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A fotógrafa Anastasia Samoylova, natural da Rússia e residente nos Estados Unidos, está chamando a atenção com suas obras que mesclam estética e preocupação ambiental. Conhecida por capturar a beleza perturbadora das paisagens da Flórida, Samoylova se apresenta como uma artista engajada, refletindo sobre as ansiedades climáticas que permeiam a vida cotidiana em um dos estados mais afetados pelos desastres naturais. Em uma conversa recente, ela expressou sua visão sobre a fragilidade dessa aparência vibrante e atraente, ressaltando: “Isso é tudo rosa e atraente, mas nós vamos morrer.” Essa afirmação, proferida por Barbie no filme homônimo de Greta Gerwig, ressoa profundamente com a mensagem que Samoylova deseja transmitir por meio de suas fotografias.
Atualmente, o trabalho de Samoylova pode ser visto tanto no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, quanto na Saatchi Gallery, em Londres. Sua série “Flood Zone”, que examina o que significa viver em um mundo de paisagens em colapso, é um testemunho visual de um estado que se tornou um epicentro das mudanças climáticas. As imagens de Samoylova, repletas de tons pastel e referências visuais ao desespero ambiental, evocam uma sensação estranha de beleza e desconforto. Para ela, a série de 2019 aborda a degradação da realidade em que os habitantes da Flórida estão inseridos, onde a ecologia e a infraestrutura urbana estão em constante deterioração.
Fotografia: Anastasia Samoylova
As obras de Samoylova, como o concreto rachado de cor rosa chiclete e as piscinas inundadas, desafiam a narrativa superficial frequentemente associada às mudanças climáticas, que muitas vezes está centrada em imagens de ursos polares famintos ou florestas em chamas. Sua abordagem é mais sutil e integrada à vida cotidiana da Flórida, destacando como cada decisão política impacta a realidade presente dos moradores. “Tudo está interligado”, afirma Samoylova, ressaltando a importância de confrontar as questões climáticas de maneira direta, em vez de tratá-las como abstrações distantes. Em um contexto onde a resiliência do meio ambiente é frequentemente debatida, ela se preocupa que isolar as mudanças climáticas como algo separado da vida real seja, na verdade, perigoso.
A artista se mudou para a Flórida em 2016 e rapidamente se viu impressionada pelos eventos climáticos extremos e pela infraestrutura envelhecida do estado. Desde então, ela documentou seu novo lar, e sua obra “Flood Zone” continua sendo relevante, especialmente após os devastadores efeitos do furacão Milton, que atingiu a Flórida em 2024 e deixou milhões sem eletricidade. Samoylova não se considera apenas uma fotógrafa ambiental, mas sim uma testemunha da realidade contemporânea, que reflete a complexidade da crise climática em sua obra. “Eu vivo em Miami, e a escolha do meio implica uma responsabilidade de refletir sobre nosso tempo. Caso contrário, por que fotografar?”, indaga.
Fotografia: Anastasia Samoylova
A maneira discreta e observacional de Samoylova retratar a crise ambiental não é acidental; ela reflete sobre como comunicar temas complexos de forma que sejam acessíveis. Como ela admite, “a parte mais desafiadora é não tornar esses assuntos desagradáveis.” As calçadas rosas que caracterizam Miami atraem turistas, mas o verdadeiro impacto emocional vai além do encantamento visual; é uma sensação de desespero existencial que acompanha a beleza. Samoylova acredita que o assunto de mudanças climáticas já está estigmatizado, e em um cenário onde a polarização é constante, a abordagem dela pretende oferecer um espaço para a reflexão e discussão.
Samoylova também estimula o engajamento do público com seus trabalhos, muitas vezes se posicionando como uma observadora em suas próprias exibições, analisando como as pessoas interpretam suas fotografias. Essa interação, para ela, é vital; ela busca abrir sua arte para múltiplas interpretações, permitindo que o espectador forme seu próprio entendimento sem um guia didático. Em sua opinião, a comunicação eficaz da mensagem climática deve evocar emoções e questionamentos que são inclusivos.
Fotografia: Anastasia Samoylova
Além de documentar a crise, Samoylova busca um significado mais profundo em suas fotografias. Ela vê um paralelo com a literatura distópica, citando a obra de J. G. Ballard, “The Drowned World”, onde a Terra é consumida pela água. As imagens de Samoylova, como a do jacaré flutuando em uma água verde turva, não têm um local específico; poderiam ser tiradas em qualquer lugar afetado pela inundação, simbolizando a luta contínua pela sobrevivência em um ambiente que está mudando rapidamente. A autora imagina que exista um elemento poético nos momentos capturados, permitindo que, além do pânico, haja um espaço para a reflexão e a esperança.
O próximo projeto de Samoylova, intitulado “Transformações”, refletirá sua esperança por soluções climáticas. Este novo trabalho se concentrará nas iniciativas que já estão sendo implementadas em todo o mundo, incluindo painéis solares e telhados verdes. Em suas palavras, “precisamos de um pouco de esperança.” A mensagem clara de Samoylova é que, apesar da gravidade da situação, existe também uma busca por soluções e um desejo de provocar mudança através da arte.
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