No início da sessão de inverno de 2024 da Y Combinator, um dos programas de aceleração mais prestigiados do mundo, a startup PearAI enfrentou uma situação bastante complicada logo em seu primeiro dia. Após uma rápida apresentação e algumas fotos diante do famoso letreiro da YC, os fundadores Nang Ang e Duke Pan se viram “cancelados” nas redes sociais, como Ang descreveu à TechCrunch. A repercussão negativa foi imensa, resultando em uma enxurrada de críticas e ódio online direcionados à equipe.
Contudo, a resiliência dos empreendedores se provou forte. Este mês, eles não apenas graduaram-se na turma de inverno de 2024 da YC, mas também conseguiram captar um total de US$ 1,25 milhão em um financiamento seed, superando a meta estabelecida de US$ 1 milhão. Ang revelou à TechCrunch que esse montante inclui o valor padrão que a Y Combinator frequentemente oferece, que é de US$ 375 mil.
A conturbada jornada começara em um sábado de setembro, quando Ang e Pan publicaram um protótipo da sua ferramenta de edição de código baseada em inteligência artificial no GitHub. A equipe fez uma divulgação arrojada através de um tweet impactante e um vídeo no YouTube, em que apresentaram seu produto. No entanto, a recepção foi tudo, menos positiva. Dentro de poucas horas, uma acusação surgiu, alegando que o projeto deles se tratava basicamente de uma cópia de um outro editor de código open-source chamado Continue, com alterações mínimas. Rumores surgiram indicando que os fundadores teriam feito apenas uma busca e substituição generalizada para trocar o nome Continue pelo da própria startup. Mais grave ainda foi o fato de que eles lançaram seu produto com uma licença estranha, criada com a ajuda do ChatGPT, gerando revolta na comunidade open-source, que se incomoda profundamente com questões de licenciamento.
“Certamente cometemos muitos erros relacionados ao licenciamento,” afirmou Ang, que insistiu que a questão foi resolvida desde então. Além disso, Pan, em um gesto de autoconfiança, fez um tweet alegando que tinha deixado um cargo de alto salário na Coinbase para se dedicar à startup, afirmando que a nova ferramenta já era “melhor que o Copilot”, o que inflamou ainda mais as críticas. A Continue, outra empresa acelerada pela YC, rapidamente se posicionou contra a PearAI, enquanto o CEO da Y Combinator, Garry Tan, veio em defesa dos empreendedores.
Em um giro notável dos acontecimentos, no dia seguinte, Ang e Pan se desculparam publicamente, implementaram uma licença open-source padrão e melhoraram a documentação do trabalho open-source que fundamentava seu produto. Contudo, a equipe ficou com a amarga percepção de que talvez não houvesse espaço para mais um editor de código no mercado. “Amamos programar e queremos que isso seja feito de maneira mais eficiente,” declarou Ang, demonstrando uma disposição para aprender e evoluir a partir das críticas recebidas.
Em vez de desistir, os fundadores transformaram a negatividade em uma nova oportunidade. Ao invés de se concentrarem em aprimorar um editor de texto, decidiram construir um “framework” que irá curar ferramentas de programação baseadas em IA, permitindo que programadores utilizem várias ferramentas ao mesmo tempo. Na parte técnica, essa abordagem garantirá que as ferramentas se comuniquem entre si “e realmente funcionem bem juntas,” segundo Ang. A interface do usuário será padronizada para que os desenvolvedores tenham a sensação de estar utilizando um único produto ao invés de dez. A ferramenta será compatível com diversas ferramentas de codificação baseadas em IA, incluindo a Continue.
Apesar de haver céticos em público, a PearAI também recebeu elogios, uma experiência que contrasta com o feedback negativo do lançamento inicial. A startup atraiu o interesse de investidores de renome, incluindo Goodwater Capital, Multimodal Ventures, Orange Fund e ExitFund, além de alguns investidores-anjo ainda não identificados, conforme revelou Ang.
A recuperação bem-sucedida da PearAI após um início tão tumultuado serve como uma lição valiosa sobre a importância da adaptabilidade e abertura para feedback, especialmente em um setor em constante evolução como o de tecnologia. Como resultado, os fundadores demonstraram que a determinação e a capacidade de aprender com os erros são ingredientes essenciais para o sucesso no mundo das startups. Assim, pode-se concluir que, mesmo diante da adversidade, há sempre uma possibilidade de reestruturação e crescimento, levantando a questão: quem mais pode aprender e se reinventar em meio ao caos?
Para mais informações sobre a batalha da PearAI, você pode acessar o artigo completo no TechCrunch.