A recente investigação das autoridades de saúde na Europa sobre o medicamento Ozempic, amplamente utilizado para o tratamento do diabetes tipo 2, levanta preocupações significativas em relação à segurança do uso desse fármaco. Um foco central das investigações é um estudo que sugere uma ligação entre o uso de Ozempic e uma condição rara, mas grave, conhecida como neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION), que pode levar à perda de visão. O medicamento, desenvolvido pela Novo Nordisk e cujos efeitos já eram discutidos em várias partes do mundo, pode ter consequências inesperadas que agora estão sendo examinadas com atenção.
No dia 17 de dezembro, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) anunciou que iria revisar dois estudos dinamarqueses recentemente publicados, que indicam que o Ozempic, nome comercial da semaglutida, mais do que dobrou o risco de desenvolvimento da NAION. Este estudo começou a chamar a atenção devido à gravidade da condição associada ao uso do medicamento. Segundo a Cleveland Clinic, NAION é uma condição rara que resulta em fluxo sanguíneo inadequado para uma parte do nervo óptico, responsável por conectar o olho ao cérebro. Sem a circulação adequada, as áreas afetadas incham, perdem sua funcionalidade e eventualmente morrem, levando a uma perda severa de visão ou até mesmo à cegueira.
Um dos traços mais intrigantes da NAION é que a perda de visão ocorre de forma súbita e indolor, afetando tipicamente um olho de cada vez. O reconhecimento desse quadro, especialmente em um contexto de popularidade crescente do Ozempic, é crucial para a saúde pública, levando a uma maior investigação e precaução em sua utilização.
A EMA já havia indicado, anteriormente, que evidências anteriores não apoiavam a conexão entre a semaglutida e a NAION. No entanto, as novas descobertas levantaram questões sobre a segurança do medicamento, uma preocupação que ganha ainda mais relevância à medida que mais informações são coletadas. Em uma declaração oficial, a Novo Nordisk expressou seu compromisso com a segurança do paciente, reafirmando que tanto o Ozempic quanto o Wegovy são seguros para uso. “Após uma avaliação minuciosa dos estudos e da avaliação interna de segurança da Novo Nordisk, acreditamos que o perfil de benefício-risco da semaglutida continua inalterado”, declarou a companhia farmacêutica.
É interessante notar que a investigação da EMA ocorre poucos meses após a publicação de estudos semelhantes nos Estados Unidos. Em 3 de julho, um estudo publicado no JAMA Ophthalmology indicou que pacientes prescritos com semaglutida apresentaram mais de quatro vezes mais chances de desenvolver NAION. Os pesquisadores analisaram dados de 16.827 pacientes na área de Boston entre 2017 e 2023, revelando um quadro preocupante, mas que também elucida a necessidade de mais investigações sobre a questão.
Conforme destacado pelo Dr. Joseph Rizzo, diretor de neuro-oftalmologia do Mass Eye and Ear, os pesquisadores não podem determinar com certeza se a semaglutida realmente causa a NAION, uma vez que os achados do estudo foram fundamentados na revisão de dados existentes. O especialista enfatizou a necessidade de um ensaio clínico randomizado e controlado de maior escala para estabelecer definitivamente a ligação entre o componente do medicamento e a doença. “O que isso mostra é uma associação entre o uso de semaglutida e o desenvolvimento dessa condição onde você perde a visão”, afirmou Rizzo em entrevista ao NBC News.
À medida que as investigações avançam, a inquietação entre os pacientes e profissionais de saúde sobre o uso de Ozempic e de outros medicamentos da mesma categoria cresce. A situação exige um monitoramento contínuo e mais pesquisas para investigar o real impacto do medicamento na saúde ocular e na qualidade de vida dos usuários. Os dados disponíveis até o momento apontam para a importância de se exercitar a cautela e considerar riscos ao optar por tratamentos voltados para o controle do diabetes e da obesidade que, embora possam apresentar benefícios significativos, também não estão isentos de efeitos adversos.
Portanto, é crucial que pacientes, profissionais de saúde e reguladores mantenham um diálogo aberto e informativo sobre as implicações do uso de Ozempic, não apenas para garantir o bem-estar individual, mas também para contribuir com a saúde pública de forma mais ampla.