas desafia o estereótipo de relacionamentos tradicionais, mas também abre espaço para uma discussão mais profunda sobre a vivência e aceitação da sexualidade na maturidade feminina. Kidman, por sua vez, expressou a beleza de ser retratada como uma mulher sexualmente ativa em sua faixa etária, destacando a importância de uma representação mais realista e abrangente das mulheres no cinema.

L-R) Halina Reijn e Nicole Kidman em um photocall para 'Babygirl' durante o 81º Festival Internacional de Cinema de Veneza em 30 de agosto de 2024 em Veneza, Itália.

As partes sensuais de Babygirl foram cuidadosamente executadas em resposta às abordagens de filmes eróticos populares nos anos 90, como Instinto Selvagem e 9½ semanas. Reijn enfatizou a necessidade de que as cenas de sexo sejam representações mais autênticas da experiência humana, ao contrário de uma idealização hollywoodiana. “A sexualidade é uma questão de vai e vem. Não é como uma cena glamourosa de um filme de Hollywood dos anos 90”, explicou a diretora, reforçando seu desejo de agregar uma dose de realidade à narrativa erótica.

Esse desejo de trazer uma nova perspectiva às relações amorosas na telona é uma resposta também ao que Reijn vê como uma cultura americana reprimida em relação ao sexo. Ela compartilha um sentimento comum, refletindo sobre como as próprias lutas internas com a sexualidade se entrelaçam neste projeto. A cineasta acredita que seu trabalho busca não apenas entreter, mas também provocar uma reflexão cultural sobre como a sociedade percebe e reage à sexualidade feminina.

Kidman, em uma recente entrevista à The Hollywood Reporter, trouxe à tona outra faceta relevante do filme. A atriz desabafou sobre como mulheres muitas vezes são marginalizadas em sua sexualidade à medida que envelhecem: “é realmente bonito ser vista dessa forma”. A personagem de Kidman, em sua jornada de autodescoberta e busca de identidade, reflete questões universais que muitos enfrentam na vida adulta, tornando o filme não somente uma história de amor, mas também uma poderosa narrativa sobre autoaceitação e empoderamento.

Além de Kidman e Dickinson, Babygirl também conta com a participação de Antonio Banderas, e está atualmente em exibição nos cinemas. Este filme promete provocar debates significativos sobre a beleza das relações intergeracionais e o reconhecimento do desejo e da sexualidade em todas as idades, reabrindo discussões muitas vezes silenciadas na sociedade contemporânea.

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