Recentemente, a renomada apresentadora Oprah Winfrey teve a oportunidade de dialogar com a autora irlandesa Claire Keegan sobre seu livro mais recente, ‘Small Things Like These’, durante um episódio do novo podcast de Winfrey. Essa conversa, realizada em 3 de dezembro, traz à tona questões relevantes que permeiam a narrativa de Keegan e, de forma mais ampla, o papel da mulher na sociedade. O podcast integra os esforços de Winfrey para promover a leitura e discutir obras escolhidas para seu clube do livro, criando um espaço de reflexão sobre temas sociais e culturais.
A obra ‘Small Things Like These’ narra a História de Bill Furlong, um comerciante de carvão que, em uma pequena cidade irlandesa em 1985, se vê confrontado com dilemas morais ao se deparar com uma mulher vinculada aos infames “Magdalene laundries”. Essas instituições, administradas pela Igreja Católica, forçavam mulheres a trabalhar em condições desumanas como punição por supostas violações do código moral vigente. A temática da obra é não apenas um relato íntimo de um homem lutando com seus próprios valores, mas também um reflexo de um período sombrio da história irlandesa.
Claire Keegan, ao discutir seu processo criativo, menciona que, embora não tenha vivido a experiência das lavanderias, a história dessas mulheres a impactou profundamente. “Não tinha nenhum parente ou conhecida nas lavanderias. Era uma história que estava em toda a mídia por muito tempo na Irlanda. O que me intrigava era a inércia das pessoas ao redor, mesmo sabendo da situação”, afirmou a autora, ressaltando a responsabilidade social que todos têm quando confrontados com injustiças.
Durante a conversa no podcast, um momento tocante foi a presença de Maureen Sullivan, que compartilhou sua experiência ao ser enviada para as lavanderias com apenas 12 anos, depois de revelar a um professor os abusos físicos e sexuais que sofria por parte de seu padrasto. Sullivan publicou recentemente suas memórias, intituladas ‘Girl in the Tunnel’, e sua conexão com a obra de Keegan enfatizou o poder que a literatura pode ter em dar voz às mulheres. Keegan comentou: “Estou encantada por ter tido a oportunidade de escrever o livro e ser ouvida, abordando a misoginia na Irlanda. E para quem perpetua essas injustiças, o silêncio é desejado.”
A conversa destaca não apenas a luta das mulheres, mas também a necessidade de uma mudança de discurso em uma sociedade que muitas vezes silencia as vozes femininas. Keegan frisou que a narrativa de Bill Furlong é, em muitos aspectos, uma resposta às questões que surgiram durante sua produção literária; ao se atrever a perguntar por que o silêncio era a resposta predominante diante da injustiça, ela expôs um padrão que perdura em diversas sociedades.
Os episódios do novo podcast do clube do livro são apresentados pela Starbucks, com entrevistas filmadas em suas lojas e acompanhadas por bebidas inspiradas nos livros discutidos. Para ‘Small Things Like These’, o drinque destacado foi o blend natalino da Starbucks. Além disso, a obra de Keegan recentemente ganhou uma adaptação cinematográfica estrelada por Cillian Murphy, ganhador do Oscar, ampliando ainda mais o alcance desta importante narrativa.
No entanto, mesmo com a série de debates em torno de sua obra, Keegan deixou claro que não há uma única mensagem que deseja transmitir aos leitores. “Acredito que a leitura de um livro é algo muito pessoal. O que você leva dele é válido. Pode ser uma história sobre amor, sobre um casamento em crise, ou talvez sobre um homem enfrentando seus demônios internos. Existem tantas interpretações quanto leitores”, disse a autora, ressaltando a importância da interpretação individual na experiência literária e como esta pode enriquecer a compreensão da obra.
A interação entre Oprah Winfrey e Claire Keegan, além de trazer à tona assuntos delicados e pertinentes, promove um espaço enriquecedor para reflexões sobre a condição feminina e a responsabilidade social. O diálogo entre autores e leitores, assim como a exposição de histórias que muitas vezes permanecem escondidas sob a superfície da sociedade, revela que as pequenas coisas, como sugere o título do livro de Keegan, podem ter um grande impacto na construção de uma moral coletiva mais justa e inclusiva.