Nesta temporada cinematográfica, algumas produções bastante distintas, como Better Man, A Different Man e Unstoppable, revelam um elemento inovador em comum: o uso de efeitos especiais, tanto práticos quanto gerados por computador. Esta tendência não apenas enriquece a narrativa, mas também permite que o público compreenda melhor os protagonistas de forma profunda e emocionante.
Nos filmes mencionados, os efeitos ajudam a estabelecer uma conexão emocional com personagens cuja jornada pode ser considerada fora do comum. Mike Marino, artista de maquiagem e designer de próteses de A Different Man, ressalta a mensagem central do filme: “Você não precisa tentar se parecer com algo diferente para ser uma pessoa boa, uma pessoa de qualidade, uma pessoa incrível.” Este conceito, além de inovador, revela um compromisso com a autenticidade na representação de personagens complexos e multifacetados.
Entretanto, a implementação desta tecnologia não é uma tarefa simples. Em A Different Man, Sebastian Stan interpreta Edward Lemuel, um ator lutando com a baixa autoestima devido a uma condição chamada neurofibromatose que deixou seu rosto desfigurado. A verdadeira angustia de Lemuel se intensifica ainda mais quando ele conhece Ozwald, um personagem carismático interpretado por Adam Pearson, que, na vida real, convive com a mesma condição. Esta interação provoca uma profunda reflexão sobre a aparência e o valor pessoal.
A transformação de Stan forçou uma colaboração estreita entre a equipe de efeitos visuais e o departamento de maquiagem. A capacidade de criar proporções faciais realistas começou com digitalizações em 3D do rosto de Stan, permitindo que Marino modelasse um molde em gesso que poderia ser desenhado e esculpido para representar as características de Pearson de forma fiel. Com isso, pequenas moldagens de silicone foram aplicadas sobre Stan durante um processo de maquiagem que levava cerca de duas horas. A meta não era apenas criar um efeito visual impressionante, mas sim permitir que o ator expressasse suas emoções de forma autêntica e direta.
Além disso, Marino menciona que essa abordagem está intimamente ligada ao viés estético vintage do filme, que foi filmado em 16mm. O artista explica, “Eu desenvolvi uma versão mais suave da maquiagem, onde ela parece escorregar e escorrer do rosto, o que espelha trabalhos de outros cineastas como David Cronenberg em The Fly.” A intenção é sempre que o público se conecte emocionalmente à história, sentindo o que os personagens experimentam em suas peleções pessoais.
Como dobrar a realidade da narrativa para criar um impacto verdadeiro no espectador? Essa é a pergunta central que a produção de Unstoppable, com Jharrel Jerome no papel do ex-campeão de luta livre Anthony Robles, busca responder. Nessa narrativa, Robles, que nasceu com uma deficiência, teve que se adaptar para competir em um mundo que, muitas vezes, não aceita o diferente. Sua transformação também foi facilitada por uma combinação de treinamento físico e recursos tecnológicos inovadores que asseguraram que ele fosse corporalmente representado de forma precisa, com a colaboração de uma equipe de efeitos visuais que empregou inteligência artificial e modelagem CGI para trazer à vida sua performance no ringue.
As complexidades da fisiologia de Robles foram capturadas por meio de uma scanner corporal que usava uma série de câmeras para criar modelos 3D que poderiam ser, em seguida, utilizados para composição. Esta interação entre o corpo real de Jerome e a representação de Robles em tela traz um novo significado à representação de diversidade no cinema. Thomas Tannenberger, supervisor de VFX do filme, destaca que “embora Anthony tenha nascido com apenas uma perna, houve necessidade de conectar as performances físicas para garantir autenticidade durante as lutas”, sublinhando o papel vital da tecnologia neste processo.
Controvérsias surgem igualmente no uso de inteligência artificial para substituir performers, especialmente considerando os embates recentes entre representantes de sindicatos e a indústria cinematográfica quanto à apropriação de digitalizações de atores sem consentimento prévio. Entretanto, Tannenberger expressa segurança no método utilizado, uma vez que “existem técnicas tradicionais de substituição de faces que podem ser extremas e custosas, particularmente em produções independentes como esta. A opção por métodos alternativos não apenas respeita os limites orçamentários, mas também respeita a originalidade do trabalho que estamos apresentando ao público.”
Os efeitos visuais não se limitam apenas a criar situações fantásticas. Em Better Man, a figura do cantor Robbie Williams metaforicamente se transforma em um macaco, refletindo sua própria luta interna com o protagonismo e as expectativas do público. Esta criatividade nos efeitos serve não apenas para embelezar a história, mas também para desmistificar e humanizar o artista retratado. Luke Millar, supervisor de animação, argumenta que a chave é garantir que o público veja o personagem como humano, independentemente das camadas de fantasia sobrepostas.
Mesmo durante a pós-produção, a equipe de VFX trabalhou ininterruptamente não apenas para embelezar as cenas, mas para integrar a narrativa de forma coesa, aumentando a empatização do público com a jornada do protagonista. Os desafios criativos são imensos, mas a satisfação em ver o produto final que atinge a conexão emocional desejada é uma das maiores recompensas desse trabalho.
Enquanto mais biografias de artistas aguardam produção na indústria de Hollywood, Millar vaticina que Better Man, a ser lançado no dia de Natal, pode se tornar um marco por sua abordagem única. Ele espera que esta produção deixe claro que é possível fazer escolhas ousadas e criativas sem perder a essência da narrativa.
Neste caminho por novas narrativas cinematográficas que integram efeitos especiais, fica claro que a união entre tecnologia e arte pode proporcionar experiências extraordinárias, não apenas em entretenimento, mas na exploração das profundezas emocionais dos personagens que vemos na tela. Esse é um convite ao público a embarcar nessa jornada, onde a realidade se funde com a ficção, permitindo que nos reconectemos com a humanidade que reside dentro de cada um de nós.
Esta história foi publicada na edição de dezembro da revista The Hollywood Reporter. Para assinar a revista, clique aqui para inscrever-se.