A poluição do ar em Nova Délhi, capital da Índia, atinge níveis alarmantes, afetando especialmente as crianças, que se veem em meio a um dilema angustiante: permanecer na cidade, conhecida pela sua grave contaminação ambiental, ou deixar seus lares em busca de um ar mais limpo. Neste cenário crítico, muitos pais se encontram na difícil posição de decidir entre a segurança de seus filhos e suas responsabilidades diárias.

Amrita Rosha, uma mãe de 45 anos, é um exemplo dessa realidade. Há várias semanas, ela decidiu deixar Nova Délhi com seus filhos Vanaaya, de quatro anos, e Abhiraj, de nove, que sofrem de problemas respiratórios agravados pela poluição. Com seus medicamentos em mãos, Amrita partiu para Omã, um país no Golfo, buscando oferecer um ambiente mais saudável para suas crianças. No momento de sua partida, Rosha comentou: “Não temos outra opção senão deixar Délhi.” O desespero é visível na sua voz, refletindo as frustrações de muitos outros que, assim como ela, têm que buscar alternativas para amparar a saúde de seus filhos.

A situação de Amrita não é única. Anualmente, a chegada do inverno traz uma densa camada de smog sobre Délhi, escurecendo os dias e causando sérios problemas respiratórios em crianças com sistemas imunológicos ainda em desenvolvimento. O cenário se agrava a cada ano, e estima-se que, desde 2013, os níveis de poluição na capital indiana tenham superado em 70 vezes os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados são alarmantes e revelam uma emergência de saúde pública que não pode mais ser ignorada.

Enquanto famílias com recursos, como a de Amrita, conseguem facilmente fugir da poluição, a realidade é bem diferente para as famílias em situação de vulnerabilidade econômica. A poucos quilômetros de distância, em uma favela de Délhi, Muskan, uma mãe preocupada, observa as gotículas restantes do remédio utilizado no nebulizador de seus filhos. A dificuldade de aquisição de medicamentos a leva a racionar o tratamento para Chahat, de três anos, e Diya, de um ano. Com um sustento modesto que vem da coleta de materiais recicláveis e seu marido trabalhando como operário, Muskan se preocupa com o futuro de seus filhos. “Quando eles tossem, eu tenho medo de que eles possam morrer”, diz ela, claramente angustiada.

A situação das crianças em Délhi se tornou uma questão de saúde pública que alarmou até mesmo as autoridades locais. O governo de Délhi, representado pela chefe do governo, Atishi, qualificou a situação como uma emergência médica em andamento. “As crianças estão sendo forçadas a depender de esteroides e inaladores para respirar,” afirmou Atishi em declarações recentes. Diante da gravidade da situação, a Suprema Corte da Índia interveniu para monitorar as ações tomadas para combater a poluição, que é atribuída a várias fontes, incluindo emissões de veículos, queimadas de culturas e obras de construção.

As autoridades tentaram uma variedade de medidas, como a proibição de veículos, a suspensão de obras e até mesmo a pulverização de água em vias públicas. No entanto, mesmo após tais esforços, Délhi continuou a ser classificada como a cidade mais poluída da Índia. De acordo com o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, a capital indiana é marcada na lista de cidades mais afetadas pela poluição, esperando uma solução de longo prazo que ainda parece distante.

Na área médica, os efeitos da poluição na saúde das crianças são evidentes. O Dr. Manjinder Singh Randhawa, um pediatra que trabalha na unidade de terapia intensiva pediátrica do Hospital Rainbow Children’s, relata que, neste ano, ele diagnosticou várias crianças mais novas com asma em condições críticas pela primeira vez. A relação entre o aumento da poluição e doenças respiratórias começa a se solidificar à medida que os sintomas se espalham pelas comunidades mais afetadas.

Além disso, a situação se torna ainda mais delicada quando a poluição ultrapassa os limites de segurança do ar. No mês passado, em algumas partes de Délhi, os níveis de poluição excederam 1.750 no Índice de Qualidade do Ar, uma leitura que coloca em risco a saúde de toda a população, especialmente das crianças. O PM 2.5, partículas finas que penetram profundamente nos pulmões, frequentemente supera em mais de 70 vezes os limites estabelecidos pela OMS. Estudos indicam que a exposição prolongada a essas partículas pode levar a problemas de saúde a longo prazo, incluindo comprometimento cognitivo nas crianças.

Frente a este cenário, muitos pais que ainda permanecem em Délhi vivem em estado constante de ansiedade e desespero. Profissionais como Urvee Parasramka, que tem uma filha de dois anos com problemas respiratórios, compartilham suas preocupações e estratégias de enfrentamento. “Eu sou agora uma mãe superprotetora”, confessa Urvee, que monitora constantemente a saúde da filha e limita sua exposição ao ambiente externo. Para ela, essa preocupação se traduz em uma nova dinâmica familiar e a busca por opções melhores, levando-a a considerar uma mudança para Guwahati, onde a qualidade do ar é significativamente melhor.

Por outro lado, aqueles que não têm as mesmas oportunidades se vêem sem alternativas e lutam com a crescente dívida de consultas médicas e tratamentos. Profissionais como Deepak Kumar, um trabalhador autônomo e pai de quatro filhos, têm que enfrentar as limitações financeiras para proporcionar o tratamento necessário a sua filha mais nova, que, devido à poluição, precisa de nebulizações constantes. As histórias de famílias como a de Deepak iluminam a conveniente verdade de que a poluição não é apenas uma questão ambiental, mas uma questão de direitos humanos e de igualdade social.

É impossível ignorar o sofrimento das crianças em Délhi, que têm suas vidas permanentemente afetadas pela poluição. Como sociedade, é nossa responsabilidade garantir que o direito a um ar limpo e a um futuro saudável seja priorizado, não só por aqueles que podem pagar por essa realidade, mas por todos. Somente assim poderemos esperar transformar a angústia em esperança.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *