Neste ano, 45 países membros das Nações Unidas realizaram eleições nacionais para definir seus líderes máximos. Entretanto, de acordo com a análise da CNN dos dados da International Foundation for Electoral Systems, apenas quatro países elegeram uma mulher para assumir a principal posição governamental. Este dado não apenas destaca a rarefação da figura feminina no alto escalão do poder, mas também coloca os Estados Unidos em uma posição peculiar, já que até agora não conseguiram eleger uma mulher para o cargo de presidente.

Embora o país tenha tido a oportunidade de eleger sua primeira presidenta, a derrota de candidatos que representavam essa perspectiva ocorreu pela segunda vez em oito anos. Entre os países que elegeram uma líder feminina em 2024 – Macedônia do Norte, Namíbia e México – tal feito ocorreu pela primeira vez na história dessas nações. Isso levanta questões pertinentes sobre as barreiras e a resistência enfrentadas pelas mulheres em contextos políticos que, em muitos lugares, ainda preferem manter a tradição de lideranças masculinas.

Desde o pós-Segunda Guerra Mundial, passaram-se 64 anos até que uma mulher fosse eleita para liderar um país membro das Nações Unidas. É fascinante considerar como, desde então, muitas nações têm caminhado em direção à inclusão das mulheres em cargos políticos elevados, enquanto outras, como os Estados Unidos, ainda lutam para fazer essa transição de forma significativa.

Nos últimos vinte anos, diversas nações experimentaram a ascensão de suas primeiras líderes femininas, conforme a análise da CNN sobre o Women’s Power Index do Council on Foreign Relations, que inclui os estados membros da ONU e exclui monarcas, líderes indicados por monarcas e presidentes de governos coletivos. Hoje, 49 estados membros da ONU tiveram ao menos uma líder feminina nos últimos setenta anos. Curiosamente, 18 países experimentaram a liderança feminina em dois momentos distintos, nove países tiveram três líderes mulheres e apenas dois países – Finlândia e Islândia – foram governados por quatro líderes femininas diferentes. A estatística, embora celebratória, também revela que em 115 países membros da ONU, uma mulher nunca serviu como chefe de estado ou governo.

Com isso em mente, é interessante observar que o primeiro continente a escolher uma mulher para liderar um membro da ONU após a Segunda Guerra Mundial foi a Ásia. Em 1960, o Sri Lanka – na época conhecido como Ceilão – elegeu Sirimavo Bandaranaike como sua primeira primeira-ministra, que assumiu o cargo após o assassinato de seu esposo, que também foi primeiro-ministro. Essa semelhança de circunstâncias aponta para um padrão: muitos das primeiras mulheres a assumir o poder foram aquelas com conexões dinásticas, muitas vezes ligadas ao contexto colonial e à luta pela independência.

O cenário asiático se destaca não apenas pela sua história, mas também pela duração do tempo em que as mulheres governaram. Sheikh Hasina detém o recorde da maior quantidade de anos no poder como líder nacional. Ela presidiu o Bangladesh entre 1996 e 2001 e, novamente, de 2009 até sua recente renúncia em agosto de 2024, após intensas manifestações anti-governamentais.

Na América, Isabel Perón se destacou como a primeira mulher a assumir a presidência, sucedendo seu esposo Juan Perón, falecido em 1974. Recentemente, outubro de 2024 foi marcado pela inauguração de Claudia Sheinbaum como a primeira mulher presidente do México. Esses avanços, mesmo tímidos, são indícios de que a mudança é possível e que os estereótipos de gênero estão sendo gradualmente desconstruídos nas esferas políticas.

Na África, marcos históricos significativos também podem ser observados. Elisabeth Domitien foi indicada como primeira-ministra da República Centro-Africana em 1975. A primeira mulher eleita para liderar um país africano foi Ellen Johnson Sirleaf, eleita presidenta da Libéria em 2006. Em 2021, a Tunísia sagrou-se o primeiro país árabe a ser governado por uma mulher, com a nomeação de Najla Bouden como primeira-ministra.

Na Europa, a liderança feminina começou a ganhar destaque em 1979 com Margaret Thatcher, a primeira mulher a se tornar primeira-ministra do Reino Unido. Desde 2010, aproximadamente 28 países europeus tiveram pelo menos uma mulher em posições de liderança, o que reflete uma tendência significativa. Em média, 65% dos 43 países membros da ONU na região já tiveram uma mulher em um cargo de liderança e aproximadamente um quarto deles atualmente é liderado por uma mulher.

Essa evolução tem impactos não apenas na política, mas também na sociedade como um todo. Tornar mulheres visíveis em papéis de liderança é essencial, pois isso ajuda a modificar a percepção do público sobre o que um líder deve ser. A diversidade em posições de liderança é fundamental. “Sabemos que há um tipo de poder que advém da capacidade de ver pessoas como você representadas. Isso é importante”, observa Farida Jalalzai, professora de ciência política na Virginia Tech. Ao ver exemplos variados de líderes, acredita-se que mais mulheres jovens se sintam incentivadas a buscar suas próprias conquistas políticas.

Deseja ver a próxima geração de líderes inspirados por essas mudanças? Como observou Jalalzai, “se uma mulher vencer, talvez tenhamos aprendido que uma mulher pode vencer… isso acaba levando a um maior número de mulheres dispostas a se lançar em candidaturas”. Este é, sem dúvida, um sinal positivo de que os tempos estão mudando, mesmo que lentamente.

Metodologia

O Council on Foreign Relations mantém um índice sobre os estados membros da ONU e seu progresso em direção à paridade de gênero na participação política desde 1946. Seu banco de dados inclui a informação sobre se uma mulher é atualmente, ou já foi, chefe de estado ou de governo, sendo atualizado pela última vez em 9 de dezembro de 2024. A CNN complementou essa lista com uma pesquisa adicional.

Os dados não consideram: monarcas ou governadores nomeados por monarcas; chefes de estado ou governo atuantes ou interinos que não foram subsequentemente eleitos ou confirmados; chefes de estado ou governo honorários; chefes de estado ou governo coligados ou coletivos, e os membros presidiram desses.

Como consequência, lideranças femininas da Suíça e da Bósnia e Herzegovina estão excluídas. O Kosovo, embora possua uma presidenta, não é um estado membro da ONU, e portanto, o país não está incluído.

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