Osamu Suzuki, um dos nomes mais influentes da indústria automotiva, faleceu no dia 25 de dezembro de 2023, aos 94 anos. Conhecido por sua abordagem inovadora e seu talento inigualável para controlar custos, ele ocupou a liderança da Suzuki Motor por mais de quatro décadas. Durante sua gestão, Suzuki não apenas transformou a empresa em um dos gigantes da indústria, mas também desempenhou um papel crucial na criação e expansão do mercado automotivo na Índia, um país que, até então, era visto como um deserto automotivo. Esta notícia traz reflexões sobre suas contribuições, conquistas e o legado que deixa para o setor.
Os detalhes sobre o falecimento de Suzuki foram confirmados pela própria empresa, que adiantou que ele tinha lutado contra um linfoma. A trajetória de Suzuki à frente da empresa foi marcada pela ousadia, costurando a transição da companhia, tendo como foco inicial os miniveículos, para se estabelecer como um player significativo em mercados emergentes. Neste contexto, sua atuação na Índia foi particularmente notável e se mostrou visionária, especialmente considerando que na década de 1980, a Índia possuía uma venda anual de veículos inferior a 40.000.
Osamu Suzuki, nascido como Osamu Matsuda, adotou o sobrenome de sua esposa, uma prática comum entre japoneses que não tinham herdeiros homens. Ele ingressou na Suzuki Motor em 1958 e, ao longo de 20 anos, escalou posições administrativas até se tornar presidente. Durante os anos 70, enfrentou um dos piores momentos da empresa, conforme o Japão implementava novas regulamentações de emissões. Sua habilidade em persuadir a Toyota Motor a fornecer motores que atendiam a estas novas normas foi a chave para evitar a falência da Suzuki. O sucesso foi palestinado pela introdução do modelo Alto em 1979, que introduziu a companhia a um novo patamar de competitividade.
Uma ‘carro do povo’ para a Índia: O projeto visionário de Suzuki
A determinação de Suzuki o levou a tomar uma decisão importante em 1981: investir um ano de lucros da empresa em uma joint venture para estabelecer um fabricante nacional de automóveis na Índia, a Maruti. Na época, o país tinha apenas um modelo de carro de fabricação local, conhecido como Maruti 800, que se tornou um dos ícones do automóvel indiano. A Índia estava angustiada pela escassez de opções viáveis no setor automotivo, e a ideia de um carro acessível, que realmente atendesse às necessidades da população, era uma resposta necessária a esse vácuo. O governo havia nacionalizado a Maruti, que foi concebida pela visionária figura de Sanjay Gandhi, filho da então primeira-ministra Indira Gandhi.
Este retumbante movimento fez com que a Suzuki se tornasse rapidamente sinônimo de um ‘carro do povo’ para muitos indianos. O modelo Maruti 800, lançado em 1983, se destacou como o primeiro carro econômico e confiável para a classe média. O impacto da joint venture de Suzuki não apenas mudou o panorama do transporte pessoal na Índia mas também colocou a Suzuki como um dos maiores fabricantes de automóveis do país, detendo cerca de 40% do mercado indiano até os dias atuais.
Para muitos indianos, a figura de Suzuki é lembrada por fazer do carro uma realidade, trazendo igualdade e acessibilidade ao cenário automotivo. Em termos de operações, ele não apenas impulsionou a produção, mas também introduziu inovações significativas nas práticas de trabalho, assegurando que todos, de executivos a trabalhadores em linha de montagem, compartilhassem um ambiente uniforme e igualitário. Essa foi uma verdadeira revolução nas empresas indústrias do país que, até então, careciam de uma cultura corporativa mais inclusiva.
Desafios e legados: Os altos e baixos da trajetória da Suzuki Motor
No entanto, nem tudo foi um mar de rosas para Osamu Suzuki. Em 2009, um acordo de bilhões com a Volkswagen, considerado uma união dos titãs da indústria, logo se transformou em um tumulto, quando a Suzuki acusou a montadora de tentar controlar suas operações. Dessa forma, a relação deteriorou-se rapidamente, levando a um processo de arbitragem internacional que resultou na recompra da participação de 19,9% da Volkswagen na Suzuki em 2010. Essa turbulência revelou as dificuldades das joint ventures, mesmo entre gigantes da indústria automotiva.
A saúde de Suzuki foi sua companheira fiel durante grande parte de sua vida. Ele acreditava veementemente na importância do trabalho e do golfe na manutenção de sua vitalidade. Com o passar dos anos, ele passou o bastão da liderança, delegando funções ao seu filho Toshihiro em 2016, mas continuando a servir como presidente até os 91 anos. Ele manteve seu papel consultivo até seu falecimento, um sinal de seu comprometimento contínuo com a marca que ajudou a construir e a moldar. Em 2019, a Suzuki estabeleceu uma nova relação estratégica com a Toyota, que investiu uma participação na Suzuki Motor, demonstrando que a empresa ainda busca inovar e se adaptar às novas necessidades do mercado, incluindo a futura entrada no segmento de veículos elétricos.
As declarações de condolências expressas pelo atual presidente da Toyota, Akio Toyoda, caíram como um manto de honra ao legado de Suzuki, que será lembrado tanto como um líder empresarial admirável quanto como um verdadeiro pai da indústria automotiva japonesa, unindo miniveículos a um conceito de ‘carro do povo’ em um país tão diversificado como a Índia.
O falecimento de Osamu Suzuki representa o fim de uma era. Seu trabalho não é apenas um testemunho de uma visão de futuro, mas também um modelo de superação que eterniza sua presença no setor automotivo para as futuras gerações. A Suzuki Motor, sob seu legado, continua a navegação mesmo em tempos de grandes transformações e desafios, sempre com a integridade e a determinação que marcaram sua trajetória. O mercado automotivo mundial pode, sem dúvida, se beneficiar de seus ensinamentos, à medida que avança em direção a novos horizontes.