Tokyo (AP) — Em um movimento estratégico que promete reformular o cenário automotivo global, as montadoras japonesas Honda e Nissan anunciaram sua intenção de se unir, com o objetivo de se tornarem o terceiro maior fabricante de veículos do mundo em termos de vendas. Este passo significativo ocorre em um momento em que a indústria automobilística passa por transformações dramáticas, especialmente no que diz respeito à transição de combustíveis fósseis para opções mais sustentáveis e elétricas.

Na segunda-feira, as duas empresas assinaram um memorando de entendimento que também inclui a Mitsubishi Motors, um membro menor da aliança Nissan, que concordou em participar das discussões para a integração de suas operações. O presidente da Honda, Toshihiro Mibe, afirmou que ambas as companhias buscam unificar suas operações sob uma nova holding. Inicialmente, a Honda liderará a nova estrutura de gestão, mantendo os princípios e as marcas de cada empresa intactos. Mibe expressou a expectativa de que um acordo formal de fusão seja alcançado até junho, com a conclusão do negócio prevista para agosto de 2026.

Embora a proposta de fusão tenha causado entusiasmo no setor, Mibe destacou que muitos pontos ainda precisam ser estudados e discutidos. Ele não descartou que a possibilidade de não implementação do plano não pode ser considerada zero, indicando assim a cautela envolvida nas negociações iniciais.

As montadoras japonesas têm enfrentado desafios nos últimos anos, especialmente ao ficam atrás de grandes concorrentes em termos de veículos elétricos. Neste contexto, a fusão entre Honda e Nissan pode auxiliar ambas as empresas a reduzirem custos e a se recuperarem de um tempo perdido. Fontes não confirmadas afirmam que tais discussões sobre a fusão foram impulsionadas, em parte, pelas aspirações da fabricante de iPhones taiwanesa Foxconn de se associar à Nissan, que já possui uma aliança com a Renault SA da França e a Mitsubishi.

Se concretizada, a fusão poderá resultar em uma gigante com valor de mercado superior a US$ 50 bilhões, considerando a capitalização de mercado das três montadoras. Juntas, Honda e a aliança Nissan com Renault e Mitsubishi conseguirão competir em escala com a Toyota Motor Corp. e a alemã Volkswagen AG. A Toyota já conta com parcerias tecnológicas com a Mazda Motor Corp. e a Subaru Corp., o que torna o cenário ainda mais competitivo.

Vale destacar que, mesmo após uma fusão, a Toyota, que lançou 11,5 milhões de veículos em 2023, continuaria sendo a principal montadora japonesa. Caso a fusão ocorra, as três empresas menores (Honda, Nissan e Mitsubishi) juntas produziriam cerca de 8 milhões de veículos, sendo que a Honda fabricou 4 milhões, a Nissan 3,4 milhões e a Mitsubishi pouco mais de 1 milhão em 2023.

Outro fator que torna esta fusão relevante é a recente parceria anunciada entre Nissan, Honda e Mitsubishi, que visa compartilhar componentes para veículos elétricos, como baterias, e desenvolver colaborativamente software para condução autônoma, demonstrando uma vontade clara de adaptação a um futuro elétrico. A Honda é considerada a única parceira japonesa em condições de resgatar a Nissan, que enfrenta dificuldades financeiras desde o escândalo que envolveu seu ex-presidente Carlos Ghosn, preso em 2018.

Ghosn, que fugiu para o Líbano após ser liberado sob fiança, comentou sobre a fusão planejada, chamando-a de “movimento desesperado”. No entanto, especialistas indicam que essa integração pode proporcionar à Honda acesso a caminhões e SUVs de grande porte, que atualmente não estão em seu portfólio, além de beneficiá-la com a experiência da Nissan na fabricação de baterias e veículos elétricos.

Aparentemente, as dificuldades enfrentadas pela Nissan incluem a recente demissão de 9.000 funcionários, o que representa cerca de 6% de sua força de trabalho global, além de uma redução de 20% na capacidade produtiva em resposta a uma perda trimestral de 9,3 bilhões de ienes (aproximadamente US$ 61 milhões). A empresa também passou por reestruturações gerenciais, resultando em uma redução de 50% no salário de seu CEO, Makoto Uchida, em uma tentativa de fazer a montadora mais eficiente e responsiva às rápidas mudanças do mercado.

A expectativa de Uchida é que, se a integração se concretizar, a companhia poderá oferecer um valor ainda maior a uma base de clientes mais ampla. Por sua vez, autoridades do governo japonês, como o secretário do gabinete Yoshimasa Hayashi, comentaram que, enquanto detalhes do plano não foram divulgados, as empresas japonesas precisam se manter competitivas em um mercado que está mudando rapidamente.

Recentemente, a Fitch Ratings rebaixou a perspectiva de crédito da Nissan para “negativa”, citando problemas de lucratividade, em parte devido a cortes de preços no mercado norte-americano. Contudo, a agência destacou que a Nissan possui uma estrutura financeira robusta, com reservas em caixa de 1,44 trilhões de ienes (cerca de US$ 9,4 bilhões).

As ações da Nissan subiram 1,6% na segunda-feira, e, surpreendentemente, tiveram um aumento superior a 20% após a divulgação das notícias sobre a fusão. As ações da Honda também registraram uma alta significativa de 3,8%, apesar de um lucro líquido que caiu quase 20% no primeiro semestre do ano fiscal de abril a março em decorrência das dificuldades de vendas na China. Este movimento reflete uma tendência crescente de consolidação na indústria automobilística, iniciando uma nova era que pode redefinir a competição no setor.

Esta é uma história em desenvolvimento.

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