A rápida ascensão de produtos de nicotina em pequenas embalagens, como o Zyn, tem se tornado um sério problema para famílias e instituições de ensino nos Estados Unidos. Estes pequenos pacotes de nicotina, que são frequentemente vendidos em postos de combustíveis e lojas de conveniência, tornaram-se populares entre as crianças e adolescentes, apesar de serem regulamentados para venda apenas a pessoas acima de 21 anos. Muitas crianças relatam já ter experimentado esses produtos, que prometem uma alternativa sem fumo, mas se revelam extremamente preocupantes devido ao seu potencial vicioso e as consequências para a saúde.
Os produtos de nicotina como Zyn são especiais pois não requerem o uso de um dispositivo externo como cigarros ou vaporizadores, tornando-se mais fáceis de ocultar e difíceis de detectar por pais e educadores. Essa nova categoria de produtos, chamada de “pouches” ou “sacos de nicotina”, são colocados entre o lábio e a gengiva e contêm nicotina ou nicotina sintética, além de aromatizantes que variam de menta a frutas. A complicação ocorre porque, por serem relativamente novos no mercado, muitos adultos, especialmente pais e educadores, podem não saber como identificá-los.
As preocupações sobre o uso de Zyn estão crescendo, nas escolas, os relatos de seu uso tornaram-se evidentes e preocupantes. Dr. Bonnie Halpern-Felsher, professora de pediatria e fundadora do Tobacco Prevention Toolkit, expressou sua preocupação em relação ao aumento desses produtos entre os jovens, referindo-se a Zyn como uma questão “pervasiva” e “realmente difícil de detectar”. Ela ressalta que muitos adolescentes não compreendem completamente que esses produtos contêm nicotina, que pode ter efeitos profundos e adversos no desenvolvimento cerebral.
Desde sua introdução em 2014 nos Estados Unidos, o uso de Zyn entre os jovens tem aumentado rapidamente, tornando-se um dos produtos de nicotina mais utilizados pela faixa etária jovem, atrás apenas do uso de vaporizadores, conforme os dados do Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Embora a lei proíba a promoção de produtos de tabaco por meio de anúncios tradicionais na televisão e revistas, os produtos como Zyn estão amplamente disponíveis online, onde os jovens são facilmente alcançados.
O fenômeno dos “Zynfluencers” nas redes sociais, onde jovens, muitas vezes influenciados por atletas profissionais e personalidades, promovem esses produtos, adiciona uma camada extra de preocupação. Por mais que a empresa sueca Swedish Match, fabricante do Zyn, afirme direcionar seu marketing especificamente para adultos com mais de 21 anos e mantenha suas páginas de produtos restritas a maiores de idade, o acesso das crianças a esses produtos continua a ser um problema crescente. Dr. Halpern-Felsher também destaca que a disponibilidade destas pouches de nicotina pode levar a casos de intoxicação por nicotina, uma vez que as crianças são mais suscetíveis à dependência do que os adultos.
Os riscos associados à nicotina são severos e impactantes. Promovido como uma forma de obter energia instantânea, os efeitos a longo prazo do uso de nicotina são opostos e podem prejudicar a estrutura, função e conexões no cérebro em desenvolvimento. Isso levanta preocupações sobre a capacidade das crianças de prestar atenção, aprender e recordar informações. Produtos como Zyn contêm quantidades significativas de nicotina, que variam de 3 mg a até 12 mg por embalagem; isso permite que crianças se exponham a níveis de nicotina equivalentes ao consumo de várias carteiras de cigarros ao longo do dia. Optimistas consideram que esse tipo de uso, por veicular uma falsa sensação de segurança, pode esconder sérios problemas de saúde.
Além disso, estudos indicam que a maioria dos adolescentes não percebe que os produtos de nicotina podem causar dependência e diversas complicações de saúde, como doenças cardiovasculares, câncer, problemas dentários e doenças nas gengivas. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças anunciou que, em outubro, cerca de 1,8% dos estudantes do ensino fundamental e médio, aproximadamente 890 mil jovens, relataram o uso de pouches de nicotina, um aumento significativo em relação a anos anteriores, colocando esse comportamento em uma trajetória crescente. Se as tendências atuais continuarem, a preocupação com o futuro da saúde pública entra em um novo nível de criticidade.
Rumo a estratégias de contenção no uso juvenil de produtos de nicotina
Para lidar com essa preocupação crescente, Philip Morris, uma gigante do tabaco que adquiriu a fabricante do Zyn, investe pesado no desenvolvimento e promoção de produtos sem fumo. Dados indicam que as vendas de Zyn aumentaram 300 vezes desde 2016, com a companhia relatando 131,6 milhões de latas vendidas no primeiro trimestre de 2024, um crescimento inesperado relacionado ao aumento da criatividade nos métodos de marketing junto ao público jovem. Ao mesmo tempo, as ações para restringir a venda destes produtos para jovens também começaram a ganhar força política, com discussões sobre regulamentações e proibições mais rígidas em várias jurisdições.
No final de 2023, a Norwegian Match North America afirmou estar recrutando políticas mais rígidas para evitar que seus produtos sejam vendidos a menores de idade, após incidentes que provocaram investigações. Enquanto novas estratégias de marketing continuam a ser introduzidas, emergem preocupações sobre a eficácia das legislações existentes, levando a um questionamento da necessidade de uma abordagem mais centralizada e efetiva em relação à venda e promoção de produtos de nicotina entre os jovens.
As vozes em prol de um maior controle sobre o acesso à nicotina não param de crescer, e a necessidade de uma conscientização educativa entre jovens, pais e educadores também é crítica. Especialistas como Dr. Dennison Himmelfarb alertam para a necessidade de uma regulamentação clara e enfática que impeça a promoção de qualquer produto que contenha nicotina para jovens, sendo fundamental proteger um grupo já vulnerável para garantir um futuro mais saudável e seguro.
À medida que a batalha contra o uso de produtos de nicotina avança, as implicações sociais e de saúde pública crescem, e a integração de esforços educacionais e comunitários eficazes será um passo vital para garantir que as futuras gerações não sejam tragadas por esta nova onda de dependência. O diálogo em família sobre os riscos associados aos produtos de nicotina e vigilância sobre mudanças comportamentais tornam-se mais importantes do que nunca.