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O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou, na última segunda-feira, que dois ex-altos oficiais da inteligência síria foram processados por crimes de guerra. As alegações acusam esses indivíduos de torturarem cidadãos americanos e outros civis considerados inimigos pelo governo sírio, durante suas prisões em instalações militares. Este caso marca um intenso foco da justiça americana em crimes de guerra que envolvem o tratamento brutal de prisioneiros em situações de conflito.

Os promotores dos EUA afirmaram que os dois oficiais, parte do regime do ex-presidente Bashar al-Assad, supervisionaram operações nas instalações de detenção no Aeroporto Militar de Mezzeh, próximo a Damasco. Os detentos sofreram agressões físicas extremas, incluindo espancamentos, eletrocuções, e foram submetidos a práticas de tortura tão cruéis que incluem serem pendurados pelos pulsos, queimados com ácido, além da remoção de unhas dos pés. Essas atrocidades ocorreram no contexto da guerra civil que devastou o país por mais de dez anos, culminando na recente queda do regime de Assad, conforme noticiado.

Jamil Hassan, de 72 anos, e Abdul Salam Mahmoud, de 65, ambos ex-oficiais de inteligência da Força Aérea síria, “criaram uma atmosfera de terror na Prisão de Mezzeh”, afirmaram os promotores. Eles foram formalmente acusados de conspiração para cometer crimes de guerra através de tratamentos cruéis e desumanos, de acordo com uma denúncia revelada registrada em um tribunal federal em Chicago. Mandados de prisão foram emitidos, mas os acusados continuam foragidos, segundo o Departamento de Justiça.

O Procurador-Geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, emitiu uma declaração afirmando que “os perpetradores das atrocidades do regime Assad contra cidadãos americanos e outros civis durante a guerra civil síria devem responder por seus crimes hediondos”. Ele adicionou que “o Departamento de Justiça tem uma memória longa e nunca deixaremos de trabalhar para encontrar e trazer à justiça aqueles que torturaram americanos”.

Este processo parte de um esforço contínuo do Departamento de Justiça em usar a legislação existente para responsabilizar aqueles que cometeram crimes de guerra, uma tarefa que se considera nem sempre simples, mas que é essencial para garantir justiça às vítimas. O diretor da FBI, Christopher Wray, mencionou o comprometimento da agência em trabalhar com autoridades de todo o mundo para garantir que indivíduos envolvidos em crimes de guerra sejam responsabilizados.

As torturas aconteceram entre janeiro de 2012 e julho de 2019 e se dirigiam a inimigos percebidos do regime Assad, envolvendo principalmente cidadãos sírios, além de nacionais estrangeiros e cidadãos com dupla nacionalidade, incluindo cidadãos dos EUA, conforme relatado na denúncia judicial.

O plano de ação dos acusados e seus co-conspiradores consistia em identificar, intimidar, ameaçar, punir, e em alguns casos, matar indivíduos que o regime sírio suspeitava terem dado apoio aos opositores armados do governo, algo considerado uma traição durante o conflito. A denúncia detalha ainda que os detentos, além da tortura física, eram forçados a ouvir os gritos de outros prisioneiros torturados e até compartilhavam celas com cadáveres de outros detentos, vivendo sob ameaças constantes de serem mortos ou violentados.

Essa grave violação dos direitos humanos não é um caso isolado. Recentemente, o Departamento de Justiça também processou quatro soldados russos acusados de cometerem crimes de guerra contra um cidadão americano durante o conflito na Ucrânia, ressaltando a utilização de uma legislação federal antiga para perseguir aqueles que cometem atrocidades em cenários de guerra.

Recentemente, a situação em solo sírio passou por mudanças significativas, com o regime de Assad enfrentando colapsos após 13 anos em guerra. As lutas acabaram por culminar na queda de Assad, que, em uma declaração de vídeo, enviou uma mensagem de que Damasco estava “liberada”, reafirmando uma nova era no país. Estima-se que mais de 300 mil civis perderam suas vidas durante o conflito, segundo dados da ONU, enquanto milhões foram deslocados e divorciados de suas casas.

Durante meio século, a família Assad governou a Síria de uma maneira brutal, com extensas documentações de prisões em massa, tortura, assassinatos extrajudiciais e atrocidades contra sua população civil. Os notórios centros de detenção sob o regime de Assad serviam como verdadeiros abismos, onde qualquer um considerado opositor ao regime poderia desaparecer, muitas vezes sob condições que provocavam horror e indignação entre a população. Contudo, com a movimentação rebelde em direção a Damasco, vídeos mostravam prisioneiros sendo libertados dessas instalações infames, o que, sem dúvidas, marca um momento de esperança e mudança para a Síria.

CNN’s Rob Picheta, Helen Regan, Holmes Lybrand, Hannah Rabinowitz e Evan Perez contribuíram para este relatório.

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