O recente anúncio da General Motors (GM) sobre o fechamento do programa de robotaxis da Cruise está gerando ondas de choque em diversas partes do mercado automobilístico, afetando diretamente investidores minoritários da empresa de veículos autônomos. Entre os impactos, destaca-se a Microsoft, que em 2021 investiu na Cruise e, como resultado da decisão da GM, deverá registrar um prejuízo significativo de US$ 800 milhões. De acordo com um registro regulatório, a Microsoft informou que essa perda será contabilizada em “outros rendimentos e despesas”, não sendo incluída nas orientações financeiras do segundo trimestre divulgadas em 30 de outubro de 2024. As estimativas indicam que esse impacto pode reduzir em aproximadamente US$ 0,09 os lucros diluídos por ação no segundo trimestre fiscal.
A Cruise, subsidiária da GM, foi criada com a ambição de revolucionar o transporte urbano por meio de veículos autônomos e, até o momento, a GM detém cerca de 90% das ações da empresa. Recentemente, a GM revelou que possui acordos com outros acionistas minoritários para recomprar suas ações, o que elevará sua participação na Cruise para mais de 97%. A companhia, em busca de captar os bilhões de dólares necessários para trazer os robotaxis à realidade, trouxe vários investidores, incluindo Microsoft, Walmart, Softbank, T. Rowe Price e Honda.
O marco mais significativo nesse percurso foi em janeiro de 2021, quando a Cruise levantou US$ 2 bilhões em uma rodada de investimento que contou com a participação da Microsoft e dos parceiros Honda e GM. Essa injeção de capital elevou a avaliação da Cruise para impressionantes US$ 30 bilhões. Além disso, as duas empresas firmaram uma parceria estratégica de longo prazo que previa o uso da Azure, a plataforma de computação em nuvem da Microsoft, para o serviço de transporte autônomo da Cruise.
No entanto, o cenário mudou drasticamente na última terça-feira, quando a GM anunciou formalmente que deixaria de financiar o desenvolvimento do projeto de robotaxis. Em vez disso, a montadora decidiu absorver a Cruise e integrar seus esforços à própria estrutura da GM, focando no desenvolvimento de recursos de assistência ao motorista e, eventualmente, em veículos pessoais totalmente autônomos. A GM havia adquirido a startup Cruise em março de 2016 por US$ 1 bilhão e, desde então, investiu mais de US$ 10 bilhões na empresa com o objetivo de comercializar a tecnologia de veículos autônomos por meio do modelo de robotaxis.
Na mesma onda de desinvestimentos, a Honda, que também é investidora minoritária da Cruise, anunciou que suspenderá o financiamento de uma joint venture com a GM e a Cruise para lançar um serviço de robotaxi no Japão. Essa decisão reafirma a dificuldade enfrentada pelas empresas tradicionais ao tentar entrar no mercado de veículos autônomos, que já se provou ser um grande desafio tecnológico e financeiro.
Diante desse cenário, é possível observar um retrato mais amplo do futuro dos veículos autônomos, que ainda é incerto e marcado por uma série de desafios, tanto tecnológicos quanto financeiros, que tornam a trajetória de empresas como a Cruise complexa e repleta de obstáculos. O fechamento do programa de robotaxis acende um alerta para outras empresas investidoras e a própria indústria automobilística, uma vez que evidencia que o caminho para a realização dos sonhos de veículos autônomos não é tão simples quanto se imaginava.
Assim, a derrocada de um dos projetos mais promissores da era das inovações tecnológicas traz à tona a questão: até que ponto a indústria automobilística, tradicionalmente conservadora, está disposta a arriscar para alcançar essa nova fronteira do transporte? Veremos como as ações subsequentes das grandes montadoras e empresas de tecnologia se desenrolarão nos próximos meses, e se haverá novos modelos de negócio que possam ressurgir das cinzas dessa situação. Independentemente disso, fica claro que a interseção entre tecnologia e transporte continuará sendo um terreno fascinante e inexplorado.