No dia 12 de outubro de 2023, o Paraguai tomou uma decisão significativa ao expulsar um enviado chinês do país, após este ter feito uma tentativa de interferir nas relações diplomáticas com Taiwan. O diplomata chinês, Xu Wei, foi considerado persona non grata pelo Ministério das Relações Exteriores paraguaio, que determinou a suspensão de seu visto e o gave um prazo de 24 horas para deixar o território nacional. Este incidente ressalta as tensões crescentes nas relações internacionais envolvendo a questão de Taiwan e as pressões exercidas pela China sobre países que reconhecem a ilha como uma nação independente.
A expulsão de Xu Wei se deu em um contexto em que o diplomata estava em Asunción para participar de uma reunião anual da UNESCO. No entanto, em um movimento inesperado, ele decidiu não comparecer ao evento e, em vez disso, se dirigiu ao Congresso paraguaio. Durante sua presença no local, Xu provocou uma verdadeira agitação diplomática ao solicitar que o Paraguai cortasse laços com Taiwan, a ilha autônoma que, há décadas, mantém um relacionamento estreito e amigável com o país sul-americano. Ao abordar os parlamentares, o enviado chinês declarou que o futuro das relações entre China e Paraguai dependia de uma decisão rápida do governo paraguaio, sugerindo que a escolha era entre a China ou Taiwan.
Atualmente, o Paraguai é a única nação na América do Sul e uma das apenas doze em todo o mundo que reconhece Taiwan como um país soberano. A história da relação entre o Paraguai e a ilha remonta a 1957, e, apesar das pressões de Pequim, o governo paraguaio tem se mantido firme em seu compromisso com Taiwan. Em consonância com isso, vários países da América Latina, como Honduras, Panamá, República Dominicana e El Salvador, cortaram suas relações com Taiwan nos últimos anos, sucumbindo às pressões do governo chinês que promove o princípio da “Uma China”. Tal princípio determina que os países devem optar por reconhecer uma das duas entidades, sendo a expectativa da China que os países busquem relações diplomáticas exclusivamente com Pequim.
No entanto, a visita de Xu não foi apenas uma tentativa de alterar vínculos diplomáticos, mas também uma manobra para evidenciar as potencialidades de cooperação econômica entre Paraguai e China. Durante suas abordagens no Congresso, ele apresentou a proposta de um futuro com “milhares de outras vantagens” em termos de comércio, atraindo o olhar de alguns legisladores que já mencionaram as dificuldades enfrentadas pelos produtores paraguaio, especialmente no que se refere à exportação de soja e carne bovina para o mercado chinês. É importante notar que, de acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o comércio entre a China e a América do Sul teve um crescimento exponencial recentemente, alcançando quase 500 bilhões de dólares em 2023.
Em resposta ao comportamento de Xu, a embaixada de Taiwan no Paraguai expressou forte oposição, chamando-o de “infiltrador” e ressaltando que suas tentativas visavam “minar a amizade firme entre o Paraguai e Taiwan”, que se solidificou ao longo de mais de seis décadas. A situação levanta preocupações sobre a influência crescente da China na política sul-americana e as pressões que pequenos países enfrentam para escolher entre duas potências diplomáticas, sendo um tema que não é novo, mas que ganha cada vez mais espaço nas discussões internacionais.
É claro que o episódio traz à tona questões muito mais amplas que envolvem a geopolítica mundial e a posição de países como o Paraguai em um cenário de crescente rivalidade entre China e Taiwan. A decisão do Paraguai de manter suas relações com Taiwan, mesmo diante das pressões de Pequim, demonstra um ato de soberania e uma reflexão sobre as reais consequências que um alinhamento com a China poderia trazer para a economia e a política interna do país. O que podemos concluir é que a balança diplomática da América Latina continua a oscilar, e as decisões de países como o Paraguai serão seguidas com atenção por observadores internacionais, pois elas moldam não apenas o futuro do continente, mas também o equilíbrio de poder global.
Para mais informações sobre a situação no Paraguai e Taiwan, acesse: AP News, CEPAL.