A recente divulgação de um relatório abrangente sobre ética envolvendo Matt Gaetz, ex-deputado republicano da Flórida, lançado por investigadores da Comissão de Ética da Câmara, trouxe à tona casos preocupantes de conduta imprópria que vão muito além da política tradicional. O documento, obtido pela CBS News, expõe que Gaetz pagou várias mulheres — incluindo uma adolescente de 17 anos — por relações sexuais e esteve envolvido em atividades ilícitas, como compra e uso de drogas ilegais, algumas das quais ocorreram em seu escritório no Capitólio. Essa investigação, que se arrastou por um longo período, resultou em conclusões que qualificam o ex-congressista como responsável por violar diversas leis estaduais relacionadas à conduta sexual durante seu tempo no cargo.
O relatório de 37 páginas revela que a Comissão de Ética encontrou evidências substanciais de que Gaetz infringiu regras da Câmara e padrões de conduta, incluindo prostituição, relação sexual com uma menor, uso de drogas ilícitas, aceitação de presentes impróprios e obstrução das funções do Congresso. Essa revelação representa o fechamento de um capítulo controverso da carreira de Gaetz, que se destacou como um defensor feroz de Donald Trump e se viu no centro de várias polêmicas políticas.
Gaetz deixou seu cargo no Congresso em novembro após o anúncio de que Trump o indicaria para o cargo de procurador-geral. Contudo, em face da oposição de alguns colegas republicanos, ele se retirou da consideração apenas uma semana depois. A divulgação do relatório ético, que era aguardada para a segunda-feira, marca o fim — pelo menos por ora — da turbulenta passagem de Gaetz pelo Capitólio, onde se tornou uma figura polêmica e um dos membros mais proeminentes da facção pró-Trump na Câmara.
Apesar de suas negações veementes sobre qualquer conduta inadequada, no contexto da investigação, a Comissão de Ética afirmou que Gaetz não compareceu para oferecer depoimento sob juramento, embora tenha enviado respostas escritas a algumas perguntas. Os detalhes do relatório reabrem discussões sobre alegações de conduta inadequada que cercam o ex-deputado há anos. Os investigators basearam suas conclusões em testemunhos de testemunhas que relataram haver recebido pagamentos para encontros sexuais com Gaetz, mensagens de texto que discutiam essas transações e recibos do Venmo e do PayPal.
Dentre as revelações mais chocantes, o relatório destaca festas regadas a sexo e drogas, incluindo uma viagem às Bahamas em 2018, onde testemunhas afirmam que Gaetz usou ecstasy e teve relações sexuais com quatro mulheres. O documento pontua que, de 2017 a 2020, o ex-deputado fez pagamentos a mulheres que totalizaram mais de 90 mil dólares, sugerindo que essas transações estavam ligadas a atividades sexuais e ao uso de substâncias ilícitas.
O relatório ainda relata que em uma festa ocorrida em 2017, Gaetz teve relações sexuais com “Vítima A”, que na época tinha apenas 17 anos e terminara recentemente o terceiro ano do ensino médio. A jovem, que recebeu 400 dólares em dinheiro daquele deputado naquela noite, relatou que considerava esse valor como pagamento pelo ato sexual. O testemunho dela ressalta que ela não informou a Gaetz sobre sua idade na época, nem ele fez questão de saber.
Durante o desenrolar da investigação, Gaetz negou ter se envolvido sexualmente com menores. Embora o Departamento de Justiça tenha investigado anteriormente o deputado por violações das leis de tráfico sexual, não foram apresentadas acusações. A Comissão não conseguiu encontrar evidências suficientes para afirmar que Gaetz violou a lei federal de tráfico sexual, visto que as mulheres envolvidas tinham todas 18 anos ou mais no momento dos fatos.
O documento ressalta que, apesar de todas as mulheres que relataram encontros sexuais com Gaetz afirmarem que foram consensuais, uma das entrevistadas mencionou que o uso de drogas nas festas pode ter comprometido sua capacidade de consentir plenamente. Uma outra mulher ainda acrescentou que, ao analisar certas situações do passado, sentia-se violada.
Além das acusações de conduta sexual inadequada e uso de drogas, Gaetz também enfrentou críticas por aceitar presentes de viagens luxuosas que excediam limites permitidos, como a viagem às Bahamas em 2018, e por facilitar a obtenção de passaporte para uma mulher com quem teve relações, falseando sua condição de constituintes ao Departamento de Estado.
Após sua saída, Gaetz afirmou ao influenciador conservador Charlie Kirk que planejava dedicar os próximos anos a “lutar pelo presidente Trump.” Ele também fez questão de mencionar que considerava que “oito anos é tempo suficiente no Congresso dos Estados Unidos”. Entretanto, nesta última semana, ele levantou a possibilidade de retornar e participar da eleição para o cargo de porta-voz da Câmara, despertando a curiosidade e a incredulidade de muitos observadores políticos.
A Comissão de Ética da Câmara inicialmente decidiu manter o relatório em sigilo, mas mudou de posição em uma votação secreta no início deste mês, na qual dois membros republicanos da comissão votaram a favor de sua liberação. A comissão é composta por dez membros, divididos igualmente entre republicanos e democratas, o que torna ainda mais surpreendente a revelação do relatório em meio a um ambiente político tão polarizado.