Pequim
Reuters
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No último mês, a economia da China apresentou um desempenho misto que acende a luz amarela para analistas e autoridades. Com os dados de Novembro, enquanto a produção industrial cresceu um leve 5,4% em relação ao ano anterior, as vendas no varejo mostraram-se desanimadoras, crescendo apenas 3,0%, o mais fraco em três meses. Este cenário frágil lança uma sombra sobre a expectativa de recuperação econômica, especialmente com as ameaças de tarifas de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, que prometeu tarifas que podem ultrapassar os 60% sobre os produtos chineses. Este ambiente desafiante sugere que as autoridades chinesas podem precisar acelerar suas iniciativas para impulsionar o consumo, focando mais em políticas que beneficiem a população em geral.

Os dados mistos evidenciam o quão desafiador será para a liderança chinesa promover uma recuperação econômica sustentável diante de um cenário incerto para 2025, especialmente com a possível deterioração das relações comerciais com o maior mercado de exportação da China. O relacionamento entre os EUA e a China está em um ponto crítico, e a reeleição de Trump pode aprofundar as dificuldades corriqueiras que a economia chinesa já enfrenta.

Analistas acreditam que a situação atual pode forçar as autoridades de Pequim a acelerar planos de reestruturação de sua economia de 19 trilhões de dólares, que ainda é fortemente dependente de investimentos fixos e exportações. Depois de mais de duas décadas de discussão, a necessidade de uma transição para um modelo econômico mais baseado no consumo se torna urgente.

Além disso, a produção industrial na China, que cresceu em novembro, foi um ponto positivo em meio ao cenário sombrio, apresentando resultados melhores do que o esperado por especialistas. Contudo, o desempenho das vendas no varejo continua sendo uma preocupação significativa. A queda nas vendas foi uma evidente indicação de que o consumo interno ainda é vulnerável e gera incertezas sobre a capacidade do governo em sustentar uma recuperação econômica duradoura.

Com um crescimento de apenas 3,0% nas vendas do varejo, comparado a um aumento de 4,8% em outubro, analistas projetavam um crescimento de 4,6%. Essa desaceleração levanta questionamentos sobre a força do consumidor, levando alguns economistas a afirmarem que as políticas de estímulo devem ser orientadas não apenas ao setor produtivo, mas também ao consumidor, que continua a ser negligenciado.

Os comentários de Dan Wang, economista independente baseado em Xangai, são um indicativo do conflito iminente entre as necessidades do consumidor e as políticas voltadas para a produção. Segundo Wang, a inconsistência das políticas econômicas da China tem favorecido os fabricantes, embora haja evidências claras de fraqueza resiliente na demanda interna.

Por outro lado, o investimento em ativos fixos apresentou crescimento, mas em um ritmo mais lento, aumentando apenas 3,3% de janeiro a novembro, em comparação com uma expectativa de 3,4%.Quanto mais lenta essa taxa, mais difícil será para a economia chinesa continuar em uma trajetória estável, sem isso os desafios para o setor do consumo se intensificam.

De acordo com Xu Tianchen, economista sênior da Economist Intelligence Unit, os alertas sobre o fraco desempenho das vendas a varejo podem ser exagerados. Ele aponta que o início antecipado do festival de compras “Double 11” em outubro terá contribuído para o fraco crescimento das vendas de novembro, o que pode distorcer a análise dessas estatísticas.

Portanto, ao considerar as variações entre outubro e novembro, seria possível afirmar que a média de crescimento se situa em torno dos 3,9%, um índice que, embora considerado baixo, resulta de fatores temporários e pode não indicar um cenário pessimista a longo prazo. Contudo, é preciso reconhecer que o consumo ainda é altamente dependente de subsídios governamentais, o que levanta a questão da sustentação desse crescimento.

As reações do mercado financeiro também refletem essas incertezas. Recentemente, o índice de ações blue chip da China caiu 0,37% e o índice Hang Seng de Hong Kong caiu 0,57%. Such movimentos no mercado são muitas vezes prenúncios de reações às percepções de riscos econômicos e incertezas diante das políticas húmidas governamentais.

Perspectivas futuras: ajustes na política econômica

Com essas preocupações em mente, os tomadores de decisão na China começaram a esboçar seus planos para 2025, conscientes de que um Trump reeleito exigirá respostas rápidas a um cenário econômico já debilitado. Recentemente, um oficial do banco central da China afirmou que a instituição procura espaço para diminuírem as reservas que os bancos devem manter, um sinal de que medidas para aumentar o fluxo de crédito estão em pauta. No entanto, o crescimento lento da demanda por crédito indica que os estímulos até agora implementados podem não ter o impacto desejado na recuperação econômica.

Parte dos desafios enfrentados é a crise habitacional que vem se arrastando por anos, além de uma falta de confiança do consumidor, uma vez que cerca de 70% das economias das famílias estão vinculadas ao mercado imobiliário. Essa interdependência entre os setores causa um efeito dominó dentro da economia, complicado ainda mais pela incerteza global.

Embora existam sinais positivos, como o leve aumento nos preços novos de imóveis, que caíram no ritmo mais lento em 17 meses em novembro, muitos especialistas acreditam que ainda é prematuro afirmar a recuperação do setor. Se o setor imobiliário, que em seu auge representava 25% da economia, não for estabilizado, as chances de atingir a meta de crescimento de cerca de 5% para o próximo ano, que conselheiros de políticas já recomendaram, ficam comprometidas.

As previsões de crescimento para a China em 2025 variam, e uma recente consulta do Reuters estimou um crescimento de 4,5%, com novos impostos que poderiam levar a uma redução de até 1 ponto percentual nas taxas de crescimento. Em resposta a essas incertezas e a caminho de estabelecê-las em suas políticas, a Moody’s Ratings aumentou sua previsão de crescimento do PIB da China para 4,2%, de 4% para 2025.

Na Conferência Central de Trabalho Econômico (CEWC), que define a agenda econômica da China, os principais líderes do país prometeram elevar o déficit orçamentário, emitir mais dívida e priorizar as políticas para aumentar o consumo, marcando uma mudança na postura governamental após 14 anos. Essa discussão ilustra não apenas a preocupação em relação ao desenvolvimento econômico, mas também um caminho claro em direção a uma abordagem mais sustentável.

Além disso, os compromissos feitos em reuniões anteriores do Politburo reiteram uma política monetária “apropriadamente solta”, uma mudança que visa estimular finalmente o consumo e a recuperação econômica que perdurou por muito tempo, mas ainda carece de eficácia efetiva.

Por fim, o economista Julian Evans-Pritchard, do Capital Economics, acredita que a desaceleração observada em novembro deve ser temporária e que o crescimento pode retomar nos próximos meses, resultante do estímulo governamental. Contudo, ele exorta cautela, afirmando que os estímulos atuais podem não se traduzir em melhorias substanciais, especialmente considerando que a força da demanda por exportação pode não sustentar-se quando Trump implementar suas ameaças tarifárias de forma mais agressiva.

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