Na última segunda-feira, um oficial aposentado da polícia de Washington, D.C., foi condenado por ter mentido às autoridades sobre vazamentos de informações confidenciais a Enrique Tarrio, líder do grupo de extrema direita Proud Boys. O ex-tenente do Departamento de Polícia Metropolitana, Shane Lamond, que por muito tempo teve a responsabilidade de supervisionar a divisão de inteligência do Bureau de Segurança Interna da polícia, foi declarado culpado de obstrução de justiça e de prestar declarações falsas durante um julgamento realizado sem júri, com a juíza do Tribunal Distrital dos EUA, Amy Berman Jackson, presidindo o caso.
O veredicto veio à tona após um processo judicial que revelou o envolvimento de Lamond com Tarrio em várias conversas eletrônicas, que, segundo a juíza, apontavam não apenas para uma troca de informações, mas possibilitavam entender a dinâmica corrupta que se estabeleceu entre o ex-oficial municipal e o líder da milícia. A juíza destacou que Lamond não era simplesmente um informante, mas que a relação era muito mais complexa e, até mesmo, comprometida, com evidências claras de que Lamond estava tipificando a Tarrio informações que poderiam prejudicar a investigação que o envolvia.
A audiência culminou com a marcação da data da sentença para o dia 3 de abril, após Lamond ter sido declarado culpado em todos os quatro pontos de acusação. Acusado de vazamento de informações para Tarrio, que estava sob investigação por queimar uma bandeira do movimento Black Lives Matter, Lamond insistiu em seu testemunho que nunca havia compartilhado informações sensíveis com o líder dos Proud Boys. Em uma reviravolta inquietante, Tarrio também atuou como testemunha a favor da defesa de Lamond, afirmando não ter recebido qualquer informação confidencial e muito menos confessado a Lamond sobre o incêndio da bandeira.
A juíza Amy Berman Jackson, no entanto, não considerou confiáveis os testemunhos de Lamond ou Tarrio. Com base nas evidências apresentadas, a juíza afirmou que Lamond claramente não estava utilizando Tarrio como uma fonte. Citação direta da juíza ressalta que “era o oposto” do que se afirmou. Ela mencionou que a troca de mensagens entre Lamond e Tarrio, ao longo de meses, estabeleceu um padrão extremamente prejudicial, evidenciando que “Lamond e Tarrio conversavam, e Tarrio imediatamente disseminava o que aprendia”, tornando evidente um comprometimento severo entre o ex-oficial e Tarrio, um testemunho que ela descreveu como “horrível” e “excessivamente arrogante”.
Após o veredicto, o advogado de defesa, Mark Schamel, expressou sua decepção, afirmando que tudo que Lamond fez estava sendo analisado de uma forma tendenciosa. “É incrivelmente decepcionante ver cada detalhe da conduta do tenente Lamond ser visto sob uma ótica que o distorce”, declarou fora do tribunal. Em outro desdobramento interessante, Enrique Tarrio admitiu anteriormente sua culpabilidade pelo incêndio da bandeira e acabou sendo condenado a 22 anos de prisão por seu papel na insurreição de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio, uma parte do que os promotores chamaram de uma trama para usar a força e manter Donald Trump na Casa Branca após a eleição de 2020.
A relação de Lamond com Tarrio se deu em 2019, e o ex-oficial era responsável por monitorar os Proud Boys sempre que estes chegavam a Washington. Tarrio foi preso em Washington dois dias antes do ataque ao Capitólio. Vale ressaltar que o líder dos Proud Boys não estava presente no local durante o tumulto, que aconteceu quando apoiadores de Trump invadiram o edifício, interrompendo a contagem dos votos do Colégio Eleitoral que finalizava a vitória eleitoral de Joe Biden.
Procuradores alegaram que as evidências do julgamento mostraram que Lamond havia alertado Tarrio de que um mandado de prisão estava assinado contra ele. As mensagens entre os dois revelam discussões preocupantes sobre a possibilidade de membros dos Proud Boys serem responsabilizados por sua participação no ataque. Lamond chegou ao ponto de expressar simpatia por Tarrio em uma mensagem escrita: “É claro que não posso dizer isso oficialmente, mas, pessoalmente, apoio vocês e não quero ver o nome e a reputação do seu grupo arrastados pela lama.” Após essas revelações, Lamond defendeu que nunca apoiou os Proud Boys e se descreveu como alguém que buscava apenas estabelecer um relacionamento cordial com Tarrio para obter informações.
Com 48 anos e residente em Colonial Beach, Virgínia, Lamond foi acusado de um ponto de obstrução da justiça e três pontos de fazer declarações falsas. Ele se aposentou em maio de 2023 após 23 anos de serviços prestados ao departamento de polícia, um legado que agora se vê manchado por alegações de corrupção e deslealdade a sua função.