Após mais de seis décadas sob sanções econômicas dos Estados Unidos e os equívocos do próprio governo cubano, a vida na ilha comunista pode se transformar em um verdadeiro campo minado. A perspectiva de que Marco Rubio, um dos mais enfáticos críticos do regime cubano, seja nomeado como secretário de Estado no governo de Donald Trump acende um alerta sobre o que pode estar por vir. Se confirmado, Rubio poderá tornar a já difícil realidade econômica de Cuba ainda mais insustentável, levando a situação do país a um ponto crítico.
Marco Rubio, filho de exilados cubanos, construiu sua carreira política no combate ao que considera uma tirania a 90 milhas da costa americana. Com a expectativa de sua confirmação como secretário de Estado, diversas análises indicam que ele poderá aumentar a pressão sobre o governo cubano. “Ele chegou ao auge do poder em um governo dos Estados Unidos que nunca teve antes e vai utilizar isso contra Cuba para comprovar sua reputação como um conservador extremista”, afirmou Peter Kornbluh, coautor do livro “Back Channel to Cuba: The Hidden History of Secret Negotiations Between Washington and Havana”. A ideia de que Rubio pode ser o catalisador final na já profunda crise cubana é uma preocupação que permeia comentários de especialistas e analistas na matéria.
O histórico de Rubio em relação a Cuba é notório. Desde seu início na política, ele tem pressionado por um endurecimento do embargo comercial em vigor e, se for confirmado em sua nova função, terá a oportunidade de utilizar sua influência para implementar ainda mais sanções econômicas. O que se desenha é a possibilidade de que Rubio tome medidas que vão desde aumentar o apoio a dissidentes cubanos até restringir ainda mais as viagens de cidadãos norte-americanos para a ilha. Há quem diga que essa postura possa até imprimir uma nova dinâmica para as relações Estados Unidos-Cuba, redefinindo o que se conhece atualmente.
No entanto, cabe a ele enfrentar questões extremamente desafiadoras no cenário global, como a guerra da Rússia na Ucrânia e a crescente influência da China, especialmente na América Latina. Cuba, mesmo sendo um tema central na sua trajetória política, poderá não estar no topo da sua lista de prioridades. Contudo, conforme observam os estudiosos, a relação de Rubio com sua herança cubana e as experiências de sua infância na Flórida o levam a ser particularmente sensível às questões que envolvem a ilha. Manuel Roig-Franzia, autor de “The Rise of Marco Rubio”, comenta: “Seria chocante para mim se ele não encontrar uma maneira de elevar o perfil de Cuba na política externa americana”. Isso reflete uma verdade que muitos cubanos e cubano-americanos reconhecem, de que as emoções e as realidades geopolíticas sobre Cuba nunca estiveram tão entrelaçadas quanto agora.
Rubio já demonstrou que tem a capacidade de influenciar a política dos EUA em relação a Cuba durante o governo anterior de Trump, onde foi uma figura chave nas decisões sobre o país. De acordo com um diplomata que preferiu não se identificar, “Rubio tinha o poder nas mãos em relação a Cuba; diziam a nós para fazer o que ele quisesse, porque era preciso mantê-lo feliz”. Isso levanta a questão de como uma eventual confirmação de Rubio poderá continuar a moldar as relações entre os dois países de forma ainda mais intensa. Além disso, a inabilidade do governo cubano de responder adequadamente à pressão externa poderá levar a uma escalada de tensões que têm relação direta com a ineficácia do governo local em manejar crises internas.
Ainda que alguns analistas apontem para um endurecimento nas relações, qualquer tentativa de intensificar as sanções sobre Cuba deverá ser feita com cautela, já que existe o risco de exacerbar uma possível crise humanitária na ilha. Ricardo Herrero, diretor executivo do Cuba Study Group, declarou que, atualmente, não existem planos concretos para lidar com um possível estado fracassado tão próximo das costas americanas. “Cuba parece estar se aproximando do status de um estado falido, ao invés de construir um estado democrático e estabelecido”.
O que realmente se vislumbra, à medida que a confirmação de Rubio se aproxima, é uma mudança na perspectiva dos próprios cubanos sobre as promessas de ajuda e democracia ocidentais, especialmente após a recente abertura promovida durante a administração Biden, que relaxou restrições sobre viagens e ampliou voos para a ilha. O cenário, antes mais otimista, com o potencial para um diálogo mais aberto, pode rapidamente desmoronar se Rubio implementar uma agenda mais agressiva.
Com a possibilidade de ainda mais exacerbação nas tensões entre os Estados Unidos e Cuba, os cubanos irão pressionar por sua sobrevivência em um ambiente que já é brutalmente desafiador. Os líderes cubanos, embora tenham inicialmente ignorado as ameaças de novas sanções, demonstraram abertura à negociação direta, mas permaneceram firmes na recusa de ceder às demandas americanas por reformas políticas significativas. O presidente Miguel Diaz-Canel reafirmou essa postura, destacando a autoconfiança cubana de que o país poderá superar suas adversidades, afirmando: “o país está pronto. Nós vamos seguir em frente, sem medo, confiando em que com nosso próprio esforço e talento podemos seguir à frente”. No entanto, a realidade econômica na ilha continua sendo um reflexo sombrio dessa retórica.
Recentemente, Cuba foi acometida por apagões em toda a ilha, destacando a fragilidade da infraestrutura no país, manifestando problemas que há muito o afligem sob um regime comunista em crise. Assim, à medida que a transição de liderança nos Estados Unidos aguarda um desfecho, a realidade cubana fortalece a narrativa de que o sofrimento de seus cidadãos não pode ser ignorado e que as consequência das decisões políticas de Rubio, se concretizadas, poderão ter resultados dramaticamente impactantes não apenas em Cuba, mas também nas relações bilaterais entre os Estados Unidos e seus vizinhos do sul.