Na atualidade, a crise na Ucrânia não se limita aos conflitos armados e deslocamento de pessoas. Dentro deste cenário caótico, relatos de pastores evangélicos expõem uma crescente onda de repressão religiosa imposta pelas autoridades russas nas regiões ocupadas. O pastor Dmytro Bodyu, líder da Igreja Evangélica Palavra de Vida, compartilhou sua angústia ao ser acusado por soldados russos de ser um agente da CIA, como um exemplo escalofriante da paranoia que permeia a ocupação. “Eles diziam que tinham certeza disso, pois todas as igrejas protestantes e católicas estavam a serviço dos serviços secretos americanos,” relatou Bodyu, enfatizando a deturpação da fé como uma arma política na luta contra a Ucrânia.
Este inquietante relato não é uma isolada tragédia. Em uma emboscada em sua própria casa, Bodyu foi capturado por cerca de quinze homens armados que se identificaram como policiais e agentes do FSB, o serviço de inteligência da Rússia. Durante a detenção, sua esposa e seu filho testemunharam a brutalidade ao qual ele foi submetido. Preso em uma cela minúscula e ameaçado de execução, Bodyu passou por um período aterrador que culminou em sua libertação oito dias depois, apenas para ser forçado a viver sob ameaças contínuas e censura estrita.
As ações de repressão não se restringem a pastores individuais. Desde o início da invasão em fevereiro de 2022, dezenas de líderes religiosos ucranianos foram encarcerados, enquanto outros foram forçados ao exílio. As autoridades russas têm ameaçado com sentenças longas, tortura e morte aqueles que se opõem ao regime ou que não pertencem à Igreja Ortodoxa Russa. A União Europeia e os Estados Unidos já expressaram preocupação com a violação sistemática da liberdade religiosa em áreas de ocupação russa, levando especialistas a classificar essas ações como crimes de guerra.
Enquanto muitos líderes religiosos enfrentam a repressão ou a prisão, alguns, como o sacerdote da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Bohdan Heleta, passaram mais de dezenove meses em detenção, com relatos de abuso físico e psicológico. Heleta e outros prisioneiros descreveram as torturas que sofreram, entre elas, a obrigatoriedade de colaboração forçada com os serviços secretos russos. “A tortura se tornará um jeito comum para eles tentarem obter informações”, afirmou um representante dos direitos humanos.
A destruição de locais religiosos, um ataque não apenas às práticas da fé, mas também uma tentativa de erradicar a identidade nacional ucraniana, foi confirmada por várias investigações independentes. Organizações de direitos humanos, como o Centre for Information Resilience, relatam que cerca de 158 locais religiosos foram danificados ou destruídos desde o início do conflito. Igrejas, mosteiros e monumentos são alvos constantes das tropas russas, refletindo uma estratégia de desmantelamento cultural e espiritual.
A escolha da fé ou da sobrevivência
Os líderes religiosos que permaneceram nas regiões ocupadas deparam-se com uma escolha angustiante: renunciar à sua religião e se juntar a uma das igrejas aprovadas pelo Kremlin, deixar suas comunidades ou operar em segredo. Cantos de adoração que antes preenchiam os templos agora ressoam em sussurros, com grupos de oração em lares clandestinos, uma tentativa desesperada de manter a fé viva sem atrair a atenção das autoridades. “As orações se tornaram raras, e cada reunião é uma espinhosa lição sobre a realidade que enfrentamos”, relatou um membro de uma congregação.
Além das ameaças, muitos líderes religiosos enfrentam condições degradantes. O reverendo Mykhailo Brytsyn compartilhou experiências semelhantes de privação de liberdade e acusação agressiva. “É mais fácil para eles acreditar que estamos sendo manipulados pelos americanos do que admitir que nossas convicções são genuínas”, desabafou. O fechamento forçado de igrejas e a intimidação de suas congregações apenas intensificam a dor de uma sociedade que luta para manter sua identidade em face da ocupação e da opressão.
Em meio a tudo isso, alguns pastores optam por continuar sua missão onde puderem. Ivashchuk, agora em Kyiv, realiza encontros de oração em sua casa, sempre que possível. “Num tempo em que tudo parecia perdido, descobrimos que podemos ser uma igreja em qualquer lugar, mesmo que improvisada,” afirmou. Levar a mensagem de esperança e resistência é vital para os que permanecem firmes em suas tradições diante de adversidades alarmantes.
Em síntese, a brutal repressão contra líderes e comunidades religiosas durante a ocupação russa exemplifica um ataque deliberado à identidade ucraniana e aos direitos humanos fundamentais. A luta por liberdade religiosa que se desenrola nas sombras e nos subúrbios de Kyiv apresenta-se como um microcosmo da resistência ucraniana, onde a coragem se ergue diante da opressão. Tal polarização entre opressão e liberdade poderá definir não apenas o futuro da Ucrânia, mas também o restante da Europa. À medida que as vozes de resistência continuam a ressoar, a pressão internacional por reconhecimento e apoio é essencial para garantir que esses líderes possam operar em segurança e que suas comunidades tenham a oportunidade de prosperar.
Conclusão: A luta pela liberdade religiosa e a resistência cultural
Finalizando, os eventos em andamento na Ucrânia nos permitem refletir sobre o valor da liberdade religiosa e a resistência cultural. A luta dos pastores e suas congregações contra a opressão não é apenas uma batalha por sobrevivência, mas uma batalha pela verdade e pela preservação da identidade nacional. Enquanto o mundo observa, que as vozes dos oprimidos sejam ouvidas, e que a solidariedade internacional possa prevalecer na luta contínua pela liberdade e pelos direitos humanos. Que o murmúrio de orações silenciadas, agora ecoando entre as sombras, possa um dia se transformar em clamores de paz ressoando livremente em um futuro renovado.
Agradecimento aos repórteres e às vozes corajosas que continuam a compartilhar essas histórias inspiritantes e trágicas aos olhos do mundo.