Mamoudzou, Mayotte — O presidente da França, Emmanuel Macron, embarcou em uma significativa visita à ilha de Mayotte, no Oceano Índico, na quinta-feira, com o objetivo de inspecionar os estragos causados pelo ciclone Chido, que devastou a região e deixou milhares de habitantes sem necessidades básicas, como água e eletricidade. Essa é uma das piores calamidades naturais enfrentadas pelo território francês e seu impacto já pode ser sentido em cada canto da ilha. A tragédia ocorreu no último sábado, e a força do fenômeno foi considerada a mais intensa dos últimos cem anos.

Logo ao desembarcar, Macron foi recebido por Assane Haloi, um agente de segurança do aeroporto, que expressou a dura realidade da situação: “Mayotte está demolida.” Com filhos pequenos e sem acesso a água ou eletricidade, Haloi explicou que sua família se vê em uma situação desesperadora, sem abrigo, após o ciclone ter devastado suas casas e comunidades. As palavras dele ecoam a desesperança de muitos, que se veem lutando por recursos essenciais.

Destruição em Mayotte após o ciclone Chido
Destroços de telhas, madeira, móveis e pertences são vistos após a passagem do ciclone Chido em Mayotte, 15 de dezembro de 2024.
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Por toda a ilha, as marcas da destruição são devastadoras. Uma residente desabafou sobre a precariedade da situação: “Não há telhado, nada. Sem água, sem comida, sem eletricidade. Estamos todos molhados, tentando nos abrigar como podemos para conseguir dormir,” implorando por ajuda emergencial. A cena que Macron encontrou ao sobrevoar as áreas afetadas de helicóptero foi de desolação, levando-o a visitar o hospital de Mamoudzou, a capital da ilha, onde se encontrou com pacientes e médicos, consternado com a realidade enfrentada pela população local.

Em um gesto simbólico, Macron usou um lenço tradicional de Mayotte enquanto ouvia atentamente as queixas dos cidadãos. Entre as histórias contadas, um membro da equipe médica revelou que algumas pessoas estavam sem água potável há 48 horas. Para muitos, a incerteza sobre o futuro é angustiante, especialmente para as famílias que ainda não sabem sobre o paradeiro de entes queridos, parte devido à prática muçulmana de sepultar os mortos dentro de um período de 24 horas.

Presidente Macron em visita a pacientes em Mayotte
O presidente francês Emmanuel Macron conversa com a equipe médica na unidade de terapia intensiva do Centro Hospitalar de Mayotte em Mamoudzou, 19 de dezembro de 2024.
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Em antecipação à situação crítica, a deputada de Mayotte, Estelle Youssoufa, descreveu a situação como sendo de “graves fossas abertas” e destacou a falta de socorristas para recuperar os corpos que não foram encontrados. O presidente francês reconheceu que muitos óbitos não foram reportados, e prometeu que os serviços telefônicos seriam restaurados “nos próximos dias” para que as pessoas pudessem relatar seus entes queridos desaparecidos.

A tragédia bate à porta das autoridades francesas, que informaram que até agora pelo menos 31 mortes foram confirmadas, com mais de 1.500 feridos, dos quais mais de 200 em estado crítico. Contudo, muitos temem que os números sejam consideravelmente mais elevados. Abdou Houmadou, um morador de 27 anos, expressou sua frustração, enfatizando que a visita do presidente não substitui a assistência imediata necessária. “Senhor presidente, o que eu gostaria de dizer é que o dinheiro gasto com sua viagem de Paris a Mayotte poderia ter sido melhor empregado para ajudar o povo,” desabafou.

Por outro lado, outros moradores, como Ahamadi Mohammed, acreditam que a presença de Macron pode trazer benefícios: “Acho que é algo bom, pois ele poderá ver pessoalmente os danos.” Ahamadi se mostrou esperançoso de que tal visita possa resultar em ajuda significativa para a recuperação da ilha.

Visita de Macron ao Centro Hospitalar de Mayotte
O presidente Emmanuel Macron (C-E), acompanhado por autoridades locais, visita o Centro Hospitalar de Mayotte em Mamoudzou.
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Em resposta ao desastre, o escritório de Macron anunciou que quatro toneladas de alimentos e ajuda médica, além de equipes de resgate adicionais, estavam a bordo do voo presidencial. Uma embarcação da marinha francesa estava programada para chegar a Mayotte na mesma quinta-feira com outras 180 toneladas de assistência e equipamentos. As comunidades mais prejudicadas, como os habitantes da grande favela nos arredores de Mamoudzou, enfrentam a realidade de terem perdido casas e amigos, despedaçados pela força do desastre natural.

Naquela fatídica noite em que o ciclone atingiu a ilha, Nassirou Hamidouni se abrigou em sua casa. Infelizmente, perdeu um vizinho, que foi esmagado quando sua casa desabou com seus seis filhos dentro. Hamidouni e outros moradores imediatamente começaram a cavar pelos escombros em busca de sobreviventes. O pai de cinco filhos encontrou sua própria casa igualmente destruída e começou o duro processo de reconstrução. Acredita que o número de mortos é muito maior do que as autoridades afirmam, dadas as perdas que presenciou. “Foi muito difícil,” ele comentou, refletindo sobre a tragédia que abalou sua comunidade.

Situada entre a costa leste da África e o norte de Madagascar, Mayotte é considerada o território mais pobre da França. O ciclone choveu terror em toda a ilha, devastando bairros inteiros e deixando uma marca indelével na história da região. Embora as autoridades tenham emitido alertas, muitos residentes ignoraram as advertências, subestimando a força da tempestade que se aproximava.

Com uma população estimada em mais de 320.000 habitantes, composta na sua maioria por muçulmanos, Mayotte enfrenta também um desafio adicional no que diz respeito à migração. Estima-se que cerca de 100.000 migrantes vivem na ilha, advindo principalmente das ilhas vizinhas. Vale lembrar que Mayotte é a única parte do arquipélago das Comores que decidiu permanecer sob a administração francesa durante um referendo realizado em 1974. Em tempos recentes, o território tem visto uma intensa onda de imigração, destacando a fragilidade social e econômica que permeia a vida de seus habitantes.

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