A recente revelação do Pentágono sobre a presença militar americana na Síria trouxe à tona uma nova realidade sobre a operação militar dos Estados Unidos no país. Durante uma coletiva de imprensa realizada na quinta-feira, um porta-voz do Departamento de Defesa confirmou que a força militar americana na Síria subiu para “aproximadamente 2.000” tropas, um número que é mais do que o dobro do anteriormente divulgado, que era de 900. Essa circunstância levanta a questão sobre os motivos que levaram a esse aumento e o que isso implica na estratégia dos Estados Unidos na região.
O porta-voz do Pentágono, Major General Patrick Ryder, afirmou que as tropas estão presentes na Síria com o objetivo de combater o grupo terrorista ISIS, enfatizando que as operações incluem considerações diplomáticas e de segurança operacional que podem, em algumas ocasiões, influenciar a comunicação sobre a quantidade de tropas no terreno. “Essas forças adicionais são consideradas forças rotativas temporárias que são implantadas para atender às exigências da missão”, disse Ryder, destacando que as 900 tropas mencionadas anteriormente estão em implementações de longo prazo.
Em um momento sincronizado com essas novas informações, a administração Biden está nomeando Daniel Rubinstein, ex-embaixador e enviado para a Síria, para liderar os esforços americanos no país durante suas últimas semanas no cargo. Rubinstein se reunirá com uma delegação de oficiais seniores dos EUA que visitarão Damasco nos próximos dias. Essa será a primeira visita de alto nível dos Estados Unidos à Síria desde a queda do presidente Bashar al-Assad, um marco que pode significar um retorno das relações diplomáticas entre os dois países.
A delegação incluirá Barbara Leaf, secretária assistente de Estado para Assuntos do Oriente Médio, e Roger Carstens, enviado especial da presidência para assuntos de cativos. Carstens esteve ativo nas últimas semanas em países vizinhos, como Líbano e Jordânia, na busca por informações sobre o jornalista americano Austin Tice, que foi detido na Síria há mais de 12 anos. A preocupação com a segurança de jornalistas e civis, bem como preocupações sobre a recuperação do ISIS em meio ao colapso do regime de Assad, coloca os níveis de engajamento dos EUA sob nova luz.
As tropas americanas em solo sírio têm a missão de impedir que o ISIS utilize o vácuo de poder gerado pela instabilidade para se reerguer. Os oficiais americanos reiteraram a importância de manter pressão sobre o ISIS e garantir que o grupo não possa aproveitar a transição política em andamento. Esta situação se complica ainda mais devido às tensões entre os Estados Unidos e a Turquia, que ameaça agir contra as Forças Democráticas Sírias (SDF), um aliado dos EUA na luta contra o ISIS. As SDF têm uma composição significativa das Unidades de Proteção do Povo (YPG), consideradas por Ancara como uma organização terrorista.
Adicionalmente, durante a visita a Damasco, a delegação americana deve tratar de um conjunto de princípios acordados em Aqaba, que aborda expectativas de transição de governo na Síria, questões de direitos humanos e o combate ao terrorismo. Uma das questões centrais será também a localização de Tice, que se tornou um símbolo da luta pela segurança dos jornalistas na região.
Questionado sobre por que o número de tropas americanas não havia sido divulgado anteriormente de maneira precisa, Ryder negou qualquer tentativa de obfuscação e esclareceu que apenas tomou conhecimento da quantidade exata de tropas antes de sua coletiva. “A parte da explicação está relacionada à sensibilidade do ponto de vista da segurança diplomática e operacional”, informou. Ele se abstivera de fornecer detalhes adicionais sobre considerações diplomáticas que podem ter influenciado a comunicação sobre os números.
Desde que o conflito na Síria começou em 2011 e, especialmente após a rápida queda do regime de Assad em 2019, os Estados Unidos têm lutado para estabilizar a região. A situação permanece volátil, e a presença americana continua a ser um fator crucial na prevenção da retomada do controle pelo ISIS. Neste contexto complexo, o foco dos Estados Unidos permanece claro: garantir a segurança e evitar que o terror reemergente se aproveite da fragilidade do sistema político. A próxima visita a Damasco poderá definir novos rumos para a política americana na região, algo que muitos observadores estão atentos.
Portanto, o que podemos realmente esperar dessas movimentações da administração Biden? As próximas semanas podem trazer respostas e definir os contornos da presença americana não apenas na Síria, mas em todo o Oriente Médio.