A humanidade sempre teve uma necessidade intrínseca de nomear e classificar tudo ao seu redor. No entanto, nem sempre fazemos isso de forma acertada. O setor que pode ser chamado, entre outros nomes, de tecnologia climática, surge como um exemplo claro disso. Essa categoria de empresas e tecnologias busca, de maneira ampla, minimizar ou até reverter nosso impacto no clima, ao mesmo tempo em que nos ajuda a nos adaptar às mudanças climáticas que se tornam cada vez mais evidentes.
O termo “tecnologia climática” pode ser considerado um avanço em comparação com seu antecessor, “tecnologia limpa”. Em um passado não muito distante, as startups que hoje se enquadram nesse rótulo se autodenominavam de maneira diferente, frequentemente associando-se à uma gama de produtos que incluíam desde aspiradores robóticos a novos suprimentos domésticos. O termo tecnologia climática, por outro lado, permite uma compreensão mais clara e focada do que se trata esse setor.
Contudo, é importante salientar que a tecnologia climática possui cerca de uma década de existência, e, como a natureza humana é avessa à estagnação, há uma crescente sensação de que é necessário inovar também na denominação. Com o tempo, o escopo da tecnologia climática se expandiu a tal ponto que sua definição passou a parecer um pouco desordenada. Nos últimos anos, algumas alternativas começaram a ganhar espaço nas discussões do setor.
Uma dessas alternativas, chamada “saúde planetária”, surgiu como um conceito viável e foi cunhada pela primeira vez na revista médica The Lancet, em 2014. Esse termo foi adotado por alguns investidores para tentar lidar com a confusão de escopo e, embora tenha um apelo considerável, a maioria das pessoas ainda prefere o já familiar “tecnologia climática”.
Esse cenário, no entanto, não foi ajudado pela eleição de Donald Trump, que gerou discussões sobre a fuga na terminologia relacionada à “clima”. Embora “clima” não tenha se tornado uma palavra suja, muitos falam abertamente sobre distanciar-se desse termo. É interessante notar que essa migração já começara a ocorrer antes da eleição. Projeções sugerem que em cinco anos estaremos nos referindo à tecnologia climática por um nome completamente diferente.
Mas qual seria esse novo nome? Especialistas e entusiastas da área têm começado a apresentar sugestões, embora a maioria ainda esteja à procura de um termo que realmente ressoe. A saúde planetária continua sendo uma alternativa pertinente, por ser descritiva e já ter um início promissor. A plataforma de dinamismo americano, que contém um capítulo de energia limpa, no entanto, é associada a uma única empresa de capital de risco – a a16z – e mistura diversos outros temas, incluindo defesa, segurança pública e educação.
Outro termo que tem surgido é o de “tecnologia de fronteira”. Contudo, quem considera “tecnologia climática” abrangente, achará “tecnologia de fronteira” ainda mais extensa e imprecisa. E há também o conceito de “deep tech”, que, enquanto abarca áreas como inteligência artificial, robótica e computação quântica, não necessariamente reflete o foco nas questões climáticas.
Recentemente, uma proposta que circulou foi o conceito de “tecnologia de crescimento”. Entretanto, essa ideia enfrenta críticas por ser genérica demais. Afinal, não são todas as startups respaldadas por capital de risco que buscam crescimento? É fato que a tecnologia climática pode e deve impulsionar um período de inovação industrial, influenciado, por exemplo, pelo que já vemos na China. Contudo, muitos acreditam que existem denominações mais adequadas.
Como alguém que se recusa a criticar sem oferecer uma alternativa, eu gostaria de sugerir que consideremos o termo “tecnologia de resiliência”. Embora não seja perfeito e possa ser aprimorado com o tempo, sinto que esta opção captura a essência do que a tecnologia climática busca. O principal objetivo é tornar tanto o nosso planeta quanto a humanidade mais resilientes diante das inevitáveis mudanças climáticas que enfrentamos.
Portanto, à medida que navegamos por este panorama em constante evolução, é interessante e importante refletir sobre como nomeamos o que fazemos e o impacto que essas nomenclaturas podem ter em nossa sociedade, no ambiente e, principalmente, nas futuras gerações.