As pequenas e médias empresas (PMEs) desempenham um papel vital no crescimento econômico do Sudeste Asiático, representando quase 50% do Produto Interno Bruto (PIB) da região. Estão na vanguarda da criação de empregos, inovação e expansão econômica, enfrentando, no entanto, barreiras significativas quando se trata de obter capital de giro adequado para suas operações. Semelhança a outras partes do mundo, estas empresas frequentemente são vistas como arriscadas demais pelas instituições financeiras tradicionais, resultando em taxas de juros elevadas ou até mesmo na recusa de empréstimos.

Kelvin Teo e Reynold Wijaya, dois empreendedores do Sudeste Asiático que se conheceram durante a pós-graduação na Harvard Business School (HBS), perceberam claramente essa lacuna no mercado local. Motivados pela missão da HBS de “fazer a diferença no mundo”, decidiram criar uma solução que pudesse transformar essa realidade desafiadora para as PMEs da região.

“Crescemos como underdogs, sentimos a sorte de estar na HBS e queríamos retribuir à nossa região,” comentou Teo em entrevista ao TechCrunch. “As PMEs são uma causa que ressoa conosco e o financiamento é seu maior ponto de dor.”

A startup, Funding Societies, é uma plataforma de empréstimos para PMEs baseada em Singapura, com escritórios licenciados e registrados na Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã. Desde sua fundação em 2015, a empresa já emprestou mais de $4 bilhões para mais de 100.000 negócios, destacando-se como uma força crescente na área de fintech. Recentemente, a Funding Societies assegurou um investimento de $25 milhões em capital próprio, proveniente do Cool Japan Fund (CJF), que marca a primeira participação do fundo soberano japonês em uma empresa fintech no Sudeste Asiático.

Com o recente aporte, o total de capital arrecadado pela Funding Societies chega a aproximadamente $250 milhões, atraindo investidores estratégicos como Khazanah Nasional Berhad e Maybank, que investiram $40 milhões menos de um ano atrás, além de incluir outros grandes investidores como SoftBank Vision Fund 2 e Alpha JWC Ventures. Teo e Wijaya, com experiências robustas em empresas como Accenture e McKinsey, investiram três anos intensivos de pesquisa em modelos de negócios de sucesso nos Estados Unidos antes de lançar sua própria iniciativa.

A Funding Societies não se limita apenas ao financiamento tradicional; a startup também diversificou suas operações, gerando um valor de transações brutas associadas ao pagamento de mais de $1.4 bilhões desde sua expansão em serviços de pagamento em 2022. Com a nova injeção de capital, a empresa pretende acelerar seu foco principal, que envolve fornecer serviços de financiamento ainda mais ágeis às PMEs nos cinco países do Sudeste Asiático em que atua.

Outro aspecto inovador da Funding Societies é a parceria com o Cool Japan Fund, que proporcionará à start-up a oportunidade de oferecer serviços financeiros a empresas japonesas que buscam expandir operações no Sudeste Asiático, destacando a interconexão entre mercados globais e locais.

A empresa propõe uma gama diversificada de opções de financiamento, que vão desde empréstimos a curto prazo e empréstimos para ciclo de recebíveis até empréstimos garantidos de ativos, cobrindo valores entre $500 e $2 milhões. Essa flexibilidade atende às necessidades variadas das empresas em diferentes estágios de desenvolvimento. Muitas dessas empresas utilizam os fundos para capital de giro ou como empréstimos ponte para alavancar seu crescimento.

Enquanto o panorama de serviços financeiros digitais no Sudeste Asiático continua a expandir, a previsão é que a receita proveniente dos serviços financeiros digitais cresça, com o empréstimo digital liderando essa tendência, representando cerca de 65% da receita total, segundo o e-Conomy SEA Report 2024. O mercado de empréstimos para PMEs na região tem se tornado cada vez mais consolidado desde um investimento significativo de $144 milhões liderado pelo SoftBank Vision Fund 2 em fevereiro de 2022. De acordo com Teo, essa consolidação fortaleceu ainda mais a posição de liderança da Funding Societies no mercado.

Cabe destacar que, em tempos de crise, uma oportunidade pode surgir para aqueles que estão bem posicionados. Teo explicou que espera uma maior consolidação entre fintechs focadas em crédito no Sudeste Asiático, em virtude de muitas delas estarem chegando ao fim de suas rodadas de financiamento e enfrentando dificuldades em levantar mais recursos em um clima de investimentos adverso. Ele observou que, desde o investimento do SoftBank Vision Fund, o mercado macroeconômico passou por mudanças significativas, com a falência de bancos nos EUA impactando a oferta de crédito para credores não bancários.

Em uma fase desafiadora como esta, a Funding Societies fez sua primeira aquisição em dezembro de 2022, ao compra do fintech de pagamentos CardUp respaldado pela Sequoia, o que quase triplicou sua receita enquanto manteve suas equipes intactas. Teo mencionou também que a startup realizou investimentos em três empresas durante este período. Um relatório sobre impacto social e econômico, desenvolvido em conjunto com o Asian Development Bank (ADB) em 2020, revelou que as MSMEs apoiadas pela Funding Societies contribuíram com impressionantes $3,6 bilhões ao PIB e geraram aproximadamente 350.000 novos empregos, além de ajudar as PMEs a aumentar sua receita em 13% por meio de uma rápida liberação de recursos e um processo de aplicação simples.

Com essas iniciativas, Funding Societies não só pretende transformar a paisagem de financiamento na região, mas também desempenhar um papel essencial no fortalecimento do ecossistema de PMEs no Sudeste Asiático, permitindo que essas empresas não apenas sobrevivam, mas prosperem no cenário econômico atual.

Funding Societies

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