Nova Iorque
CNN
Recentemente, a Disney tomou uma decisão controversa ao remover um enredo relacionado a identidade de gênero da sua nova série animada, intitulada “Win or Lose”, que está programada para ser lançada no dia 19 de fevereiro de 2024, exclusivamente no Disney+. A série, produzida pelo estúdio Pixar — uma das duas maiores divisões da empresa de entretenimento — segue uma equipe mista de softball de uma escola intermediária, chamada Pickles, enquanto se prepara para sua grande partida no campeonato. O enredo de cada um dos oito episódios da série possui um foco diferente em um integrante dos Pickles, o que promete trazer uma rica variedade de experiências e perspectivas.
A decisão de retirar a narrativa sobre identidade de gênero focaliza um personagem que, embora continue na série, não apresentará mais suas questões referentes à diversidade de gênero. Fontes próximas à situação informaram à CNN que essa escolha foi realizada há alguns meses, significando que, embora a narrativa deixará de existir, os diálogos do personagem já foram gravados, criando um desafio na produção do episódio final. “Quando se trata de conteúdo animado para um público jovem, reconhecemos que muitos pais preferem discutir certos assuntos com seus filhos em seus próprios termos e cronogramas”, afirmou a Disney em um comunicado.
O site The Hollywood Reporter foi o primeiro a noticiar a remoção do enredo. Essa decisão delicada surge em um contexto de crescente pressão sobre empresas para modificar suas políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em resposta a críticas e ameaças digitais. O ambiente político recente nos Estados Unidos, especialmente com a reeleição do ex-presidente Donald Trump, que criticou abertamente iniciativas de diversidade, influenciou significativamente a abordagem das empresas em relação a esses temas.
Após o anúncio, surgiram questionamentos se a decisão da Disney reflete um afastamento intencional da empresa de suas iniciativas de diversidade em consideração à possibilidade de uma nova administração Trump. A empresa não comentou sobre essa interpretação. No entanto, a posição de Disney sobre sua narrativa e sua abordagem de entretenimento se tornou cada vez mais clara. O CEO da Disney, Bob Iger, afirmou em uma recente entrevista que a companhia não tem interesse em enviar mensagens em suas produções, enfatizando a importância de se manter o foco no entretenimento.
A controvérsia em torno do enredo da série “Win or Lose” não é um fato isolado dentro da história recente da Disney. O filme “Lightyear”, um prequel da famosa franquia Toy Story, também se envolveu em uma polêmica similar ao incluir um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, que quase foi cortado antes de seu lançamento. Tal prática trouxe reações intensas tanto da crítica quanto do público, ressaltando o nervosismo nas decisões criativas da companhia em um clima sociopolítico hostil.
Disney, ao mesmo tempo, tem apresentado representações LGBTQ+ em suas produções mais voltadas ao público adulto, como em “Pose” e “All of Us Strangers”, mostrando que a companhia vê valor em diversificar suas narrativas, ainda que isso venha acompanhada de riscos variados. O histórico de Disney, onde em tempos recentes enfrentou sérias críticas de setores da mídia de direita que a rotulam como uma organização “woke”, revela a fragilidade deste equilíbrio.
Desde seu retorno à posição de liderança, Iger enfatizou que a missão da Disney deve ser entretê-los, não promover direitos. Essa visão foi descrita por ele como um retorno às raízes da empresa, onde o principal objetivo não deve ser a mensagem, mas a capacidade de proporcionar entretenimento ao público. As declarações de Iger conduzem a uma reflexão sobre o futuro da empresa, principalmente no que diz respeito à forma como abordará temas sensíveis e sua responsabilidade na formação de uma nova geração de espectadores.
Enquanto a Disney segue navegando por essas águas turbulentas, observa-se uma crescente influência do que se considera aceitação e diversidade no entretenimento, especialmente com o aumento da conscientização sobre questões identitárias. Essa situação gera debates significativos sobre se a indústria deve ou não solicitar a validação do público jovem, e, se sim, qual o espaço para discursos pluralistas neste contexto.
Em conclusão, as ações da Disney revelam como um ambiente político volátil pode impactar a criação de conteúdos e a narrativa dentro das produções. A diminuição do espaço para discussões e trocas enriquecedoras sobre diversidade dentro de mídias infantis reflete uma hesitação em se alinhar com representações sociais progressistas, pelo menos quando isso se torna um ponto sensível. Essa realidade traz desafios não só para a Disney, mas para toda a indústria de entretenimento, onde o equilíbrio entre entretenimento e responsabilidade social é uma questão cada vez mais importante de se considerar.