Um episódio chocante de violência e justiça vigilante ocorreu no último sábado em San Juan Amecac, uma localidade situada a aproximadamente 67 quilômetros da Cidade do México, onde três homens foram linchados por uma multidão enfurecida que os acusava de sequestrar e roubar uma menina. Este caso reflete um fenômeno alarmante no país, onde a percepção de impunidade tem levado as comunidades a tomarem a justiça em suas próprias mãos, um sentimento crescente que se intensifica em meio a um contexto de violência e insegurança.
O incidente ocorreu na tarde de sábado, quando cerca de 300 moradores se reuniram para linchar os três acusados. As autoridades locais anunciaram que, quando a polícia chegou ao local, os homens já estavam sem sinais vitais, fruto de uma cadeia de agressões que incluíram espancamentos e enforcamentos. O governo local divulgou uma declaração na qual afirmou que “três homens morreram após serem detidos e linchados pela população pelo suposto roubo e sequestro de um menor”. Em uma evidência clara da brutalidade que permeia o caso, relatos da mídia local indicaram que a multidão não apenas linchou, mas também espancou os homens até que sucumbissem aos ferimentos.
A crescente vigilância nas comunidades do México é um sintoma de uma crise de segurança mais ampla, que se arrasta desde 2006 e é alimentada por cartéis de drogas e a incapacidade do sistema judicial de fazer cumprir a lei de maneira eficaz. Em junho deste ano, um incidente semelhante ocorreu em Atlixco, onde quatro homens foram linchados e depois queimados após serem acusados de roubar um veículo. Um mês antes, em março, uma mulher foi linchada em Taxco após ser acusada de assassinar uma menina de oito anos. A escalada da violência é sustentada por uma sensação de impotência e desconfiança em relação às instituições e à justiça formal, levando muitos a acreditar que a única maneira de buscar reparação é por meio da força bruta.
De acordo com especialistas, o aumento das linchamentos no México é emblemático de um povo que, diante da crescente violência, se sente compelido a agir fora do escopo da lei. A resposta deles é muitas vezes justificada pelo que percebem como um fracasso do sistema de justiça, que frequentemente demonstra uma incapacidade de proteger seus cidadãos ou punir adequadamente os criminosos. Em alguns casos, as alegações feitas por cidadãos não são acompanhadas de provas concretas, como nos episódios de 2022, quando um conselheiro político jovem foi linchado e queimado sob acusações de tráfico de crianças que circulavam em grupos de mensagens, que mais tarde se mostraram infundadas. Esses casos revelam a fragilidade do estado de direito em várias regiões do México e levantam uma questão fundamental: a que ponto a população deve ir em busca de justiça, e quais são as consequências desse tipo de ação?
Essencialmente, as consequências de tais atos são profundas e se estendem além do que ocorreu naquele dia fatídico em San Juan Amecac. O aumento da violência e da vigilância pode levar a um ciclo vicioso de mais crimes, mais códigos de conduta informais impostos pela população e, em última análise, uma deterioração ainda maior da confiança no sistema judicial. Como a socióloga mexicana Marta Lamas caracterizou, “quando a população sente que a lei não os protege, eles se tornam seus próprios juízes”. Este fenômeno é amplificado pela falta de efetividade da polícia e do judiciário, que permanece ineficaz em garantir segurança e justiça, criando um terreno fértil para o crescimento do vigilantismo.
A situação no México, portanto, é complexa e requer uma análise cuidadosa. A busca permanente por segurança e justiça é legítima, mas a forma como essa busca é conduzida – através da violência e do linchamento – suscita questões morais e éticas que devem ser abordadas. A sociedade deve encontrar caminhos para revitalizar a confiança nas instituições responsáveis pela justiça e, ao mesmo tempo, garantir que as vozes das comunidades vulneráveis sejam ouvidas e respeitadas. Caso contrário, o caminho que se abre é sombrio, marcado por um ciclo interminável de violência e vingança.