Com a chegada das festividades de final de ano, lares e estabelecimentos ao redor do mundo se preparam para adornar suas decorações natalinas, onde as árvores de Natal ocupam um lugar especial, simbolizando união, celebração e esperanças renovadas. Nos Estados Unidos, essas árvores podem ser vistas em todos os lugares, desde salas de estar comuns até a famosa praça do Rockefeller Center em Manhattan e a histórica Casa Branca em Washington, D.C. Entretanto, à medida que as tradições se mantêm firmes, uma sombra paira sobre elas: as mudanças climáticas. O que antes era uma celebração alegre agora enfrenta complicações derivadas do aquecimento global, e a produção dessas árvores enfrenta desafios sem precedentes.
Como qualquer cultivo agrícola, as árvores de Natal são impactadas pelo aumento das temperaturas e pelos eventos climáticos extremos que têm se tornado cada vez mais frequentes. De acordo com o National Centers for Environmental Information, “o clima da Terra está mudando para um mais quente. E, assim como a maioria da sociedade e do meio ambiente, as árvores de Natal não estão se adaptando rápido o suficiente a essas mudanças.” Uma combinação de invernos mais quentes e alongados períodos de crescimento está facilitando a proliferação de pragas e doenças que ameaçam as árvores que embelezam nossas celebrações. A combinação de chuvas intensas e solos saturados coloca as árvores em risco de contrair um tipo perigoso de organismo semelhante a fungos, que ataca as raízes, debilitando e, muitas vezes, matando-as rapidamente.
Além disso, o calor extremo e a seca prolongada tornam as árvores de Natal mais suscetíveis a danos, como o escurecimento das agulhas e o desenvolvimento estagnado. Somente o calor incomum pode causar a morte prematura das árvores, uma preocupação crescente para os produtores. Em Oregon, onde mais de um terço das árvores de Natal do país são cultivadas, pesquisadores da Universidade Estadual de Oregon relataram que uma onda de calor recorde no verão de 2021 destruiu cerca de 70% das mudas de árvores de Natal plantadas naquele ano, enquanto as agulhas de cultivos mais maduros secaram. A previsão é que a diminuição no número de árvores viáveis resulte em preços mais altos para os consumidores, embora especialistas tenham atribuído o aumento contínuo dos preços das árvores de Natal nas últimas décadas a uma escassez de suprimentos que remonta à recessão de 2008, em adição às perdas causadas pelo tempo extremo.
O frio extremo pode ser igualmente destrutivo. As árvores de Natal são suscetíveis a danos por geadas, assim como chuvas intensas. Na Carolina do Norte, segundo maior produtor de árvores de Natal dos EUA, os agricultores enfrentaram os impactos do furacão Helene em setembro, que causou deslizamentos de terra que representaram uma ameaça particular às árvores cultivadas em encostas de montanhas, destruindo operações menores e podendo custar à indústria dezenas de milhões de dólares, conforme informou Justin Whitehill, professor assistente da Universidade Estadual da Carolina do Norte e líder do programa de genética de árvores de Natal da instituição.
Estimativas da Universidade Estadual da Carolina do Norte sugerem que até 40.000 acres de terra estão dedicados à produção de árvores de Natal no estado, com cerca de 5 ou 6 milhões de árvores colhidas anualmente e um valor de varejo coletivo de 250 milhões de dólares ou mais. Apesar desses desafios, Whitehill acredita que a indústria ainda se mantém forte porque foi forçada a evoluir e se adaptar às mudanças climáticas que vêm impactando as safras.
Whitehill reitera a necessidade de evolução, afirmando: “As mudanças climáticas vêm acontecendo discretamente por décadas. E, por isso, a indústria vem evoluindo ao longo do tempo.” Um exemplo claro dessa evolução é o programa de genética da Universidade Estadual da Carolina do Norte. Pesquisadores estão estudando os mecanismos de defesa natural das árvores de Natal, com foco em uma variação popular chamada Fraser fir, com a esperança de aplicar a genética e a biologia molecular para ajudar as árvores a se adaptarem às mudanças climáticas e aumentarem suas chances de sobrevivência.
“Com nosso trabalho de melhoramento no programa de genética, estamos tentando identificar árvores que tenham um pouco mais de resiliência a essas mudanças climáticas,” afirmou Whitehill. Além de determinar como a genética pode ajudar as árvores de Natal a suportar temperaturas mais altas, sua equipe também está buscando estratégias para protegê-las contra pragas. O aumento das temperaturas representa uma grande preocupação para os produtores de árvores de Natal. Mesmo que suas colheitas sobrevivam a pragas e doenças, Whitehill alerta que a estética também é um problema. “O grande desafio, acredito eu, com as mudanças climáticas e as árvores de Natal, será a perda e retenção das agulhas.”
Condições mais quentes podem levar as árvores a perder suas agulhas muito cedo, tornando-as menos atraentes para aqueles que buscam adquirir uma para as festas de fim de ano. Os coníferos, as plantas que produzem cones e são geralmente perenes, precisam se ajustar a temperaturas próximas ao congelamento por várias semanas para entrar em seu estágio “dormant” antes de serem colhidas. Entretanto, o que se observa é que as pessoas estão comprando árvores de Natal cada vez mais cedo no ano, enquanto o clima mais ameno do outono proporciona menos tempo para que as árvores atinjam esse estágio de dormência, onde essencialmente entram em um sono profundo e estão vivas, mas não estão mais crescendo ou crescem muito minimamente.
A transição para a dormência é diferente para cada árvore, mas para as árvores de Natal esse momento é crítico, pois é um período de absorção de água e nutrientes essenciais. Se uma árvore de Natal é colhida durante essa transição ativa, pode facilmente começar a perder suas agulhas pouco após o corte. “Estamos, basicamente, estressando as árvores ao extremo. Elas estão sendo, de certa forma, mortas,” afirma Whitehill, ressaltando a necessidade urgente de adaptabilidade neste cenário desafiador.
A trajetória da produção de árvores de Natal frente às mudanças climáticas exige mais do que apenas uma adaptação pontual; é uma oportunidade para reavaliar práticas agrícolas, fortalecer a resiliência das culturas e oferecer ao consumidor um produto que continue a simbolizar a festividade, mesmo diante de adversidades. Ao final, todos nós, amantes do Natal, podemos apenas esperar que essa rica tradição continue a prosperar, mesmo que as circunstâncias exijam criatividade e inovação dos produtores.