A discussão sobre os impactos do chumbo na saúde pública ganhou um novo capítulo com um estudo recente que sugere que a história do chumbo na gasolina pode estar por trás de **mais de 150 milhões de diagnósticos de transtornos mentais** nos Estados Unidos, revelando uma profunda relação entre a exposição ao poluente e as condições psicológicas da população.
No auge do uso de gasolina com chumbo, na década de 1920, até a sua gradual eliminação nos anos 80, durante a qual já existiam provas substanciais de suas consequências negativas para a saúde, o composto tóxico foi amplamente utilizado. Segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA, ainda hoje, algumas aeronaves, carros de corrida e equipamentos agrícolas utilizam gasolina com chumbo, perpetuando os riscos associados.
O coautor da pesquisa, o Dr. Aaron Reuben, professor assistente de neuropsicologia clínica na Universidade da Virgínia, aponta que “mudamos a curva na população em relação a problemas de saúde mental, de modo que todos têm uma maior vulnerabilidade a sintomas de doenças mentais”. Ele destaca que pessoas que já estavam em risco podem desenvolver transtornos diagnosticáveis com maior frequência e mais rapidamente.
O estudo, publicado na revista The Journal of Child Psychology and Psychiatry, sugere que a exposição ao chumbo provavelmente *não teria ocorrido* caso o metal não estivesse presente na gasolina, apontando assim uma escala alarmante de impactos negativos na saúde mental da população. A pesquisa estima que cerca de **151 milhões de diagnósticos de transtornos mentais** nos Estados Unidos possam ser atribuídos a essa exposição.
Os efeitos devastadores do chumbo na saúde mental
A pesquisa reafirma o consenso de que o chumbo é um neurotóxico potente, capaz de provocar danos em quase todos os sistemas orgânicos do corpo humano. De acordo com dados acumulados ao longo do último século, essa substância tem a capacidade de afetar seriamente o desenvolvimento cerebral, contribuindo para uma variedade de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e TDAH.
O Dr. Bruce Lanphear, cientista de saúde populacional da Universidade Simon Fraser no Canadá, que não participou do estudo, afirma que o número de pessoas afetadas pode ser surpreendente para muitos. “Dadas as suas limitações, acho que fizeram um trabalho completo na tentativa de estimar as exposições”, comenta.
Porém, é importante ressaltar que a pesquisa não mediu todas as fontes possíveis de exposição ao chumbo, o que pode significar que os resultados subestimam o problema. “Não conseguimos entender completamente como essas exposições influenciaram a saúde e a doença ao longo do século”, acrescenta Reuben.
O que se pode fazer para minimizar os efeitos?
Diante de um problema tão abrangente e de possíveis impactos sérios na saúde, o que pode ser feito para mitigar esses efeitos? O primeiro passo indicado por Reuben é educar-se sobre as fontes de exposição ao chumbo. “Completamente eliminamos o chumbo da gasolina em 1996 e também das tubulações em 1986. Se você mora em uma casa construída antes dessas datas, deve estar ciente de que pode haver um risco de chumbo no solo ou na casa”, orientação válida para todos que residem em residências mais antigas.
Ainda que isso não signifique que seja hora de deixar sua casa antiga, é crucial verificar a presença de chumbo ao realizar reformas ou perturbar o solo, alerta Reuben. Recentemente, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) reduziu seu nível de triagem de solo, sugerindo que *um em cada quatro domicílios nos EUA* pode ter solo com chumbo considerado potencialmente perigoso.
Para quem já foi exposto, não há uma resposta definitiva sobre se é possível reduzir os níveis de chumbo no organismo. No entanto, Reuben aconselha que se identifique as fontes e se reduza a exposição futura, além de promover a saúde por meio de hábitos saudáveis, como exercícios físicos, uma dieta nutritiva e restrição de álcool e tabaco.
Para que mudanças significativas ocorram, é necessário que instituições invistam em pesquisa e na eliminação do chumbo do meio ambiente, enfatiza Lanphear. “Precisamos que agências reguladoras, como a FDA, garantam que não haja chumbo na comida para bebês”, alerta. Ele enfatiza a necessidade de encontrar soluções para os 20 milhões de lares que ainda contêm riscos de chumbo, um desafio que não pode ser deixado apenas para os cidadãos, mas deve ser encarado pelas autoridades governamentais.
“Temos que parar de colocar esse fardo sobre pessoas e famílias”, conclui Lanphear, sublinhando a urgência de uma abordagem abrangente e eficaz para enfrentar o legado prejudicial do chumbo na gasolina e em outros contextos.