Recentemente, o Google anunciou o fim de um teste significativo em que retornava resultados de busca nos tradicionais “links azuis” para pesquisas relacionadas a hotéis em alguns mercados da União Europeia. Essa mudança foi uma resposta às queixas relacionadas ao cumprimento do Ato de Mercados Digitais (DMA), criado pelo bloco. Os links azuis mostravam informações básicas, em contrapartida aos resultados mais elaborados que incluem fotos, preços e a localização dos hotéis em um mapa. Essa situação levanta questões importantes sobre a concorrência no setor de hotelaria e a experiência dos usuários.

Oliver Bethell, diretor jurídico do Google, publicou um post em seu blog onde afirma que os resultados desse teste demonstraram que a recuperação dos links azuis é prejudicial para os hotéis, resultando em uma queda de mais de 10% no tráfego desses estabelecimentos. Essa diminuição, segundo ele, torna mais difícil para os viajantes encontrarem opções de alojamento, o que impacta diretamente a capacidade de fazer reservas diretas. Além disso, Bethell mencionou que a transição para resultados mais básicos não teve um efeito positivo significativo no aumento do tráfego para sites de comparação, que agregam informações sobre quartos de hotéis. O post alegou que “o tráfego para sites intermediários permaneceu em grande parte estável.”

A implementação da DMA começou no início de março de 2023 e, antes disso, o Google já estava se preparando para atender às exigências impostas pelo regulamento. Sites de comparação de preços criticam o Google, argumentando que a empresa está burlando as restrições do DMA ao embutir recursos ricos em seus resultados de busca, o que concorrentes consideram um desestímulo para os usuários utilizarem serviços de busca vertical e, assim, enfraquece a competitividade do mercado.

As implicações da situação são consideráveis. Violações confirmadas do DMA podem resultar em multas que atingem até 10% do faturamento global anual do Google, além de outras penalidades para reincidências. Atualmente, a Comissão Europeia está investigando o cumprimento da DMA pela empresa, destacando uma análise das questões relacionadas à auto-preferência. Esta investigação permanece em andamento, e muitos esperam que suas conclusões tenham um impacto significativo nas operações do Google na Europa.

Em resposta às críticas sobre sua interpretação das regras da DMA, o Google argumenta que o cumprimento do regulamento está prejudicando a qualidade dos resultados de busca para os usuários locais. A empresa alega estar sendo forçada a degradar a qualidade para evitar favorecer seus próprios serviços em detrimento de sites concorrentes de comparação.

O teste com os links azuis é visto como uma estratégia adicional de lobby da gigante das buscas, permitindo que a empresa apresente dados que apoiam sua visão de que o regulamento está retrocedendo a qualidade dos resultados de busca na Europa ao que era encontrado na era da web 1.0. Isso suscita dúvidas sobre o impacto dessa abordagem na opinião pública e na eficácia de sua argumentação.

Apesar do pequeno alcance do teste, a sua condução pelo Google e a maneira como os resultados foram apresentados acende discussões sobre a interpretação do DMA por parte das autoridades regulatórias. O desafio maior está em encontrar um caminho que mantenha a competitividade no setor sem prejudicar os consumidores e as empresas europeias.

Outro ponto a destacar é o tempo que a Comissão Europeia tem levado para chegar a conclusões preliminares no caso da auto-preferência do Google, que é maior do que o necessário nas investigações de outras empresas de tecnologia, como Apple e Meta. Enquanto as preliminares nesses casos já foram concluídas e resultaram em ações de conformidade das empresas, as investigações sobre a Google continuam sem movimentação perceptível.

A postura contínua do Google de contestar as queixas relacionadas à DMA e a forma como enquadra a regulamentação como um obstáculo, em vez de uma solução, sugere que a empresa está buscando uma interpretação menos onerosa das regras que evite que seus serviços se tornem meros “tubos de links azuis”. “Para cumprir com a DMA, já fizemos mudanças significativas que desviaram tráfego de hotéis para intermediários, efetivamente elevando os preços para os consumidores”, afirmou Bethell, mencionando ainda a possibilidade de eliminar totalmente os “recursos úteis”, o que resultaria em uma “situação de perda-ganha” para os usuários e empresas europeias.

“Aguardamos com expectativa discussões sobre essas conclusões com a Comissão Europeia e o trabalho conjunto para encontrar uma solução mais equilibrada”, concluiu Bethell. A Comissão Europeia foi contatada para um posicionamento sobre as declarações feitas no blog do Google.

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