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Um militar dos EUA foi sentenciado a cinco anos de prisão por sequestro e estupro de uma adolescente, ocorrido no ano passado. Essa decisão vem do tribunal do distrito de Naha, localizado na ilha de Okinawa, Japão, e foi revelada por um representante da corte à CNN. Este caso não é apenas uma tragédia individual, mas também um reflexo de um problema mais amplo que afeta a relação entre as forças armadas dos EUA e a comunidade local, que já possui um histórico de tensões.
A sentença foi proferida com base na constatação de que o crime representou uma “grave violação sexual”, conforme explicado pelo juiz Tetsuro Sato, durante uma audiência que ocorreu na última sexta-feira. O tribunal validou a credibilidade do testemunho da vítima, que indicou sua idade por meio de gestos e outros meios, corroborado por imagens de câmeras de segurança. O caminho para a justiça neste caso é, sem dúvida, um testemunho da fragilidade do sistema de defesa dos direitos humanos em determinadas áreas vulneráveis.
“O réu tinha conhecimento de que a adolescente tinha menos de 16 anos. Ele estava ciente de que ela poderia ter dito ‘pare’ e pode não ter consentido”, observou o juiz. A análise do relacionamento e da diferença de idade entre os dois indivíduos, que nunca se haviam conhecido antes, ilustra a natureza maléfica do crime cometido.
O acusado, identificado como Brennon R. E. Washington, membro da Força Aérea dos EUA, foi indiciado em 27 de março por “intercurso sexual não consensual” e “sequestro indecente”. Segundo as autoridades, ele teria levado a jovem japonesa de 16 anos para sua residência em dezembro e praticado atos sexuais não consensuais. O processo judicial teve início em 12 de julho, após um longo processo de investigação e influência dos meios de comunicação locais.
A Força Aérea dos EUA entregou o marido militar às autoridades japonesas no mesmo dia do indiciamento. Após, Washington foi liberado sob fiança e transferido para a base de Kadena, onde passou a ficar sob custódia, conforme confirmou um porta-voz do governo à CNN. Este episódio desnudou a urgência da discussão sobre a responsabilidade e a conduta da comunidade militar dos EUA no exterior, especialmente em países onde as relações históricas ainda permanecem tensas.
“Estamos de coração partido e lamentamos profundamente o dano causado às vítimas e suas famílias”, declarou o brigadeiro General Nicholas Evans, comandante da Base Aérea de Kadena, em uma entrevista à mídia local na última sexta-feira. Segundo ele, o assédio sexual é um crime grave e não reflete, de forma alguma, os valores dos militares dos EUA.
Este incidente é mais um capítulo em uma longa história de casos criminosos que envolvem pessoal militar dos EUA em Okinawa, que abriga diversas instalações militares americanas. A repetição desses crimes pode exacerbar ainda mais as tensões com os residentes locais, que há muito tempo se opõem à presença das tropas e armamentos americanos na ilha. Esse fenômeno não é novo; em 1995, três militares dos EUA estupraram uma estudante de 12 anos em Okinawa, levando a uma onda de protestos e a uma crítica generalizada à presença militar americana.
Além disso, em 2016, o estupro e o assassinato de uma jovem de 20 anos por um ex-trabalhador de uma base militar em Okinawa provocaram protestos em massa na capital da ilha, com dezenas de milhares de residentes exigindo a retirada das bases militares dos EUA de Okinawa. As consequências desse clamor popular levaram a imposições de toque de recolher para o pessoal militar na região.
Outros episódios de crimes envolvendo pessoal militar americano no Japão, como o caso em que um oficial da Marinha dos EUA matou dois nacionais japoneses enquanto dirigia na montanha Fuji em 2021, demonstram que a relação entre a presença militar americana e as comunidades locais continua problemática.
O governador de Okinawa, Denny Tamaki, expressou em junho deste ano ser “extremamente lamentável” as alegações de estupro e sequestro contra Washington, enfatizando a necessidade de “protestar vigorosamente contra o exército dos EUA e outras organizações envolvidas”. Esta posição reflete a crescente frustração e preocupação da comunidade local com a situação, e uma demanda por um engajamento mais significativo em questões relacionadas à justiça e segurança.
O governador também afirmou que seu gabinete “tomará uma posição firme ao lidar com a situação”. A resposta da comunidade militar dos EUA a esses incidentes é vital, e o tenente da Força Aérea, Alvin G. Nelson III, destacou que “todos os membros do serviço dos EUA são esperados a manter os mais altos padrões de conduta”. Ele também acrescentou que a liderança da 18ª Asa da Força Aérea está “profundamente preocupada com a gravidade deste crime alegado” e tem trabalhado junto às autoridades locais para investigar as alegações.
“A Força Aérea dos EUA está comprometida em responsabilizar aqueles que forem condenados por atos criminais”, concluiu. Este compromisso, no entanto, deve ser acompanhado por ações proativas para reforçar a confiança entre a comunidade militar e os residentes locais, de maneira a prevenir futuros incidentes e promover a paz e a segurança na região.
CNN’s Edward Szekeres, Himari Semans, Rinka Tonsho e Lex Harvey contribuíram para este relatório.