Em uma reviravolta que mistura laços históricos e política internacional, o presidente da Argentina, Javier Milei, foi agraciado com a cidadania italiana durante sua visita oficial à Itália. De acordo com um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Itália, a concessão se deu com base na legislação de “ius sanguinis”, que garante a nacionalidade através da linha de sangue. Milei, que possui três avós italianos que emigraram para a Argentina em 1926, vê essa conquista como um retorno às suas raízes familiares e um símbolo do fortalecimento das relações entre a Argentina e a Itália.

Durante o mesmo evento, a irmã de Milei e sua conselheira política, Karina Milei, também recebeu a cidadania. O contexto da visita incluiu a participação dos irmãos Milei na convenção política do partido de extrema direita Irmãos da Itália, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni. A convenção, intitulada “Atreju”, remete a um personagem do filme de 1984 “A História Sem Fim”, e foi uma oportunidade para que Milei fortalecesse laços com líderes europeus.

Aos comentar sobre o processo que levou à concessão da cidadania, Meloni afirmou que Milei começou o processo logo no início do ano, um feito notável considerando que a maioria dos cidadãos leva muitos anos para obter a cidadania italiana. A questão da cidadania está sujeita a mudanças devido à introdução iminente de novas regras que aumentarão os custos de solicitação e complicarão o processo para crianças nascidas na Itália, mas filhas de pais estrangeiros.

Cabe ressaltar que a escolha do momento é significativa, pois a proposta de novas leis de cidadania pode dificultar a entrada de novos cidadãos e impactar a vida de muitos que esperam há anos por esse direito. No entanto, o governo italiano não se pronunciar sobre como as novas regras poderiam afetar os Milei, e se os avós de Javier mantiveram sua cidadania italiana ou a abandonaram ao se tornarem cidadãos argentinos gerou certa controvérsia.

As críticas à concessão de cidadania à dupla não tardaram a surgir. Riccardo Magi, um parlamentar da oposição que é uma voz ativa a favor da cidadania por direito de nascimento, expressou seu descontentamento nas redes sociais, destacando que a decisão foi uma “palmada na face” de crianças que nasceram ou residem permanentemente na Itália e estão em busca da cidadania há anos, muitas vezes sem sucesso. Em suas palavras, ele ironizou a facilidade com que Milei obteve o status, contrapondo com as dificuldades enfrentadas por muitos italianos natos.

“Se você nunca residiu na Itália e seu nome é Javier Milei, a conexão com ancestrais distantes parece ser suficiente para obter a cidadania, enquanto centenas de jovens que falam italiano e frequentam escolas no país permanecem em espera”, escreveu Magi. Essa diferença de tratamento gerou um forte debate sobre os direitos de cidadania e como são aplicados de maneira desigual.

Meloni, que também está interessada em fortalecer laços com o presidente argentino, já havia demonstrado apoio a Milei durante sua visita à Argentina, uma parceria que sugere um alinhamento ideológico entre os dois. Durante essa visita, Milesi presenteou Meloni com uma figura de ação que o representa segurando uma motosserra, simbolizando suas propostas de cortes orçamentários.

A relação entre Argentina e Itália, além de histórica, agora ganha um novo capítulo com a cidadania concedida a Milei e sua irmã, simbolizando um legado de laços familiares que se entrelaçam com o contexto político atual. Resta saber como essa nova cidadania influenciará as políticas de Milei e o impacto nas relações bilaterais entre Argentina e Itália em um momento em que a política europeia busca se alinhar às forças emergentes da América Latina.

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